Uma Nova Moral nos Contos de Fada

Para muitos de nós, as primeiras histórias que ouvimos são eles: os Contos de Fadas. SaÃdos da boca da vovó ou vistos em um filme da Disney, esses contos nos levavam a mundos inéditos e nos transportavam de descoberta em descoberta, nos fazendo atravessar a realidade de um mundo dominado por adultos.
É difÃcil pensar em alguma
literatura atual que se iguale ao entusiasmo e à revelação daqueles primeiros
dez anos. Quero dizer, acho que muitas pessoas agiriam de forma diferente se a
Bela não tivesse se casado com a Fera, se Aurora não fosse acordada por seu
prÃncipe encantado, ou se a Pequena Sereia não fugisse para o mundo da
superfÃcie. Os Contos de Fadas não só nos serviram como entretenimento, mas
moldaram nosso comportamento.
Nesse ano, porém, tive uma
surpresa. Não sei se boa ou ruim ainda, mas definitivamente uma surpresa. Pesquisando-os
em suas versões originais, escritos por grandes mestres como Perrault,
Andersen, os irmãos Grimm, entre outros, descobri que os Contos de Fada
beiravam ao sadismo e à crueldade: a Bela tinha duas irmãs que foram
transformadas em estátuas vivas depois que ela se casou com a Fera; a Bela
Adormecida original é uma história de estupro (enquanto a moça dormia, um rei
transa com ela e nove meses depois ela acorda dando à luz); a Pequena Sereia
não fica com o prÃncipe no final, ela simplesmente morre após inúmeros
sofrimentos. Seriam essas histórias próprias para crianças? Não, não seriam.
E foi então que eu descobri mais
uma coisa: os Contos de Fadas originais não eram histórias para crianças. Em
sua maioria, eram história para entreter camponeses pobres. Eram praticamente o
seriado mais popular de uma época onde não existia quase nenhum tipo de mÃdia
que não fosse o boca-a-boca.
Mas então, por que foi que nós as
conhecemos de um modo tão diferente quando éramos crianças? O que aconteceu foi
uma mudança no “telling” do “storytelling”. Uma coisa que as vovós e a Disney
dominaram com maestria para nos contar histórias de contos um tanto quanto perversos,
maldosos e de morais questionáveis para a atualidade. Os contos continuaram os
mesmos. O que mudou foi a forma como foram contados.
Quando era pequeno, Contos de
Fadas me ensinaram a não julgar as pessoas pela aparência, a ser justo, a ser
corajoso, a correr atrás dos meus sonhos e a sonhar. Hoje, os Contos de Fadas
me ensinaram uma outra coisa muito importante: que o “telling” é tão importante
quanto o “story” dentro de “storytelling”.
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