POR ONDE COMEÇAR UM ROTEIRO?



Que dicas você daria para quem quer construir um bom roteiro de ficção?
Em primeiro lugar, é preciso conhecer muito bem a história que você quer contar. Conheça muito bem os personagens antes de começar a escrever o roteiro, tenha domínio dos detalhes da sua história. O ideal é você já saber o final antes de começar a escrever. O roteiro é uma ferramenta de meio de caminho, que fica entre o autor e o diretor. Então, a história tem que estar muito bem construída na cabeça do autor para que ele possa contá-la para o diretor ali.
Além disso, como se trata de uma ferramenta técnica, quanto mais clara o roteiro for, melhor. Não tem necessidade de se usar uma linguagem rebuscada, o mais eficaz é transmitir sua ideia da forma mais simples possível. Uma das qualidades dele é não ter muitas palavras. Pode ter muitos diálogos, mas não precisa entrar no detalhe na descrição. O foco do roteirista deve ser a ação do que está acontecendo.
Se você já tem o final em mente, fica mais fácil começar a desenvolver seu roteiro em etapas: começo, meio e fim são as gerais. Uma coisa que ajuda muito é começar de trás pra frente. Tem outras muitas técnicas sobre como desenvolver as outras etapas, como a Jornada do Herói, que é interpretada de um jeito numa comedia romântica e, de outro, num filme de terror. Então, é fundamental estudar o gênero que você quer fazer, assistir a muito filmes e séries daquele gênero para ter referências, até para não cair no clichê, pra evitar fazer aquilo que não gostou nas historias dos outros.
Outra coisa que pode ajudar muito é que você está falando de um assunto ligado à emoção. Se for um filme de terror, temos o elemento medo. Se for comédia, humor. Drama, tristeza. O fundamental é que seu roteiro seja capaz de transmitir essa emoção. Seu personagem tem que passar isso para que as pessoas também sintam. Quem for ler seu roteiro, tem que sentir isso. Então, o roteirista tem que sentir quando está escrevendo. Se estiver escrevendo uma comédia, naturalmente, dará risada enquanto cria. Essa questão da emoção é chave.
Por fim, conheça bem cenário e personagem. Saiba tudo sobre ele, não só o que será contado no roteiro, mas toda a sua história de vida. Assim, fica mais fácil de humanizá-lo e aproximá-lo das pessoas.

Existem alguns modelos de estrutura, certo? Quais você destacaria?
A mais básica é a estrutura de três atos: começo, meio e fim. Na prática, ela vira quatro atos, já que o meio é dividido. Aí, tem alguns autores que defendem umas coisas mais fixas. Por exemplo, que até a página 30, você precisa resolver a primeira etapa: apresentar o protagonista e o problema que ele tem que resolver; primeiro, mostra o personagem no mundo em que ele vive e como é a sua rotina. Depois, na metade do primeiro ato, você tira ele dessa rotina e o leva para outra etapa, outra realidade. Os segundo e terceiro atos são o meio. No final do segundo, tem o momento em que o protagonista acha que vai perder. É a hora mais terrível pra ele. Ele acha que não vai ser possível. No final do terceiro ato, ele junta todas as suas forças de novo, partindo para enfrentar o antagonista, o vilão. Em seguida, ele passa por um sacrifício, é o clímax, ele precisa pagar um preço, é um herói, vai sacrificar algo de que goste para cumprir seu objetivo. Enfrentado esse desafio, a segunda metade do quarto ato é ele voltando para o começo, volta para o mundo normal, mas não enxerga mais a sua realidade como antes. Ele traz o aprendizado que teve de volta para o mundo normal. De forma bem genérica, esta é a Jornada do Herói, um teoria elaborada por Joseph Campbell após fazer um estudo de várias mitologias. Em Hollywood, usa-se muito a Jornada do Herói.
Há outras estruturas que são bem mais difíceis, como a In Medias Res. Ela começa na metade da história e depois vai um pouco para trás e um pouco para frente, um pouco para trás, um pouco para frente. “Lost” um pouco assim. O filme “Amnésia” também.
É possível também fazer a Jornada do Herói de mais de um personagem. Comédias românticas geralmente são assim, você usa dois grandes personagens. “O casamento grego” faz muito isso.

O que um bom roteiro não pode deixar de ter?
A primeira coisa a entender é que a ideia tem que ser boa. Você tem que conseguir resumir sua história em três linhas e as pessoas gostarem. Mas, tendo uma boa história, você então precisa de um bom personagem, que dê um caráter único a ela. Terceiro elemento muito importante é o cenário. Mais uma vez, “Lost” é um exemplo. O roteiro precisa passar por uma produção e o cenário vai impactar bastante nisso. Se você diz que sua história vai se passar numa ilha, há um trabalho importante de produção aí. O roteirista sempre tem que pensar na forma mais simples e barata de concretizar a ideia, porque, quanto mais viável for o roteiro dele, mais provável ele se torna de se concretizar. Há historias fantásticas contadas em um só ambiente.

Este post é o resultado de uma entrevista para o SESI CULTURAL


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