A Força Poderia ter dormido mais 5 minutinhos...

Comecei meu dia ontem vendo uma maratona de Star Wars. Os três primeiros episódios da série que foram os três últimos a serem produzidos.

Ironicamente, na metade do segundo, recebi uma mensagem de uma namoradinha de infância com quem tenho falado muito ultimamente. A mensagem dizia mais ou menos o seguinte: “Ando muito cri-cri para tudo. Festa, trabalho, namoro. Queria ter a inocência de quando a gente namorava, porque
tudo era mais simples e divertido”.

A mensagem caiu como uma luva. Quando eu era moleque tinha adorado aqueles três filmes. Mas ontem de manhã não entendia como. Acho que eu virei cri-cri.


O começo de “A Ameaça Fantasma” é bom... até o Jar Jar Binks aparecer e começar a arruinar tudo, pisando em merda, tendo um bicho peidando na frente dele, lambendo o motor de um pod racer e ficando com a língua dormente, e por aí vai. Quando minha opinião estava completamente dividida, o Senado Galáctico cuidou do resto e me fez dizer as seguintes palavras: “nossa, que merda”. O filme não tem uma espinha dorsal. Ele é o monte de coisa e nada ao mesmo tempo. Você não sabe se ele é sobre política, sobre a Força, sobre o Anakin, sobre o retorno dos Sith. Simplesmente não tem foco. E, de certa forma, nem mesmo um protagonista e um antagonista.

O Ataque dos Clones foi um pouco melhor. Menos aparições de Jar Jar Binks e politicagem. E a porrada comeu. Entretanto, as três palavras mágicas saíram da minha boca quando Anakin e Padme começaram a rolar na grama. No manual do Jedi deve estar escrito em algum lugar que para se conquistar uma mulher deve-se ser obsessivo, agressivo e estranhamente desesperado. Assista o Ataque dos Clones, vá para a balada ou saia para um encontro e escreva aqui o que aconteceu. Acho que nem em uma galáxia muito distante dá para um cara forçar a barra daquele jeito, sair da friend zone, ganhar bitoquinha na varanda e ouvir um “eu te amo” de um modo tão medíocre e rápido. Detalhe que o cara era segurança da “gatinha”, então só faltou a música da Whitney Huston para completar a trama. Isso tudo sem falar na atuação magnifica do Hayden Christensen. Sério, vai no Colégio Dante Alighieri em São Paulo durante a madrugada que dá para encontrar alguma opção melhor de Darth Vader.


Por último, A Vingança dos Sith, o “menos” pior. Porém com o maior problema que essa segunda trilogia da série apresentou, na minha opinião: a constante necessidade de transformar Anakin em um Jedi fodão e fazê-lo se converter para o lado negro. É muito forçado. Parece que o cara tá numa bad trip de algum coisa pela paranoia e as contradições do final. E forçada também é a luta do Darth Sidious contra os Jedi, coreografada de uma forma pífia e tosca.

Eu resolvi resumir e enxugar bem esse começo da minha manhã com Star Wars nesse post por uma simples razão: apenas para poder descer o cacete melhor no filme novo.

AVISO DE SPOILERS

Depois dessa maratona, tomei uma decisão. Resolvi ir ver Star Wars – O Despertar da Força no cinema.

Naquela tarde eu me sentei na poltrona relaxado, pois muitos dos meus amigos elogiaram ao filme. A musiquinha começou. Pan, pan, panpanpanpan pan... E veio a historinha. Um começo muito bom. As sombras do império ressurgindo, Luke desaparecido, Leia liderando uma nova aliança rebelde e procurando pelo irmão desaparecido. Realmente, nada mal.

A história e os elementos me lembravam muito os três primeiros filmes. Muito mesmo. Muito até demais. E foi aí que eu percebi que eu não estava vendo uma continuação, mas uma remake.

Eu sou noveleiro, não tenho problemas com repetecos. Mas o repeteco de Star Wars começou a me incomodar. E começou a me incomodar pelo fato da Disney ter cagado para o universo expandido de livros e quadrinhos que ocorre depois de O Retorno de Jedi. E também por ter criado um bando de personagem escroto para vender boneco.


Eu não gostei do Finn. Achei ele covarde, sem nenhuma habilidade especial e bobo. Mas também achei ele um personagem cômico melhor que o Jar Jar Binks, então vou poupá-lo. Entretanto, que porra é aquela de Kylo Ren?

O cara usa uma máscara com uma voz estranha por nenhum motivo aparente além de ser feio pra cacete. Meio que uma versão Disney do Darth Vader, avô do personagem. Mas enquanto a transformação de Anakin para Darth Vader tem motivos psicológicos e físicos (Anakin foi escravo, perdeu a mãe de um jeito bárbaro e estava prestes a perder a mulher que amava), ao que parece, Kylo Ren apenas dá chiliques como um adolescente mimado que fugiu de casa para chamar atenção. Isso sem falar no sabre de luz escroto que não tem funcionalidade prática nenhuma. E que no final ele, tão fodão que consegue parar um disparo de blaster com a Força, toma um cacete de uma menina que era catadora de lixo poucos dias antes.


A catadora de lixo que dá um pau nem Kylo Ren é a Rey. E ela é linda S2. Sério, estou querendo construir uma nave espacial e ir para puta que pariu pedir ela em casamento. Tirando esse fato, e todo o carisma e habilidade da atriz, o personagem é muito mal construído. Ela é abandonada no deserto e não quer sair de lá por nada no mundo. Depois se descobre uma Jedi  e piloto fodástica do nada. Tipo eu quando escutei Wesley Safadão pela primeira vez e dei uma aula de dança na balada, sqn. É muito forçado o jeito que as habilidades dela aparecem e se desenvolvem. Na minha opinião, Rey é uma personagem que poderia ter sido tão melhor construída por ter sido abandonada no deserto e crescer em um ambiente hostil, mas acabou ficando no bonitinha e carismática. Pegue um Peter Quill dos Guardiões da Galáxia e faça um comparativo, para se ter uma ideia melhor do que eu estou falando. Como o personagem evoluí e muda a partir de elementos da história, e não simplesmente do nada.

Quanto aos velhos personagens da série, isso não tenho nada a declarar. Han Solo, Chewbacca, Princesa Leia, C-3PO e R2-D2 estão sensacionais. Se encaixaram perfeitamente. Já o Luke, não tenho como falar mal, mas também não tenho como falar bem. Em seus trinta segundos de filme, fiquei na dúvida se ele iria pedir crack ou não para Rey. Mas só poderei afirmar no episódio seguinte.

Eu defendo muito que histórias são como relacionamentos amorosos. É melhor terminar de um modo digno. Sem brigas, conflitos hediondos ou traições. Terminar de um jeito que os dois sejam felizes para sempre ou que pelo menos possam ser amigos no futuro. E não persistir no erro até que não dê mais para um elemento do casal olhar para a cara do outro.

Os episódios I, II e III da série apresentam falhas nos roteiros, péssimos diálogos, falta de protagonismo, falta de antagonismo, falta de uma história sólida e coesa e ritmo confuso. O Despertar da Força não é tão falho quanto os prequels da trilogia. A história inicial é boa, existe um protagonista e um antagonista, e o ritmo é envolvente. Entretanto o desenvolvimento da história é falho, os personagens são mal construídos e a repetição do modelo original já está muito manjada. Fica evidente a exploração da “Jornada do Herói” de Joseph Campbell, que funciona, mas poderia ter sido melhor mascarado ou mais surpreendente.


Se “O Despertar da Força” fosse uma menina com quem eu estivesse saindo, diria que houveram partes boas nesse primeiro momento da relação, mas que ela deu algumas mancadas que me deixaram com o pé atrás. Mancadas que podem ser facilmente remediadas no futuro, mas que também podem se agravar. Ou seja, mesmo com um pé atrás (põe atrás nisso), eu vou dar um voto de confiança, mais pelo sentimento do que pela razão, e vou ver a continuação de Star Wars no cinema. Mas, para o próximo filme, já estou prevendo um término de relação.

A Força despertou, mas ainda não saiu da cama. Quem sabe no próximo filme já seja hora do café da manhã?

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