Por que a 5a temporada de 'Game of Thrones' Foi Decepcionante?



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A série da HBO desde seu início sempre seguiu o mesmo preceito: chocar e gerar polêmica. Com isso ganhou diversos fãs viciados na “adrenalina Game of Thrones”. O perigo de engajar o telespectador nesse vício é que, depois da primeira dose, a mesma quantidade de adrenalina nunca é suficiente para suprir a abstinência. Precisamos de cada vez mais. Mais surpresas, mais momentos revoltantes, mais reviravoltas, mais sentido para as ações, mais poder e “drive”  das personagens.

Essa compreensão acompanhou a série pelas primeiras quatro temporadas. Quando achávamos que sabíamos o que iria acontecer, Game of Thrones nos arrematava novamente, deixando-nos de boca aberta na frente da televisão, esperando os créditos de final de episódio passarem por quantos minutos fossem necessários até processarmos o que tinha acontecido.  Eram emoções atrás de emoções e não havia tempo para desviar os olhos da tela. Não queríamos nos apegar muito a um personagem, pois ele poderia morrer no próximo minuto e nos deixaria gritando sozinhos para a televisão, sentindo tudo aquilo como se fosse a vida real.

Game of Thrones, desde a primeira temporada nos fez um convite para entrarmos num mundo ficcional com matanças, estupros, torturas, jogos de poder, trapaças e traições dos níveis mais baixos. E nós aceitamos e nos envolvemos a fundo nesse universo. Mas quando chegamos na quinta temporada, a série nos deu uma dose muito menor do que a que estávamos acostumados.

Aconteceram coisas chocantes? Sim. Mas foram suficiente para o estilo Game of Thrones? Não. 

Além da diminuição do choque, ao assistir essa temporada não tive a sensação de “meu mundo caiu” que tive em todas as outras temporadas. Isso pode ser atribuído a uma falha de narrativa da temporada que não se preocupou em estabelecer as consequências e riscos. Pense nos momentos que você pensou “e agora?” durante a série e pense quais eram as consequências para essas cenas.

Relembrando os momentos mais marcantes que tivemos:

·      Eddard Stark é morto
 Consequência: Toda a sua família possivelmente seria morta também. O poder agora passa para as mãos dos Lannister, uma família sem escrúpulos que é capaz de torturar os Stark até a morte.

·      Robb Stark, sua esposa e filho Cathelyn são traídos e mortos.  
Consequência: A possibilidade de uma aliança contra os Lannister se foi. A chance de recuperação dos Stark agora é zero. Arya que está chegando na cidade para reencontrar com sua mãe chega tarde demais e tem que lidar com a morte de mais familiares. Sansa está a mercê dos Lannister. Pior ainda, de Joffrey.

·      A violenta e inesperada morte do Príncipe Oberyn.
Consequência: Tyrion será sentenciado a morte por um crime que não cometeu. Os Lannister que tanto odiamos conseguirão mais uma vez injustamente o que querem.

Até o assassinato de Joffrey, que nos causou alívio, gerou consequências eletrizantes, como a fuga de Sansa e a prisão de Tyrion, que acabou sendo traído por sua amada e matando seu pai.

Agora pensando na quinta temporada, mais especificamente os últimos episódios. Tivemos a morte da princesa Shireen. Claro, foi um absurdo queimarem uma criança viva, sem dúvida. Mas o que a morte dela acarretou? Qual foi sua importância para a história, o que aquela pele escamosa significava? A única consequência de sua morte, foi a que esperávamos: a derrota de Stannis. E o que a derrota de Stannis significa? Apenas mais uma pessoa que fracassou para conseguir o trono. E o pensamento que tivemos? Bem feito.

Brienne de Tarth: Depois de ficar dias e dias esperando Sansa lhe pedir ajuda, Brianne de Tarth simplesmente saiu de seu posto para realizar uma tarefa pra lá de inútil: Matar Stannis, que já ia sangrar até a morte de qualquer maneira, sem exercito, sem mulher, sem filha, sem Deus do fogo ou sacerdotisa, e sem nenhuma dignidade. A cena foi digna de deixar o telespectador entediado. A personagem de Brianne foi completamente diminuída nesse momento, afinal, sua utilidade foi executar um homem que estava a beira da morte.

A morte de John Snow. Consequência: Uma possível guerra entre os selvagens e a patrulha da noite, ou o extermínio de todos pelos White Walkers. Há uma consequência, mas ela não nos revolta ou nos faz pensar que algo muito ruim pode acontecer agora que John Snow foi morto. Nem os selvagens, nem a patrulha possuem personagens com os quais tivemos a oportunidade de identificar, já que Sam agora partiu para a Cidadela. Por esse motivo, a morte de John Snow não causou o efeito adrenalina desejado para o último episódio.

O mesmo se aplica a possível morte de Sansa quando ela está prestes a fugir de Ramsey. Consequência: A morte de Sansa não moveria a história, apenas causaria pesar aos telespectadores que gostam da personagem.

Envenenamento de Myrcella. Consequência: Pode causar guerra entre Lannisters e Dorne, mas novamente não há personagens com os quais tivemos a chance de nos apegar nos dois reinos.
  
Por essa falta de elevar os riscos dos acontecimentos, a temporada se mostrou fraca em comparação com as outras temporadas, além de apresentar maior lentidão no curso da história e menos reviravoltas eletrizantes. Obviamente, a temporada também teve bons momentos como o “Walk of Shame” de Cersei, que nos fez questionar onde estava essa “Fé dos Sete” nos tempos quando Joffrey era vivo.

Não podemos negar a qualidade de produção da série, que dificilmente sofrerá perda de prestígio ou fãs. Game of Thrones continua sendo genial e polêmica e é com certeza um exemplo a se espelhar. Podemos concluir que até mesmo casos de entretenimento de sucesso devem se atentar para os perigos de se lidar com expectativas.  Todo contador de histórias deve ter em mente que as personagens podem sofrer altos e baixos em suas curvas de jornada, mas os novos acontecimentos de uma narrativa, seja ela em qualquer formato, nunca devem engajar o telespectador menos do que os que ocorreram anteriormente.

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