PLOTTER, O ARQUITETO NARRATIVO


Douglas Adams 
Eu não lembro exatamente quando eu comecei a escrever, o que eu lembro de verdade são das folhas de caderno da escola que intercalavam contos pela metade, frases de efeito e poesias de adolescente com as matérias que eu copiava da lousa dos professores. Me lembro de como era (ainda é, na verdade) bom ficar  acordado de madrugada com a janela aberta como se a inspiração entrasse junto do vento fresco. Escrever era um exercício terapêutico entre eu e a inspiração e quando ela não vinha as folhas em branco eram preenchidas de extensas reclamações sobre como escrever era difícil. 


J. R. R. Tolkien
Dizem por ai que há dois 'tipos' de escritores (incluo redatores, jornalistas, roteiristas...): os Pantsers e os Plotters. Eu, em minha adolescência era um pantser, ou seja, aquele cara que senta na frente do computador, ou do caderno e começa a escrever, tudo vai para a folha do jeitinho que sai da cabeça. Você segue o seu texto até chegar em algum lugar e decidir que aquele era o final. Sem planejamento prévio, ou póstumo, um pantser escreve quase que pela "intuição". 

Hoje, cada vez mais me torno um plotter, ou seja, o tipo de cara que desenha a 'planta' da narrativa antes mesmo de ir colocar qualquer palavra no papel. Jornada do personagem, calendário da narrativa (com datas comemorativas selecionadas), às vezes até árvore genealógica, além é claro de mapas astrais simples e um breve histórico pessoal e profissional de cada um dos personagens. O plotter é o cara que escreve em desenhos, rabiscos, guardanapos, é o cara que demora uma semana por frase, um tipo meio obcecado de escritor. 

Antes que me julguem, não há nada de errado com nenhum dos dois, na verdade, cada um tem a sua vantagem e a sua desvantagem. O pantser por exemplo, pode ser mais autêntico, ter mais facilidade de encontrar um estilo, mas ao mesmo tempo corre sérios riscos de se perder na própria história e nunca encontrar o caminho para o fim. O plotter, em contrapartida, é o chato, o perfeccionista que pode demorar anos para começar a escrever uma história e décadas para terminá-la, mas ao mesmo tempo o plotter tem a vantagem de sempre saber pra onde a história está indo, mesmo que desvie no meio do caminho, ele já sabe por onde voltar. 

Você quer ver a diferença de dois trabalhos geniais, um de um dos maiores plotters conhecidos e o outro de um pantser que escreveu uma trilogia de 5 livros? Leia Senhor dos anéis e o Guia dos Mochileiros das Galáxias e compare o trabalho de Tolkien, tão plotter que criou idiomas e mapas para o seu mundo fictício, com o trabalho de Douglas Adams, tão pantser que precisou escrever mais dois livros para chegar no final do que deveria ser uma trilogia. Ambos são excelentes trabalhos, mas a diferença entre um e outro é fácil de ver, ou melhor ler. 

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  1. Gostei muito do artigo. Eu escrevi 3 livros ainda não editados completamente no estilo Pantiser que meu lado Plotter [que veio com a maturidade] pretende rescrever. =)

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