STORYTELLING: MAIS DO QUE "SÓ ESCREVER"

https://www.storytellers.com.br/2012/06/storytelling-mais-do-que-so-escrever.html
Eu estava no escritório, pendurando uma
porção de papeis colados um no outro na parede, olhando para o esquema cheio de
parágrafos tortos, gráficos e desenhos com esquemas de quem gosta, ou não, de
quem. Joyce entra na sala. A jovem de 18 anos olha para mim com uma cara de
estranheza que só não é superada pela careta que ela faz ao olhar para os
papéis.
- Luis, o que é isso?
- É uma história Joyce, só uma história.
- Uma história? – diz a moça com cara de quem
está ainda mais confusa – Em que língua? – completa com ar cômico.
- É uma história para a nova campanha da
Corretora. Eu tenho que organizar ela pra ver se está tudo certinho.
- Mas... – silencia tentando entender o que
estava acontecendo – Como assim organizar, não é só escrever?
- Só escrever? – pensei duas vezes antes de
continuar com um discurso de valorização do meu trabalho e continuei – Mais ou
menos, eu escrevo também, mas antes de escrever tudo, ou durante, depende, eu
faço isso... é como se fosse um manual da minha história, eu coloco quem são os
personagens, o que eles fazem, quem gosta de quem e o que vai acontecer na
história. Aí, quando eu vou escrever eu não me perco, e se eu me perder olho
aqui e já sei o que tenho que fazer.
- Entendi... complicado isso, né? Achei que
você só escrevia...
- Eu escrevo – eu disse enquanto tentava
ignorar o “só” que se repetia no discurso dela – mas escrever é uma parte do
processo, antes de escrever eu preciso pensar, organizar e até “desenhar” a
história... e depois de escrever eu ainda tenho um monte de trabalho.
- Entendi, quero ver como vai ficar isso no
final, posso ver?
- Claro que pode, todo mundo vai poder ver...
e eu espero que bastante gente veja mesmo, é pra isso que eu estou escrevendo.
A moça foi embora e eu fiquei na minha mesa, com
os meus papeis pendurados na parede com uma fita branca, da cor da tela do
computador. O “só” não saia da minha cabeça, eu ficava cada vez mais bravo, não
com ela, mas comigo, porque até pouco tempo era eu quem achava que escrever era
“só escrever”.