A GUERRA CONTRA A REALIDADE

Você pode não acreditar, mas estamos em uma guerra contra a realidade. E nessa guerra, a imaginação é nossa única arma.





A realidade é uma merda. É chata, sem graça e muitas vezes cruel. Tem momentos bons e divertidos, claro, como todo tirano que distorce sua face diante das massas. Mas a natureza da realidade é de aprisionamento e decepção.

As notícias dos jornais falam de misérias. Alguns amigos se afastam, arrebentam-se algumas esperanças. No rastro dos nossos fracassos, chega a angústia endemoniada

Todos os dias nós nos sentamos na frente de máquinas para trabalhar. Trabalhamos pelo menos cinco dias por semana para aproveitar dois, e olhe lá. Trabalhamos vendo o sol pelo lado de dentro de blocos de concreto, desejando estarmos em outro lugar. Comemos e dormimos sabendo que o dia seguinte vai ser a mesma coisa. 

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. (Charles Chaplin, O Grande Ditador)





E quem nos persegue nessa guerra é o tempo, o maior aliado da realidade. O tempo do relógio, o que nos escraviza nas repartições, e o outro: o tempo comum a todos nós, espectadores dos grandes desassossegos da ambição universal que, às vezes, assume a forma de massacres, guerras, explosão de ódios, como espasmos epiléticos da humanidade. O tempo é um calhorda, tanto serve a Deus quanto ao Diabo. Você está rindo, mas eu lhe digo: o tempo é um assassino perigoso. Mata a mocidade, desejos, amizades, depois, na velhice, dá o golpe final no que resta de nós (As Feras Mortas, Maximiano Campos).

O tempo nos persegue e a realidade nos aprisiona. Mas muitas vezes eu consigo escapar. E lhe digo como. Eu abro um livro. Ou vejo um filme. Ou jogo algum jogo de vídeo game. É assim que eu fujo da realidade e começo a minha luta contra ela. Vou para um lugar bem distante, onde o tempo não me persegue, mas me serve. Um lugar onde não me preocupo com as responsabilidades do dia seguinte, com dieta, com meus relacionamentos ou com nada dessas correntes. Um lugar onde imagino a vida que queria ter e o mundo onde eu queria viver. E quando volto de lá, estou preparado para a guerra. Volto pronto para enfrentar a realidade, e não para me render a ela. Volto pronto para transformar tudo ao meu redor.

Enquanto histórias forem criadas, a realidade estará comprometida. Enquanto histórias forem contadas, a realidade estará ameaçada. E enquanto a realidade estiver comprometida e ameaçada, ela poderá ser moldada à nossa vontade. É por isso que eu crio histórias. É por isso que eu conto histórias. E é por isso que eu te peço para fazer a mesma coisa. 

Na guerra contra a realidade, a imaginação é a nossa única arma. E eu te peço para usá-la!


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