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Você já se pegou pensando no Cinquenta Tons de Cinza. Mesmo que não tenha lido. Não é?

Esse post pode parecer um pouco antigo e muito modista, mas o fato é que apesar de tanto já ter sido dito sobre a saga, o post trata de um assunto inédito.

Pelo bem do storytelling eu venci o preconceito e fui ver o que, afinal, havia por trás de todo o buzz. Como era de se esperar, ele não se tornou um sucesso de vendas por acaso. 

Por maior que seja a crítica à autora e seus leitores, ELJames aplica com maestria uma série de técnicas avançadas de storytelling. Técnicas que poucas marcas são capazes de dominar.

 


AS 5 TÉCNICAS DE STORYTELLING DOS 50 TONS DE CINZA


1. UM NOVO GÊNERO?
Tem gente que diz que criou um novo gênero de literatura. É uma afirmação difícil de se fazer, mas uma coisa é certa: com certeza gerou uma nova audiência. Assim como outros bestsellers mundiais como Harry Potter, Código da Vinci e Saga Crepúsculo, os 50 Tons criaram uma espécie de código que foi seguido por dezenas de outros autores e publicações. 
Como fez isso? Uma dica está nas capas.


2. O ASSUNTO É SEXO!
Tem gente que arrisca chamar de pornografia literária. Mas isso não seria um novo gênero, seria? Afinal, esse tema já tem sido explorado há anos, com destaque para o excelente Story of O. Ao ler o livro você percebe que o sexo, na verdade, nada mais é do que um truque de storytelling chamado red herring. É quando você pensa que e uma coisa, mas no fundo é outra. "Enquanto todos olham pra esquerda, ela corre pela direita."

3. TUDO É UMA QUESTÃO DE PONTO DE VISTA...

Literalmente falando. Boa parte do sucesso do livro é a facilidade da leitura e muito dessa simplicidade veio com o emprego da técnica chamada de deep point of view.

4.... DE PRELIMINARES,

Você acha que é um livro sobre sexo, você lê a história com os olhos da personagem... mas absolutamente nenhum tipo de contato físico acontece antes do sétimo capítulo. Enquanto o jornalista faz o lead e conta tudo o que há de importante no primeiro parágrafo da notícia e os publicitários tentam condensar tudo em uma frase ou 30 segundos de ação, a autor consegue te prender por metade do livro sem que nada de importante aconteça.



5. OU DE UM CONTO DE FADAS.
No fim da história, essa é uma sobre um príncipe encantado. Um príncipe encantado moderno. Um príncipe encantado com quem as meninas dos dias de hoje podem sonhar. 

A construção do príncipe é genial: ele é o máximo, mas não é perfeito; ele é aspiracional, mas como o próprio livro mostra, não é inalcançável. 

Tanto que a crítica masculina diz que o livro mais parece o manual de "50 Passos Para Se Tornar uma Maria Gravata". Sendo que "maria gravata" seria a mulher que se interessa por CEOs... 

AS 5 TÉCNICAS OCULTAS QUE NINGUÉM PERCEBEU

Mas espere.
Isso é apenas a superfície.
Depois de dissecar a obra com os olhos de um storyteller estratégico, descobri mais 5 técnicas que transformaram um fanfiction em um império de US$ 1,3 bilhão.

6. O PODER DO ESPELHO EMOCIONAL
Ana Steele não é apenas uma personagem.
Ela é um espelho.

E.L. James criou uma protagonista propositalmente "vazia" - sem características marcantes, sem hobbies específicos, sem opiniões fortes.

Por quê?
Para que cada leitora pudesse se projetar nela.
Aplicação para marcas: Pare de criar personas ultra-específicas. Às vezes, o segredo é criar um arquétipo amplo o suficiente para que seu público se veja refletido.

7. A ECONOMIA DA ESCASSEZ NARRATIVA
Christian Grey é bilionário.
Mas você sabe como ele ficou rico? Não.

Você sabe o que sua empresa faz exatamente? Vagamente.

A técnica: Informação seletiva cria mistério. Mistério gera obsessão.
E.L. James revela apenas o suficiente para manter a fantasia, nunca o bastante para quebrar o encanto.
Como negócios podem usar isso: Nem tudo precisa ser explicado. Apple nunca revela como faz seus produtos. O mistério é parte do valor.

8. O LOOP DE DOPAMINA LITERÁRIO
Cada capítulo termina com um cliffhanger.
Cada cena promete algo que será entregue... mais tarde.

O mecanismo: Antecipação → Tensão → Alívio parcial → Nova antecipação

É o mesmo princípio dos apps viciantes.

Dos jogos que não conseguimos largar.

Como aplicar: Suas apresentações, seus conteúdos, suas campanhas - todos devem ter ganchos que criam antecipação para o próximo passo.

9. A SUBVERSÃO DO PODER
Aqui está a genialidade: em uma história sobre dominação masculina, quem realmente tem o poder?
Ana.

Ela que estabelece os limites. Ela que dita o ritmo. Ela que transforma o dominador.

A lição estratégica: O poder real está em quem define as regras do jogo, não em quem parece estar no comando.

Para líderes: Às vezes, liderar é deixar que outros pensem que estão liderando.

10. O FENÔMENO DA VALIDAÇÃO SOCIAL RECURSIVA
O livro não ficou famoso pela qualidade literária.
Ficou famoso por ser famoso.
O ciclo viral:

Mulheres leem porque outras mulheres estão lendo
Falam sobre isso porque todas estão falando
Compram porque se tornou um símbolo de pertencimento

É o mesmo mecanismo que criou:

O fenômeno das Stanley Cups
A febre dos NFTs
O sucesso do Clubhouse

Para sua marca: Não venda o produto. Venda o pertencimento ao movimento.

O EFEITO GREY: Quando Storytelling Vira Economia

Muitas mulheres estão presenteando seus namorados com o livro, como forma de incentivo à criatividade nos momentos íntimos.
Será que o baby boom dos bebês nascidos em 2013 serão chamados de Grey Generation?
Aliás, mais do que uma audiência, a obra formou todo um mercado:

Camisetas
Esmaltes
Sapatos
Canecas
Dezenas de outros apetrechos

Pois é, o poder do storytelling...
A Lição Final para Marcas Inteligentes
50 Tons de Cinza não é sobre sexo.
É sobre transformação.
Não é sobre dominação.
É sobre descoberta.
Não é literatura.
É uma máquina de storytelling estratégico.

3 Perguntas que toda marca deveria fazer:

Qual é o seu "red herring"? O que parece ser sua história, mas esconde algo maior?

Onde está sua tensão narrativa? O que faz seu público voltar sempre?

Quem é seu Christian Grey? Qual elemento aspiracional, mas alcançável, você oferece?

O Desafio Final
Você pode desprezar 50 Tons de Cinza.
Pode criticar a prosa.
Pode questionar o conteúdo...

Mas não pode ignorar os resultados.
150 milhões de cópias vendidas.
US$ 1,3 bilhão em bilheteria.
Um fenômeno cultural global.
Tudo através do poder do storytelling estratégico.

A pergunta que fica:
Se E.L. James conseguiu transformar um fanfiction em um império...
O que você poderia fazer com as técnicas certas?

Pronto para aplicar storytelling estratégico de verdade no seu negócio?
Desde 2007, transformo narrativas corporativas em resultados extraordinários.

Fernando Palacios é pioneiro do storytelling no Brasil e único brasileiro reconhecido com o prêmio World's Best Storyteller. Já aplicou técnicas avançadas de narrativa para Nike, Itaú, Pfizer e centenas de outras marcas.

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