CARNAVAL PATROCINADO E STORYTELLING



No Carnaval carioca deste ano, chamou a atenção uma forma de patrocínio que parece estar substituindo o antigo modelo sustentado pelo Jogo do Bicho. Dez das 12 escolas de samba tiveram dinheiro da área de marketing institucional para transformar suas ideias em desfile na Marquês de Sapucaí. No orçamento, houve desde verba corporativa à de países como Alemanha e Coreia do Sul.

De acordo com especialistas do samba e a imprensa de modo geral, um fator importante contribuiu para o sucesso da campeã, Unidos de Vila Isabel, foi a composição de um samba-enredo sem forçar demais a barra para o lado do patrocinador. O desfile contou sobre as manifestações culturais do Brasil rural e a canção não se prendeu a expressões que mais parecessem publicidade do que Carnaval.

Foi diferente da Unidos do Porto da Pedra, em 2012, que cantou “Leveza, o equilíbrio se traduz em beleza/ Do dia a dia me refaz/ Iogurte é leite, tem saúde e muito mais”. Não precisa nem dizer que tipo de indústria patrocinou a escola. Além disso, convenhamos, os versos soaram mal aos ouvidos e devem até ter desconcentrado o passista de gosto minimamente apurado.

O desfile das escolas reúne coreografia, música, personagens, carros alegóricos e fantasias narrando uma história. A bateria e a letra dão o tom, sendo fatores preponderantes para empolgar o público no sambódromo.

Diante dos enredos patrocinados, o desafio dos compositores se assemelha cada vez mais aos storytellers que enveredam pelo mundo das organizações. Em várias situações, ambos precisam passar a sua mensagem com graça, adequando a linguagem e recorrendo ao “corporativês” somente quando muito necessário, ou apropriado.  

Assim, o maior sucesso do patrocinador ocorrerá caso o samba caia no gosto popular, sendo repetido pelo povo nos carnavais seguintes, por muitos e muitos anos. Vai saber. Como será o amanhã? Responda quem puder. 

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