CRÔNICA - Um céu repleto de estrelas

Para sempre?, pensou. Estava deitado na cama, olhando para o teto estrelado do quarto. Para sempre é muito tempo.

Desde criança, João gostava de observar o céu. Aprendeu Astronomia em revistas de banca de jornal, as quais vinham com estrelas adesivas que brilhavam no escuro. Com elas, montou suas próprias constelações.



João costumava se acalmar contemplando o próprio firmamento. Olhá-lo era como contemplar-se, era como olhar para dentro de si. Às vezes, pensava que poderia ficar eternamente fitando o seu céu, desafiando-se a falar sobre si mesmo.

Naquele momento, João refletia sobre o tempo e a eternidade.

Para sempre não é muito tempo para quem é feliz onde está. Para sempre não é muito tempo para quem vive procurando se encontrar. 

Sorriu.

Essas frases dariam um bom poema. Afastou o pensamento. Escrever jamais fora o seu forte, assim como milhões de outras coisas que nunca soube fazer.

Mas dizem que nunca é tarde para começar, pensou. Então, levantou-se de um salto. Pegou papel e caneta e começou a escrever. Escreveu a noite inteira. Rabiscou, rasgou, jogou fora. Escreveu sobre o que queria, sobre o que amava. Descreveu seu quarto, sua casa. Contou sua infância. Inventou histórias. Resumiu livros que já lera e os que inventou, mas que jamais pararam no papel.

O sol raiou e João sorria. A luz do dia apagou o brilho das estrelas, e ele foi trabalhar exausto, mas feliz. 

Ao fim do dia, ao recostar o corpo sonolento na cama, olhou para seu pequeno céu particular. Pela primeira vez, percebeu quanto espaço ainda havia para outras estrelas. Levantou-se, pegou algumas estrelas fluorescentes nas revistas guardadas no armários e colou-as ao lado de uma das constelações.

Deitou novamente, contemplando o novo céu.

Apenas algumas estrelas a mais e tudo parece completamente diferente, pensou. Talvez, para sempre seja pouco tempo para quem se desafia e tem um céu inteiro para fazer brilhar.

Dormiu.


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Esta breve crônica foi escrita pelos idos de 2010. Eu tenho um grande apreço por ela, porque diz muito sobre quem fui e sobre quem ainda sou, sempre em busca de desenvolver novas habilidades. Se você se identificou, deixe um comentário e vamos conversar: qual foi a última vez que você acrescentou uma nova estrela no firmamento do seu próprio quarto? Quantas estrelas há nele e quais?


Escritor e contador de histórias para acordar.

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