O QUE HEMINGWAY ME ENSINOU SOBRE STORYTELLING

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Começar uma história não é fácil, mas terminar parece sempre mais complicado. Fugir do desfecho óbvio e surpreender a audiência está entre os objetivos
de todo storyteller. Nesse caso, o “foram felizes para sempre” não é a melhor
alternativa. Para fugir do óbvio é preciso despistar a preguiça. Essa foi a
primeira lição que aprendi com Hemingway.
O autor norte-americano, vencedor do Pulitzer de 1953 e do
Nobel de Literatura em 1954, escreveu 47 finais para o romance A Farewell to Arms, publicado em 1929. Imagine
a gama de possibilidades para a mesma história. Os desfechos variavam de uma ou
duas curtas sentenças – bem característico do estilo enxuto de Hemingway – a diversos
parágrafos. Em uma entrevista décadas depois, disse que tinha feito tantas
tentativas para conseguir as palavras certas.
A segunda lição foi manter a capacidade de ouvir. Olhos
atentos e ouvidos abertos. Assim é possível captar detalhes aqui e acolá, os
quais um dia servirão para a história em que você estiver trabalhando. Hemingway
falou sobre isso em uma carta que escreveu em resposta ao seu amigo F. Scott
Fitzgerald, sobre um romance que ele acabara de publicar, em 1934.
“Há muito tempo você parou de ouvir, exceto as respostas às
suas próprias perguntas. Isso é o que ‘seca’ um escritor, não ouvir. É de onde
vem tudo, de ver, de ouvir. Você vê muito bem, mas parou de ouvir. [...] Apenas
escreva sem se preocupar com o que vão dizer, se vai ser uma obra-prima ou não.
Eu escrevo uma página de obra-prima depois de noventa páginas de merda
e tento colocar essa merda no
lixo.”
Depois
desse tapa na cara de Fitzgerald (e de qualquer um que se propôs a escrever uma
história alguma vez na vida), Hemingway volta ao seu estilo conciso e finaliza:
Go
on and write.
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