BACKSTORY - a parte da história que ninguém vê é a que mais importa
Duas décadas atrás. Às 2h47 da manhã, quebrando a cabeça para transformar marca em personagem e slide em teatro, descobri algo perturbador: estava contando a história errada.
Sabe aquele momento em que você percebe que está tentando começar a ver um seriado pelo terceiro episódio da quarta temporada?
Foi exatamente isso que entendi, na prática.
Backstory é coisa de bastidores
Todo personagem memorável tem um segredo.
Luke Skywalker não sabia quem era seu pai. Harry Potter viveu debaixo da escada sem saber que era bruxo. Walter White era professor de química antes de virar Heisenberg.
E sua marca?
Qual é o segredo dela?
"Backstory não é o que aconteceu. É por que ainda importa."
No storytelling tradicional, backstory é tudo aquilo que aconteceu antes do "Era uma vez...". É a história por trás da história. O iceberg submerso que sustenta a ponta visível.
Aristóteles já sabia disso em 335 a.C.
Nós esquecemos.
Do writer's room ao boardroom
Algo fascinante aconteceu nos últimos 15 anos.
O backstory saiu de Hollywood e invadiu a Faria Lima.
Não foi acidente. Foi necessidade. As marcas descobriram que produtos são copiáveis. Preços são igualáveis. Mas histórias?
Histórias são impressões digitais corporativas.
Únicas. Intransferíveis. Impossíveis de plagiar.
A Nike não vende tênis. Vende a história de um treinador derramando borracha numa máquina de waffles às 3 da manhã.
E funciona.
Sabe por quê?
A neurociência da narrativa de origem
Nosso cérebro é uma máquina de significados.
Quando ouvimos fatos, ativamos duas áreas cerebrais: Broca e Wernicke. Processamento de linguagem. Pronto.
Quando ouvimos histórias?
O cérebro inteiro acende como árvore de Natal.
Córtex sensorial (se a história menciona texturas). Córtex motor (se descreve ações). Sistema límbico (emoções). É um show pirotécnico neural.
Por isso lembramos que Jobs começou numa garagem, mas esquecemos o faturamento da Apple no último trimestre.
A história gruda.
O dado escorrega.
ORIGEM: Framework para Construir Seu Backstory
Desenvolvi este framework depois de criar narrativas para dezenas de marcas icônicas:
O - Obstáculo inicial (Qual problema você resolveu?)
R - Revelação transformadora (Qual foi seu momento "aha"?)
I - Identidade dos fundadores (Quem são as pessoas por trás?)
G - Guinada decisiva (Qual escolha mudou tudo?)
E - Essência preservada (O que nunca mudou desde o início?)
M - Missão projetada (Para onde essa história aponta?)
Simples? Sim.
Fácil? Nem um pouco.
Os 7 Pecados Capitais do backstory corporativo
Aprendi isso em duas décadas de prática:
- Perfumar o fracasso - Omitir as dificuldades torna a história plástica
- Romantizar demais - Nem toda garagem vira Apple
- Esquecer os coadjuvantes - Grandes histórias têm elenco
- Começar pelo produto - Ninguém se emociona com especificação técnica
- Ignorar o contexto - Sua história aconteceu quando e onde?
- Forçar o extraordinário - Às vezes o comum é extraordinário
- Parar no passado - Backstory deve apontar para o futuro
Na prática a teoria é a mesma
Ter um backstory é como ter um diamante bruto.
Precisa lapidar. Precisa mostrar.
Nas redes: Serialização. Um capítulo por semana. #TBT com propósito. Stories que contam histórias.
No pitch: Comece com "Deixa eu te contar como chegamos aqui..." em vez de "Somos uma empresa de..."
Na cultura: Onboarding narrativo. Que todo funcionário novo conheça a lenda. Vire guardião da história.
Na publicidade: Cada campanha, uma temporada. Cada anúncio, um episódio.
Agora, tenho que dizer...
Nem toda história merece ser contada.
Se sua empresa nasceu apenas para dar lucro, sem dor real, sem propósito genuíno, sem personagens interessantes...
Talvez seja hora de criar uma história que valha a pena contar.
Começando hoje.
Plot Twist final
Lembra do roteiro que mencionei no início?
Transformamos 1248 slides em peça de teatro. Contamos a história de 4 marcas se transformando em 4 heroínas.
O presidente chorou.
O champagne estourou.
Não foi o PowerPoint. Foi o "Era uma vez..."
Sua vez
Toda marca tem uma história.
A questão é: você vai contá-la ou vai deixar que outros inventem uma por você?
O mercado não perdoa página em branco.
Se sua história precisa de um plot twist, se seus slides precisam virar teatro, se sua marca precisa de alma...
Vamos conversar. Toda grande narrativa começa com uma primeira linha.
P.S.: Ainda guardo o rascunho daquela madrugada. 1248 slides que nunca foram apresentados. Às vezes, o melhor PowerPoint é aquele que você tem coragem de não usar.
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