Alternate reality game (ARG) e Storytelling



Em algum momento em nossa discussão sobre Storytelling Interativo, com certeza acabaríamos falando sobre ARG's. Estes jogos são uma das formas de entretenimento emergentes da Internet com um poder de engajamento espetacular. Afinal como o próprio nome diz, eles moldam a realidade de maneira a envolver os participantes em um game.

Se você ainda não conhece ou sabe o que é um ARG vamos ver uma definição rápida da Wikipédia: Um alternate reality game (ARG) é um tipo de jogo eletrônico que combina as situações de jogo com a realidade, recorrendo às mídias do mundo real, de modo a fornecer aos jogadores uma experiência interativa.


Para que tudo isso funcione, sua produção do ARG é dirigida pelo mantra TINAG - This Is Not a Game , que ficou famoso quando os primeiros grandes cases surgiram. Mas nos últimos anos parece que não se produz mais coisas do tipo,  talvez por conta de seu caráter dispendioso (não só de dinheiro, mas de tempo e produção) ou que não tem dado muito certo ( por conta de uma má produção mesmo)

Mas o que torna a produção de um ARG difícil? 


Antes de responder isso, vamos entender o que acontece em um ARG.  Wendy Despain da IGDA define isso da seguinte maneira:  "[...] usam todos os elementos da era da Internet para criar uma experiência de entretenimento totalmente nova".  Depois ela completa o raciocínio no terceiro livro da IGDA falando sobre o trabalho que é construir uma realidade alternativa. Afinal é essa realidade que deve hospedar as pessoas, se tornando players.

Percebemos então dois aspectos que respondem a questão acima: Precisamos criar uma realidade alternativa e desenvolver mecânicas de jogos que funcionem no mundo real como portas para essa realidade.  Os jogadores precisam desbravar a narrativa, encontrar pistas e seguir em frente no fluxo da história/jogo e que acompanha este blog sabe que quanto mais intensa e profunda for a narrativa, maior é a imersão- sim, é aí que entra o Storytelling.

Olhando para dois grandes ARGs que fizeram bastante sucesso podemos entender melhor isso. No case do ARG Batman (desenvolvido para o primeiro filme), ainda que o jogo aconteceu antes do lançamento no cinema, temos uma figura mitológica já difundida há décadas para o grande público.  Aliás, não apenas uma... quem não gostaria de se encontrar com o Coringa, na praça para ver qual estrago ele faria no seu mundo real?


No caso do ARG The Beast, criado para o lançamento do filme AI: Inteligência artificial os desenvolvedores do jogo precisaram não apenas criar um universo de histórias, mas também tiveram o esforço para que seus jogadores o conhecessem bem enquanto se envolviam em investigações. Segundo a reportagem da Folha de São Paulo, foram cerca de quase 100 profissionais, entre roteiristas, designers e atores. Um tempo curto de produção requer todo esse pessoal, a gente sabe que criar um universo inteiro para narrar uma história é algo que pode levar anos (como no caso do G. R. Martin ou Tolkien) se você fizer isso sozinho.


Além desses aspectos de um ARG, precisamos levar em conta o fato de que ele acontece em tempo real e produzir os desafios e a mecânica do jogo para isso deve acompanhar o ritmo, em muitos casos a equipe deve captar o feedback dos jogadores em tempo real e saber o que está funcionando ou não em seu planejamento e alterá-lo conforme o ARG acontece.  Lee Sheldon que é roteirista de TV, Games e professor universitário de NY ressalta esse aspecto em seu livro Multiplayer Classroom, ele diz que projetar um ARG em tempo real conferiu-o "um nível de flexibilidade e velocidade de implementação semelhante a improvisação". 


Qual o caminho para bons ARGs? 


Responder essa questão diretamente pode ser uma tremenda armadilha. De fato em muitos outros storytelling games como RPGs, FPS e RTS desenvolver um mundo de jogo consistente e profundo aumenta as chances dos jogadores imergirem no conteúdo narrativo e quebrar o círculo mágico levando aquele conteúdo para as suas vidas.  Também sabemos que as mitologias sustentam qualquer realidade.  Então fica um pouco claro que se um ARG quer funcionar como deve, ele precisa fazer as pessoas desenvolverem uma suspensão da realidade através de um bom mito com histórias bem contadas.

E quando a gente fala em contar bem uma história, o "telling", não podemos esquecer das características particulares do meio.  Continue acompanhando nossos posts sobre Storytelling e Games aqui :) 




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