O Real Poder das Histórias Reais

https://www.storytellers.com.br/2014/04/o-real-poder-das-historias-reais.html
Histórias reais fazem um enorme sucesso. Isso porque elas
nos mostram que podemos vivê-las, que não são impossíveis ou inatingíveis. E
quanto mais inacreditáveis são, maior é o sucesso que fazem com o público.
Afinal, elas dão uma esperança de que poderiam acontecer na vida de qualquer um
já que são reais, e esse é o seu grande poder.
Existem histórias que são contadas como reais, mas que são
de fato falsas e admitem isso. Entretanto, por parecerem reais demais, passam
uma sensação muito cativante para quem são contadas. Um exemplo disso é o
primeiro filme de Atividade Paranormal. O filme dá medo, sem nenhum elemento
realmente assustador. O assustador é pensar estar assistindo uma história real,
com a morte de uma pessoa e a possessão demoníaca de outra. O assustador é
pensar que se isso aconteceu com o casal do filme, poderia muito bem acontecer
com você.
Agora, existem histórias ditas como “reais” que são tão
distorcidas que se tornam praticamente ficcionais. Eu poderia falar do filme
“Dor e Ganho” com o Mark Walhberg e o The Rock, que conta a história de uma
gangue de fisiculturistas que sequestra um “babaca” para roubar todo o seu
dinheiro. No filme, os sequestradores são carismáticos e o sequestrado é o cara
mais nojento e babaca do mundo. Na realidade, não foi bem assim. Mas eu entendo
que essa parte da história tinha que ser distorcida para ganhar o carisma do
público. Em compensação, seus elementos inacreditáveis e absurdos são reais.
Tão reais e absurdos que, segundo as minhas pesquisas, o juiz do caso começava
a rir em determinados momentos do julgamento dos criminosos, de tão idiotas que
eram as coisas que eles faziam (se fantasiarem de ninjas em uma tentativa de
sequestro, por exemplo) e que a polícia não acreditou no sequestrado real em
seu primeiro relato.
Já o filme Horror em Amityville é o contrário. Todos os
elementos incríveis da história são distorcidos e tidos como falsos pelas suas
testemunhas, exceto pela família Lutz que detinha os direitos autorais da história.
Ou seja, é uma história que, apesar de muito bem contada, te desaponta quando
você descobre a verdade e perde parte de seu poder.
Apesar de ter gostado muito das outras duas histórias, a que
mais me fascinou foi a do Lobo de Wall Street. Sério, a história foi tão boa
que Tommy Chong, da dupla “Cheech e Chong”, insistiu para que Jordan Belfort (personagem
de Leonardo DiCaprio) a escrevesse em um livro. Então, o naufrágio do navio, a
raspagem de cabelo de uma funcionária, as loucuras com drogas e prostitutas,
tudo era real! Acho que foi isso o que
mais me cativou nessa história toda.
Para demonstrar o poder das histórias reais, sejam elas
genuinamente reais ou não, vou usar um exemplo de uma história que criei e
contei nessa última Páscoa. Essa é a história do meu amigo Mário Mariano, o
pior traficante de drogas do mundo.
Nessa Páscoa fui para o Economíadas e fiquei no alojamento
de uma faculdade. Tinha acabado de terminar um namoro de forma desastrosa,
então, estava arrasado. Por isso mesmo, decidi que não teria limites no
feriado. Queria viver 96 horas direto na loucura. Queria viver de excessos, e
vivi.
Em um determinado momento da minha viagem, eu e meu melhor
amigo Chico Piscina estávamos tão retardados que resolvemos "zuar" nosso outro grande
amigo, Mário Mariano. Nós inventamos uma história sobre ele ter levado uma
maleta de drogas para o alojamento onde estávamos, com todas as drogas imagináveis,
incluindo um coquetel de loló e crack que só ele sabia preparar. Muitas das
pessoas que ouviram essa história ficaram fascinadas por ela. Como eu e o Chico
estávamos mais loucos que o Batman o tempo todo, até nós mesmo começamos a acreditar
nela e a contávamos como se realmente fosse verdade. Não havia mentira nas
nossas vozes em nenhum momento enquanto falávamos sobre a fantástica maleta de
drogas de Mário Mariano.
Nós começamos a espalhar que o Mário Mariano era um
traficante tão ruim que ele tinha queimado praticamente seu estoque inteiro de
drogas no primeiro dia da viagem. E, depois de muitas e muitas pessoas irem
procurá-lo, ele foi vencido pelo cansaço e começou a admitir nossa versão da
história. E isso continuou até o domingo de Páscoa.
No domingo de Páscoa, eu e o Chico estávamos totalmente
malucos pela manhã. E o Chico começou a abraçar todo mundo e desejar Feliz
Páscoa, perguntando se as pessoas tinham procurado ovinhos enterrados pelo
alojamento. Foi aí que surgiu a etapa final da história de Mário Mariano. Em
determinado momento enquanto o Chico fazia suas piadas com os ovinhos de Páscoa
eu o interrompi e disse: “Pessoal, vocês souberam do Kinder Drogas?”.
A reação das pessoas ao redor foi instantânea. Todos ficaram
curiosos. Então, eu contei que nosso amigo Mário Mariano tinha colocado todo o
resto do seu estoque de drogas dentro de um Kinder Ovo, e enterrado ele em
algum lugar do alojamento. Para criar uma áurea ainda mais mística para a
história, eu ainda acrescentei o fato de que Mário Mariano estava totalmente
chapado quando fez isso. Então, ele não se lembrava de onde tinha enterrado seu
“Kinder Drogas”.
Eu e o Chico espalhamos essa história para o máximo de
pessoas que conseguimos, pedindo para nos devolverem o ovo caso achassem. Até
oferecemos dividi-lo com quem quer que nos devolvesse ele.
Dia seguinte, a gente perdeu a conta de quantas pessoas nos
pararam para perguntar se tínhamos achado o ovo. Até achamos buracos em
determinados lugares do alojamento (prováveis tentativas de busca pelo ovo, nós
supomos).
Resumindo, o que nós fizemos foi pegar um interesse em comum
de muitas pessoas, criar uma história absurda, e contá-la como real para
sacanear um amigo. E isso mexeu com a imaginação de muita gente., especialmente pelo modo que nós a contamos (afinal, o Telling é metade de Storytelling).
Esse exemplo ilustra perfeitamente o poder de uma história
“real”. As pessoas ficam contagiadas por esse tipo de histórias. Afinal, elas
são contagiantes. Todos que ouviram a história de Mário Mariano ficaram
envolvidos por ela, curiosos e entretidos.
Então, quando estiver criando uma história para sua marca,
aqui vai mais um aspecto a se considerar. Tente tornar essa história real! Se
eu e meu amigo chapado conseguimos contagiar um alojamento no Economiadas,
imagine o que você e sua marca não podem fazer com o mercado!