Uma Nova Moral nos Contos de Fada

https://www.storytellers.com.br/2013/09/uma-nova-moral-nos-contos-de-fada.html

Para muitos de nós, as primeiras histórias que ouvimos são eles: os Contos de Fadas. Saídos da boca da vovó ou vistos em um filme da Disney, esses contos nos levavam a mundos inéditos e nos transportavam de descoberta em descoberta, nos fazendo atravessar a realidade de um mundo dominado por adultos.
É difícil pensar em alguma
literatura atual que se iguale ao entusiasmo e à revelação daqueles primeiros
dez anos. Quero dizer, acho que muitas pessoas agiriam de forma diferente se a
Bela não tivesse se casado com a Fera, se Aurora não fosse acordada por seu
príncipe encantado, ou se a Pequena Sereia não fugisse para o mundo da
superfície. Os Contos de Fadas não só nos serviram como entretenimento, mas
moldaram nosso comportamento.
Nesse ano, porém, tive uma
surpresa. Não sei se boa ou ruim ainda, mas definitivamente uma surpresa. Pesquisando-os
em suas versões originais, escritos por grandes mestres como Perrault,
Andersen, os irmãos Grimm, entre outros, descobri que os Contos de Fada
beiravam ao sadismo e à crueldade: a Bela tinha duas irmãs que foram
transformadas em estátuas vivas depois que ela se casou com a Fera; a Bela
Adormecida original é uma história de estupro (enquanto a moça dormia, um rei
transa com ela e nove meses depois ela acorda dando à luz); a Pequena Sereia
não fica com o príncipe no final, ela simplesmente morre após inúmeros
sofrimentos. Seriam essas histórias próprias para crianças? Não, não seriam.
E foi então que eu descobri mais
uma coisa: os Contos de Fadas originais não eram histórias para crianças. Em
sua maioria, eram história para entreter camponeses pobres. Eram praticamente o
seriado mais popular de uma época onde não existia quase nenhum tipo de mídia
que não fosse o boca-a-boca.
Mas então, por que foi que nós as
conhecemos de um modo tão diferente quando éramos crianças? O que aconteceu foi
uma mudança no “telling” do “storytelling”. Uma coisa que as vovós e a Disney
dominaram com maestria para nos contar histórias de contos um tanto quanto perversos,
maldosos e de morais questionáveis para a atualidade. Os contos continuaram os
mesmos. O que mudou foi a forma como foram contados.
Quando era pequeno, Contos de
Fadas me ensinaram a não julgar as pessoas pela aparência, a ser justo, a ser
corajoso, a correr atrás dos meus sonhos e a sonhar. Hoje, os Contos de Fadas
me ensinaram uma outra coisa muito importante: que o “telling” é tão importante
quanto o “story” dentro de “storytelling”.
Gostei da citação de que certos contos podem não ser pra crianças, já que a gente vê muita coisa imprópria, como morte, violência gratuita, inspirações de magia negra... tudo isso a gente encontra em histórias que parecem "inocentes" e "Bobas", como A Branca de Neve.
ResponderExcluirE hoje em dia já virou moda fazer filmes dessas histórias velhas com toques mais horrendos e macabros que as originais.
Teu artigo é um bom alerta a todos nós.
Fica a dica para os pais e professores tomarem muito cuidado com o que as crianças estão lendo, assistindo e jogando!
O título do artigo não é lá muito verdadeiro...
ResponderExcluirPois os contos de fada, em suas primeiras publicações, já dispunham de uma moral bem particular e adulta.
A "nova" moral desses contos, no caso, seria o que empresas como a Disney propuseram, adaptando os textos originais e "suavizando" seus conteúdos para melhor apresentar a um público infantil.
Convém lembrar que a revista BRAVO!, edição de Outubro de 2012, já abordou de modo mais abrangente e completo este tema, com o artigo "Infância apimentada". Vale a pena conferir o artigo da revista, que pode ser encontrado no link:
http://bravonline.abril.com.br/materia/infancia-apimentada#image=182-li-grimm-j-borges-1
Caro Marcelo, o título diz que é a moral é nova em contraposição à "antiga moral" e o texto explica justamente isso.
ExcluirVale ressaltar que não foi a Disney que iniciou o processo de "higienizar" as narrativas orais. Mais de um século antes de nascimento de Walt, um francês reescreveu muitas passagens de Uma Noite e Mil Noites antes de apresentar à Europa a versão que ficou conhecida como As 1001 Noites.
Obrigado pela participação e por compartilhar o link da saudosa Bravo.
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