O que Sense8 poderia aprender com 50 Tons de Cinza?

Como é que uma série tão amada pelos fãs pode ser cancelada?

Essa questão envolve muitos aspectos da nossa cultura e dos modelos de negócio de streaming de narrativa. Mas a principal área desse processo todo é a nossa boa e velha publicidade. A comunicação determinada pelo sistema capitalista.

Desde o surgimento dos modelos de streaming temos (os publicitários) lidado com a questão da monetização, ou seja, muitos de nós se encontram quase sem querer em conversas com a indagação sobre a sustentabilidade financeira do modelo. A Netflix tem um fonte de renda direta e constante: as assinaturas. Acredito que antes de iniciarem suas produções próprias essa fonte fosse o suficiente para garantir seu lucro e seu funcionamento, mas tenho as minhas dúvidas sobre o quanto esses valores são capazes de manter mega-produções como a série Sense8. Gravada em diversos países, recheada de edições complexas, dependente de um elenco razoavelmente grande e de uma equipe maior ainda uma série dessas custa muito dinheiro para ser gravada. Muito mesmo!

É necessário, então, para que se consiga manter as produções, encontrar uma nova forma de financiamento. Na verdade o esquema da Netflix parecia infalível no papel: Quanto mais séries só eu estiver exibindo e quanto melhores forem essas séries, mais assinaturas eu vou conseguir. Sense8, assim como todas as outras produções originais da empresa era, nada mais, nada menos, do que um de seus produtos, uma forma de conseguir mais clientes. Mas será que o valor pago pelos novos clientes, conquistados por suas produções originais, cobrem os custos necessários para manter essas produções? Acho que os últimos anúncios de cancelamento de The Get Down e Sense8, responderam essa pergunta com um categórico não.

Como, então, conseguir dinheiro?

Uma das possíveis respostas para manter suas séries vivas e seus clientes satisfeitos poderia estar escondida, ou melhor, escancarada, nas páginas de um dos mais polêmicos livros dos últimos anos: 50 Tons de Cinza.

Passei o dia me lembrando de Sense8, revirando todas as cenas que minha falha memória era capaz de buscar, e percebi que não me veio nenhuma marca a mente. Nenhum produto, nenhum licenciamento. Nada! Tenho quase certeza que vi uma marca de carro em um dos episódios da segunda temporada, e talvez tenha esbarrado em mais um ou outro produto. Mas nenhum deles me veio a mente. Agora pergunte para qualquer leitor de 50 Tons sobre as marcas do livro e irá escutar, muito provavelmente Apple e, talvez, Audi. A obra não hesitou em expor marcas. São, na verdade, 23 marcas expostas apenas no primeiro livro, distribuídas em centenas de aparições por toda a história. Um aspecto da obra muito criticado pelo mercado literário e pouco admirado pelo mercado publicitário, mas que lhe garantiu sucesso de vendas. Não só dos livros, mas de muitas outras coisas!

O hotel Heathman, um dos espaços centrais da narrativa, criou um pacote de viagens inspiradas em 50 Tons de Cinza, envolvendo jantares especiais e um passeio de helicóptero para recriar uma das cenas do livro. Suas reservas ganharam proporções estratosféricas! O Hotel, eu garanto, se solicitado pela autora, teria ajudado-a na publicação (se é que não o fez!)

A utilização correta das estratégias de Product Placement pela autora E. L. James poderia ser um exemplo de modelo de negócios interessante para a produção de séries de custos altos como as recém canceladas pela Netflix. O ser humano é treinado para gostar do que conhece e temer o que não conhece, por isso marcas se esforçam tanto para conquistar um espaço na memória das pessoas, o valor publicitário de uma série com milhões de fãs espalhados por todo o mundo é quase (sempre damos um jeito de precificar as coisas) incalculável. Do ponto de vista criativo a utilização de marcas na obra pode encontrar resistência, mas com as técnicas certas e o cuidado necessário, não é preciso comprometer a criatividade em prol da publicidade, pelo contrário, uma boa inserção de marca é parte integrante da trama e tem sua função narrativa como todos os outros elementos da obra.


Talvez, com um pouco menos de preconceito e um pouco mais de publicidade, os fãs de Sense8 não precisariam estar tão decepcionados com uma de suas lovemarks favoritas.

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