UMA FAMĂLIA DA PESADA, A MORTE DE BRIAN E O STORYTELLING
Eu acho fascinante ver a relação que as pessoas criam
com personagens fictĂcios. Essa semana o assunto foi a morte de Brian Griffin o
cachorro intelectualizado do desenho Norte Americano Family Guy (Uma famĂlia da
Pesada em portuguĂȘs). Pois Ă©, meus amigos, o animal de estimação da famĂlia de
um desenho animado morre e a internet vai a loucura, abaixo assinados surgem
pedindo pela ressuscitação do personagem. Nesses tempos modernos em que vivemos
como produtores e consumidores de informação, tudo ao mesmo tempo, às vezes a
ficção atinge a realidade.
O site #savebrian foi criado para coletar assinaturas
e convencer os roteiristas do desenho animado a darem mais uma chance para o
cachorrinho que, aparentemente, Ă© um dos personagens favoritos do pĂșblico
cativo da série. Mas o que mais me impressionada nisso tudo é que em mais uma
semana de existĂȘncia o site jĂĄ coletou 700 mil assinaturas ao redor mundo,
muito mais do que algumas campanhas de abaixo assinado para salvar a floresta
amazÎnica ou tartarugas em extinção são capazes de conseguir. Além dessas
assinaturas o episódio da morte de Brian ganhou um espaço em todas as revistas
e blogs sobre narrativas e séries do mundo. Até mesmo o site da TMZ, revista
especializada em noticiar fofocas e novidades nas vidas de celebridades hollywoodianas,
reservou um espaço em site para noticiar a fim trågico do cachorro.
O que me leva Ă seguinte pergunta: e se a morte do
Brian fosse uma ação publicitåria?
Estou para conhecer um publicitĂĄrio que
nĂŁo sonha com um engajamento capaz de colher 700 assinaturas digitais e
conquistar mĂdia espontĂąnea por todo o mundo em sĂł uma semana. EntĂŁo, nĂŁo seria
demais se a morte do Brian fosse uma ação publicitåria, digamos, para um
instituto de cuidados com os animais? Ou quem sabe até se esse episódio fosse
financiado pelo governo norte americano para conscientizar as pessoas sobre o
uso de coleiras? NĂŁo seria genial se a morte do personagem fosse, no fim das
contas, apenas uma forma de recuperar audiĂȘncia para a prĂłpria sĂ©rie?
As possibilidades sĂŁo infinitas, mas o importante
mesmo, na minha opiniĂŁo, Ă© percebermos que uma narrativa Ă© uma mĂdia que vai
alĂ©m do “mostre meu produto por 15 segundos”, se soubermos usar bem a narrativa
ela pode gerar consequĂȘncias inimaginĂĄveis. Podemos usar o poder narrativo de
produtos culturais a favor de nossas mensagens, sejam elas comerciais, sociais
ou apenas de entretenimento. E o melhor de tudo? Se A morte Brian Griffin nĂŁo
fosse em vão, ou seja, isso tudo fosse mesmo uma ação para salvar cães de atropelamento
pelo mundo, talvez o pĂșblico nĂŁo se revoltasse contra os produtores, mas sim,
os elogiassem pela sua ação nobre.
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