AS LIÇÕES DA TELENOVELA: EPISÓDIO 1

Nossas sĂ©ries ainda engatinham. Nossos filmes, vezes deslancham, vezes encalham. Nossos livros atĂ© andam, em cĂ­rculos.

Gostemos ou nĂŁo, o formato de histĂłria que Ă© a cara do Brasil ainda Ă© a telenovela. Complexo de vira-lata Ă  parte – temos muito o que aprender com as novelas brasileiras. Esse Ă© o primeiro de 4 episĂłdios sobre as telenovelas brasileiras.


Quando o assunto Ă© novela, inevitavelmente, o assunto sĂŁo as novelas globais. Entre os grandes autores de telenovelas da Globo, Manuel Carlos Ă© um dos maiores. “Maneco”, como Ă© conhecido, assinou 15 novelas na carreira – e anunciou que deve parar por aĂ­. Entretanto, sua Ășltima novela, Em FamĂ­lia, nĂŁo termina com todo o prestĂ­gio que o autor merece.



1) DO PROTAGONISTA…
Conhecido por seus personagens fortes e suas “Helenas com H maiĂșsculo”, tĂŁo fortes como a de TrĂłia, a Ășltima novela de Manuel Carlos peca, justamente, em seus personagens.
A Helena vivida por JĂșlia Lemmertz Ă© uma protagonista sem personalidade, ressentida e apegada a seu amuleto – um colar de fĂȘnix. Se hĂĄ uma vertente de estudo de narrativas que afirma que protagonistas sĂŁo, em essĂȘncia, sem personalidade para que haja identificação com todo e qualquer tipo de espectador (Ă© o caso do Batman, por exemplo) – essa vertente nĂŁo se aplica Ă  Helena de Em FamĂ­lia.
NĂŁo Ă© Ă  toa que os Ășnicos lampejos de viralização que a personagem registrou foram nos episĂłdios em que ela “soltou a franga”.

2) AO ANTAGONISTA.
TambĂ©m conhecido como “vilĂŁo” para os Ă­ntimos, o papel do antagonista ficou vago na novela de Maneco. Se, na mesma vertente que afirma que protagonistas devem ser “fracos”, os vilĂ”es Ă© que sĂŁo interessantes e cheios de personalidade (que Ă© o caso do Coringa) – faltou um antagonista Ă  altura de Felix – da novela anterior. Shirley atĂ© tenta ser a sua versĂŁo feminina, mas atĂ© nessa versĂŁo FĂ©lix divertia muito mais o pĂșblico. Laerte atĂ© poderia ser um vilĂŁo e tanto, e ajudar a dar mais vida a protagonista, mas Ă© previsĂ­vel.

Entre outras crĂ­ticas sites e revistas Ă  fora, como o conto-de-fadas gay criado pela reprovação do pĂșblico ao casal, ou a trilha-sonora fraca em relação a outras novelas de Manuel Carlos, a lição que Em FamĂ­lia deixa estĂĄ na construção de personagens. Personagens sĂŁo a soma de personalidade e ação. Sem bons personagens, nĂŁo hĂĄ histĂłria que se mantenha - quanto mais em horĂĄrio nobre.