Pausa Filosófica

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Baseado em uma entrevista do psicanalista e escritor Contardo Calligaris, de quem sou assumidamente fã, Gustavo Mini, músico e publicitário, escreveu um post muito interessante em seu blog Conector.

Mini e Calligaris dissecam as histórias de nossas vidas, aquelas que a gente se conta, e que os outros contam da gente. As narrativas que, de uma forma ou de outra, dizem um pouco sobre quem somos nós.

Traduzindo com palavras próprias, para o Calligaris somos, além de carne e osso, também um tanto de obra de ficção. Mini pega bem o espírito da cposa quando faz uma analogia com os perfis de Orkut e outras redes sociais. Quando nos cadastramos em um serviço desse tipo não dá para dizer absolutamente tudo de nós mesmos. Oras, aposto que nem você sabe tudo de você mesmo. Então escolhemos um recorte para contar a história.

É como naquela situação onde você tem pouco tempo para se apresentar a outra pessoa. Quem é você? Qual sua profissão? Do que gosta? De onde veio e para onde vai? Essas escolhas implicam em recortar a realidade, transformando-a em um pedacinho de ficção. E de repente isso vai crescendo e se confunde com quem você realmente é. É o caso daquela mentirinha boba que a gente começa a se contar e, gradualmente, vai se tornando realidade. Vida e ficção.

Todo esse papo para chegar em outro assunto. Por que tratamos de nossas vidas como se fossem obras de ficção? O motivo é que conhecemos o mundo por meio delas. A ficção está aí para, dentre outras coisas, emular a vida. O mais próximo que podemos chegar de viver algo sem realmente viver é ter contato com isso por meio de uma ficção.

Ninguém chega à situação do primeiro beijo sem antes ter tido contato com um grande número de histórias sobre primeiros beijos. Seja na literatura, no cinema ou mesmo nas conversas com primos mais velhos, acabamos assimilando partes da experiência para que, quando ela chegar de verdade, seja menos traumática.

Desde pequenos ouvimos nossas mães contando histórias antes de dormir porque, de certa forma, assim elas nos preparam para a vida, para sensações, sentimentos e situações com as quais teremos que lidar alguns anos depois.

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