Storyteller o mestre dos jogos de RPG


Contar boas histĂłrias em mundos fantĂĄsticos aonde seus amigos sĂŁo transformados em guerreiros, bĂĄrbaros e monstros terrĂ­veis assolando vilas apenas por diversĂŁo... Ă©, parece intrigante!
Essa premissa parece um grande desafio ao narrador, quando se fala de Storytelling, entretanto como todos sabemos e lemos (neste blog por exemplo) contar histórias não é uma coisa nova e imergir um grupo de pessoas dentro do seu roteiro interativo também não.

Na dĂ©cada de 70 dois jovens ( Gary Gygax e Dave Arneson ) fĂŁs da literatura de Tolkien resolveram misturar algumas mecĂąnicas de jogos de tabuleiro como War, com o universo fabuloso do Senhor dos AnĂ©is. Eles pensaram em reunir alguns amigos em torno de uma mesa, aonde cada um deles pudesse interpretar herĂłis e tomar decisĂ”es difĂ­ceis para enfrentar os perigos do mundo medieval. Com dados esses garotos simulavam golpes de espadas ou machados se cruzando em meio a batalhas de vida ou morte... outros ficavam mais afastados, com seus chapĂ©us de mĂĄgicos, cantando mantras para invocar poderes mĂ­sticos e ajudar seus aliados a enfrentar aquela fera com rosnado mortal, congelando a alma e a esperança contida nos olhos de cada aventureiro - sim, acho que me empolguei na descrição. 

Alguns de vocĂȘs jĂĄ devem ter percebido que estou falando de RPG ou Role Playing Game. Esse jogo de interpretar "papĂ©is" ficou muito famoso na dĂ©cada de 80 e 90, criando posteriormente o gĂȘnero de RPGs eletrĂŽnicos e os MMORPGs (online e massivos como o World of Wacraft, um jogo de roubar vidas hehe). Esses players sĂŁo verdadeiros "mestres" em contar histĂłrias envolventes... sim mestres como sĂŁo chamados os principais jogadores. Um mestre Ă© responsĂĄvel por criar o roteiro, ambientar o mundo, planejar as açÔes emocionantes e descrever cenas de combates. AlĂ©m do mais divertido que Ă© pensar e interpretar todas as outras figuras que podem aparecer na vida dos seus jogadores. (os chamados NPCs). Cada reuniĂŁo do grupo ou sessĂŁo de RPG Ă© um tipo de episĂłdio de seriado, com uma aventura que pode se estender gigantescamente para o que chamamos de campanha - com temporadas e tudo.


Quando comecei a ouvir as primeiras mençÔes ao termo Storytelling no meio publicitĂĄrio, estava ainda cursando a faculdade e tudo ficou bem confuso para mim, um RPGista hĂĄ mais de 15 anos. Isso porque Storytelling Ă© exatamente o nome de um sistema de jogo de rpg que havia se tornado muito popular, primeiro sobre o nome de Storyteller em 89. Inclusive, nesse sistema o mestre ainda Ă© chamado de Storyteller e para terem ideia da importĂąncia desse jogo seu cenĂĄrio principal, "Vampiro a mĂĄscara" Ă© uma das grandes influĂȘncias da cultura pop para filmes e outras obras sobre os seres das trevas - ok, esqueçam a saga crepĂșsculo.

EntĂŁo percebi, que um simples jogo começou a se tornar uma oportunidade para muita gente, quando descobriram como contar histĂłrias e se divertir era um ponto chave para se conectar emocionalmente com seu pĂșblico. A revista superinteressante mostrou recentemente, uma entrevista com MaurĂ­cio (aqui) , que Fundou sua empresa com Mark Warshaw, um dos responsĂĄveis pelas estratĂ©gias por trĂĄs do conteĂșdo 360Âș da sĂ©rie Heroes.
Uma das coisas que mais me chamou a atenção na fala dele foi o fato de que ter jogado RPG na adolescĂȘncia se tornou um grande diferencial em sua carreira vitoriosa. Uma carreira que começou quando ele tinha sĂł 15 anos. Nessa Ă©poca, MaurĂ­cio criou um kit de ensino baseado em RPG. Ele ia a escolas e feiras vender o jogo Autorias e assim começou sua primeira empresa.
O autor do artigo para a revista, Fred Di Giacomo nĂŁo deixou de citar sua experiĂȘncia com o game:

Eu joguei RPG na adolescĂȘncia. Muito. Pelo menos dos 10 aos 17 anos. Mais ainda, eu li dezenas de livros de RPG que basicamente te ensinavam como criar uma boa histĂłria (e se sua histĂłria fosse ruim, seus amigos desistiam do jogo, iam assistir TV e nunca mais voltavam), como desenvolver um personagem (quais suas caracterĂ­sticas principais, suas motivaçÔes, seus pontos fortes e fracos) e tambĂ©m te familiarizavam com “mecĂąnicas de jogo”. As mecĂąnicas de cada RPG (GURPs, AD & D, Desafio dos Bandeirantes, etc) eram a fĂ­sica daquele universo. As regras da vida.

Claro, que a evolução tecnolĂłgica tambĂ©m influenciou os narradores de RPG. Hoje podemos utilizar vĂĄrias tĂ©cnicas para manter cativo o nosso grupo e aumentar a experiĂȘncia que temos com o jogo. Algumas vezes eu gosto de planejar açÔes como um tipo de ARG. Enviar emails com contas de personagens criados por mim... criar alguns grupos secretos de organizaçÔes misteriosas no Orkut e isso deixava todos sedentos pelo prĂłximo encontro.

VocĂȘs devem estar pensando "Ora, um cara com o poder total sobre um grupo, o mundo que ele vive e todas as coisas que o envolvem pode ser frustrante". Sim, mas apesar de ser chamado de Mestre ou narrador esta figura tem um Ășnico papel, criar experiĂȘncias divertidas. Assim como em uma estratĂ©gia de Transmidia Storytelling, acredito que vocĂȘ deva buscar um equilĂ­brio entre os estĂ­mulos e respostas das pessoas que estĂŁo imersas na sua histĂłria ou a experiĂȘncia pode nĂŁo sair como o planejado e serĂĄ bem mais difĂ­cil convencer as mesmas pessoas a jogar novamente.

Contar histĂłrias Ă© realmente uma arte, nĂŁo importa se Ă© em um jogo ou nas telas do cinema, vocĂȘ deve saber manter seu pĂșblico atraĂ­do pelo que estĂĄ sendo contado. O RPG Ă© uma excelente oficina para Storytellers, afinal Ă© uma Ăłtima chance para conhecer mundos diferentes e testar o quanto seu machado anda afiado.

Quem quiser saber mais desse universo de jogo serå muito bem vindo na nossa taberna, que chamo de Blog (aqui). Ao entrar fechem as portas para evitar os Trolls e fiquem a vontade para me seguir no twitter @O_RPGista - minha percepção apurada logo avisarå que tem gente nova por lå.


Fonte das imagens: Devianart

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