O Espectador em Terapia

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Logo após terminar minha pós-gradução veio aquele dilema. Qual seria o próximo passo da minha vida acadêmica? Mestrado? Curso no exterior? Uma graduação exótica e complementar? Era 2005 e havia um mundo de possibilidades, mas escolhi investir tempo e dinheiro em terapia.

Há quem diga que eu tenho um parafuso a menos, mas garanto ser uma loucura saudável. Naquela época não havia uma grande crise, nem mesmo um surto, que justificasse essa decisão. Mas estava na hora de parar um pouco os estudos em comunicação, marketing ou seja lá o que fosse, e investir em uma jornada de autoconhecimento. Não adiantava continuar estudando sem saber o que eu realmente queria para a minha vida, por isso encarei o desafio como uma pós-graduação em mim mesmo.

É verdade que namorar uma psicanalista tenha ajudado a dissolver alguns preconceitos. Aliás, há poucas coisas tão carregadas de preconceito quanto o processo de terapia. O divã, o tempo de sessão, o preço da consulta e o fato do paciente escancarar sua vida à um estranho são algumas das coisas que causam arrepios para a maioria das pessoas. Mas o maior medo, sem dúvida, é conhecer a si mesmo. Não é à toa que a mente humana cria tantos bloqueios e ilusões.

Não sei se é necessário que todo mundo passe por isso, mas recomendo a psicanálise para quem tiver sede de autoconhecimento. E se você ainda tiver muitos preconceitos, recomendo dar uma olhada antes em In Treatment, série de TV magnificamente produzida pela HBO.


A história se passa durante 9 semanas na vida do terapeuta Paul Weston, que a cada dia, de segunda a quinta, atende um paciente e, na sexta-feira, tem sessões com sua ex-mentora para poder falar um pouco de si mesmo.

A série tem algumas peculiaridades, como o fato de ter sido exibida diariamente nos Estados Unidos, e não uma vez por semana como é praxe. Outra novidade é que 95% dos episódios se passam em dois cenários, o consultório de Paul e o de Gina, sua ex-mentora, onde os personagens apenas conversam. As vezes gritam, xingam, choram, mas não há explosões, efeitos especiais, lutas fabulosas ou teorias da conspiração. O único mistério da série é o próprio ser humano. E precisa mais?

Os mais ortodoxos devem pensar que esses são os ingredientes para uma história chata e parada, do tipo que faz dormir no sofá, mas garanto que não (e muitos críticos endossam). In Treatment é uma das coisas mais legais que surgiu na TV nos últimos tempos, uma verdadeira aula de construção de personagens, a multidimensionalidade da vida na essência.

Depois de ver os 43 episódios da 1ª temporada (e parece que vem uma 2ª temporada ano que vem) fiquei pensando que In Treatment é uma dessas histórias que tem uma função muito maior do que o entretenimento. Acompanhar a jornada de cada um dos pacientes, e principalmente a do doutor Paul Weston não só faz com que o espectador pense sobre sua própria vida, como provavelmente deve ter sido o gatilho para que muitos vencessem barreiras e preconceitos e iniciassem suas próprias terapias.

Se eu fosse de uma associação de classe como o próprio CRP (Conselho Regional de Psicologia), bancaria uma produção dessas para que mais pessoas pudessem conhecer melhor os benefícios desse trabalho.

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  1. Não penso a análise como essencialmente um processo de auto-conhecimento. Acho que o maior benefício é, sem dúvida, liberdade. Auto-conhecimento é só um bônus. Até porque nem tudo precisa ser conhecido, algumas coisas são suficientes quando simplesmente vividas...E sobre preconceito X marketing, acho que tem algo, que é propriamente analítico, que sobrevém a este "binômio", chamado resistência. E sobre ela, pouco se pode fazer fora do setting. Então tendo a achar que a propaganda não é muito eficaz nesse caso, mas posso vir a mudar de idéia. Quem sabe um certo publicitário não acaba me convencendo?

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  2. O autoconhecimento não vem pra todos da mesma maneira e, às vezes, preferimos viver confortavelmente nas ilusões, como você mesmo disse, a mente cria os bloqueios.

    Fiquei curiosa com o seriado In Treatment. Vou assistir.

    Trabalho sim com publicidade, mas não como redatora, apenas colo figurinhas. Hehe!

    bjs
    Berenice

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