TOQUE DE MĂGICA
Loving in an elevator… Livin’ it up when I’m going down
O Jet Lag praticamente não afetou sua animação. Pisar aquela terra encantada era ainda melhor do que sonhar deitado numa cama confortåvel. Era real. Acordou naquele dia especial, de férias, para realizar um sonho antigo, dos idos de sua infùncia sofrida. O sonho de conhecer a Disney.
Loving in an elevator… Lovin’ it up ‘til I hit the ground
Aprendeu com os filhos que esperar pelo presente podia ser melhor do que brincar com ele. O segredo seria permanecer ocupado. Aproveitar cada segundo. Sabia de antemĂŁo como desfrutar cada hora daquele dia tĂŁo aguardado.
I kinda hope we get stuck
Neste exato momento, ele estå numa missão. Mal aterrissa um pé e o outro decola. Estica a perna a cada passo.
Nobody gets out alive
Alcança a atração do Aerosmith. Ao invés de entrar na fila, desvia dela e estaciona em frente a uma banquinha vermelha. Falta mais de uma hora para o almoço e as crianças jå estão com fome... de pipoca. Enquanto a mãe ficou no brinquedo, o pai foi providenciar o desejo dos pequenos. Avistou uma jovem no balcão com cara de uns vinte anos. Cabelos negros estilo channel. Sua pele tinha cor de doce de leite. Esbelta, de rosto quadrado. Olhos grandes e penetrantes. Apesar de exótica, ou talvez até por isso, formava uma bela composição.
She said I’ll show you how to fax in the mailroom honey
Uma gota brotou no canto da testa, mas nĂŁo foi do calor. Habituado a blazer e gravata, vestir camiseta e bermuda era como ter um ar-condicionado a cĂ©u aberto. Ela abriu um sorriso inocente, convidativo. Um pouco destrambelhado, ele chegou ao balcĂŁo. “May I help you?” disse ela. Ele hesitou um pouco, mas depois desembestou a falar “ah meu santo pai. E agora, como Ă© que eu vou fazer isso? Olha aqui, moça, eu preciso de quatro pipocas... QUA-TRO… E mais refrigerante. SĂł que eu nĂŁo sei como pedir isso, nem sei quanto que vai custar essa brincadeira. Como Ă© que a gente vai fazer? Eu nĂŁo falo nadica de nada de inglĂȘs...” Com um sorriso maroto, ela retrucou “rĂĄ! Eu sou brasileira.”
And have you home by five
Tomado por uma emoção redentora, ele nĂŁo se conteve e abraçou a moça. Ela deu dois risinhos e continuou “entĂŁo sĂŁo as quatro pipocas... os refrigerantes sĂŁo grandes ou pequenos?” – “tudo grande; Ă© melhor sobrar do que faltar.”
In the air, in the air…
Se na noite anterior ele tivesse o mĂnimo vestĂgio do que estava pra acontecer, jamais teria perdido tanto tempo planejando. Simplesmente teria aproveitado mais com sua mulher. Ă uma rara ocasiĂŁo essa de as crianças ficarem em quartos distantes.
Honey one more time now it ain’t fair.
Ela disse “vai ficar por...”, mas ele interrompeu com a palma da mĂŁo estrelada, “pĂ©ra um pouco, minha filha, acho que ouvi meu celular...”. Levantou a camiseta, abriu a pochete e sacou o aparelho: “ĂĄ-aaaaalĂŽ.... tudo, tudo... e por aĂ? ...ĂŁhĂŁ... ...pĂ©ra, pĂ©ra, VOLTAR? Como assim, voltar?... e nĂŁo dĂĄ pra falar por telefone? ...mas estou de fĂ©rias... sim, estou viajando, Ă© meu primeiro dia aqui; tĂŽ com a minha famĂlia ...... ĂŁhĂŁ.... sim, eu entendi, mas.... ĂŁhĂŁ.... o CEZAR?! CEZAR GOLDMAN??? ...nĂŁo, tĂĄ, entĂŁo tĂĄ, nĂ©? ....Ă©, fazer o quĂȘ, nĂ©? Que horas Ă© o vĂŽo? ...mas jĂĄ?? ...conexĂŁo ainda por cima? ...Ă©, tambĂ©m sinto muito. TĂĄ, daqui a pouco estou aĂ.”
Goin’ doooooown!
“DĂĄ pra acreditar?” foi tudo o que PC conseguiu comentar. Num estado catatĂŽnico, ele pagou, acomodou as guloseimas entre os braços e agradeceu. A jovem achou melhor abortar o protocolo e poupĂĄ-lo do script “Have a Magical Day.” Dois passos adiante, ele pensou alto “e agora, como Ă© que eu vou contar isso pra Regina?”. A jovem, esperta, logo comentou como quem nĂŁo quer nada “seja positivo... lembre-se: vocĂȘ estĂĄ num reino encantado!”. Ele arqueou as sobrancelhas, “hmm”, acenou e disse “Ă©, talvez vocĂȘ esteja certa. Obrigado por tudo. Eu sou o PC e hoje vocĂȘ foi minha fada.”
ComentĂĄrios
Postar um comentĂĄrio