Sopa de Letrinhas

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Quero aqui compartilhar duas descobertas fresquinhas que fiz sobre um mesmo assunto. E legitimamente fresquinhas, vale dizer: são ligadas à exigente arte da gastronomia, e sim, chèri, vieram há pouco direto da França.
Ok, sem mais rodeios. Estou falando de um conceito a que em todo lugar do mundo recorremos muito freqüentemente: o restaurante. Você sabe como ele surgiu?
Até o século XVIII, restaurante não era um local público onde se serviam refeições, mas o nome de um prato em particular. Era o caldo restaurador, ou o bouillon restaurant, vendido em pequenos estabelecimentos (dizem que chamados "casas de saúde"), para debilitados que desejassem recuperar as forças e o ânimo. Imagino uma coisa meio pronto-socorro mesmo. Teve piriri? Em vez de um suculento pê-efe na taverna, tome um restaurante!
A mudança do significado da palavra deu-se com o tempo. E com a Revolução Francesa também. Depois que a poeira toda dos conflitos baixou, cozinheiros e serviçais da aristocracia não tiveram outra alternativa senão democratizar seus dotes e se lançar ao "suplício" do trabalho para o cidadão comum, ou morreriam eles de fome.
A partir daí nasceram não apenas restaurantes e chefs, mas uma nova cultura social, com direito inclusive a crítica; um prato cheio - e novo – para os intelectuais da época. É sobre eles, aliás, que trata a segunda novidade du jour.
A relação de escritores, jornalistas, filósofos e artistas com os restaurantes foi amor à primeira garfada: se não estivessem fazendo comentários e resenhas sobre eles, muito provavelmente estavam em suas mesas e balcões para trocar idéias, trabalhar ou simplesmente se entreter.
Saint-Exupéry, Pablo Picasso, Fernand Léger, André Breton, Hemingway, Sartre, Simone de Beauvoir, Jorge Luis Borges, Albert Camus, Umberto Eco e François Truffaut são apenas alguns dos que deixaram parte de suas histórias nos cafés e restaurantes da capital francesa, que por conta de sua presença constante hoje são conhecidos como "literários". Voilà a segunda descoberta.
O ator Pierre Brasseur na companhia de Jean-Paul Sartre no Café de Flore.
No coração do Quartier Latin, a área intelectual de Paris, alguns desses cafés e restaurantes literários ainda existem, como o chamado "triângulo de ouro das letras parisienses", formado por "Les Deux Magots", "Café de Flore" e a "Brasserie Lipp".
No Les Deux Magots é que Picasso teria conhecido sua amante Dora Maar,
apresentada pelo poeta francês Paul Éluard.

Nos seus salões e calçadas essas personalidades passa
vam dias inteiros, fazendo desses espaços suas casas, escritórios, pontos de encontro, salas de visita e de debate. Cinema, música, filosofia, teatro, artes e política eram os temas vigentes nesses locais, onde podiam se aquecer do frio e criar – muitas vezes entre amigos – outros e novos conceitos para o mundo conhecer e digerir.

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  1. Isso justifica a gente abrir mão de um escritório e passar a trabalhar no Starbucks né? ;)

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  2. Lógico! Ou abrir a nossa própria rede ;)

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  3. Dois anos depois eu vim ;)

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