Storytelling - um tiro certeiro na Guerra Intermidiática
Em 1971, o
economista americano e ganhador do Prêmio Nobel da Economia Herbert Simon
observou que a quantidade de informação produzida pode continuar crescendo, mas
a quantidade de atenção humana é limitada.
Segundo ele “uma riqueza de informação cria uma pobreza de atenção e a
necessidade de alocar a atenção eficientemente entre uma superabundância de
fontes de informação que pode consumi-la. ”

No cenário de
aceleração da proliferação das tecnologias de informação e comunicação nas
últimas décadas, em especial as digitais, o professor e pesquisador da
Universidade de Copenhague Stig Hjarvard aponta para mudanças não
só no âmbito quantitativo, mas também qualitativo nas relações entre sociedade,
cultura e mÃdia. Ao referir-se à mÃdia transnacional – o desenvolvimento de
tecnologias que suplantam a delimitação geográfica antes imposta pela cultura
impressa dos jornais, em especial a internet, o telefone móvel, a televisão via
satélite, etc – o pesquisador afirma que
O ambiente da mÃdia
contemporânea [...] reflete uma mudança quantitativa e qualitativa profunda nas
relações entre mÃdia, cultura e sociedade. Hoje, experimentamos uma
midiatização intensificada da cultura e da sociedade que não está limitada ao
domÃnio da formação da opinião pública, mas que atravessa quase toda
instituição social e cultural, como a famÃlia, o trabalho, a polÃtica e a
religião. As mÃdias são coprodutoras de nossas representações mentais, de
nossas ações e relacionamentos com outras pessoas em uma variedade de contextos
privados e semiprivados, e deverÃamos considerar essa revolução significativa.
(HJARVARD, 2014, p. 24)
É nesse ambiente
de mudança e aceleração de convergência midiática que a problemática apontada
por Herbert Simon se potencializa. Com a fragmentação das vias de
interação proporcionada pelo acesso cada vez mais rápido às tecnologias de
informação e comunicação, aumenta o volume de informação produzida o que gera escassez de atenção. Evidência dessa problemática
foi o triste fechamento de 9 marcas da Editora Abril no começo de agosto desse
ano, que serve para ilustrar que com a abundância de informação e canais de
informação o público deve escolher onde e como vai depositar sua atenção.
A Editora Abril é
apenas uma das muitas que se encontram em um cenário ambÃguo de consumo
midiático. Por um lado, a diversidade de veÃculos oferece um
potencial gigantesco. Com o amplo acesso e a mobilidade de diferentes meios de
comunicação, dispositivos comunicacionais e tecnológicos configuram um campo de
possibilidades aparentemente sem limites para estratégias de alcance e
divulgação de mensagens. Por outro lado, coloca-se um desafio pela hegemonia
entre as diferentes mÃdias.
De acordo com a teoria Cultura da Convergência
desenvolvida no livro homônimo de Henry Jenkins, o cenário atual é
caracterizado pela reapropriação de conteúdos e produção midiática cooperativa,
que integra agentes como: mÃdia corporativa, mÃdia alternativa, consumidor e
afins. Os produtos de novas e velhas mÃdias se tornam hÃbridos, reconfigurando
a relação entre as tecnologias, indústria, mercados, gêneros e públicos. Ocorre
um cruzamento entre mÃdias alternativas e mÃdias de massa, que se tornam receptivas
por múltiplos suportes, caracterizando a era da convergência midiática. Entrentanto, o austrÃaco François Jost se contrapõe ao uso do termo
convergência uma vez que
O que se coloca há alguns
anos sob o nome de convergência é um processo mutável, instável, proteiforme,
em que vemos do dia para a noite, de uma paÃs a outro, inverter a
hierarquização das mÃdias. De um lado, a televisão dita sua lei à internet
transmitindo programas que são replicados em sites dedicados ou fabricando
séries que são consumidas na internet; de outro lado, os sites de
compartilhamento ou de vÃdeo on demand propõem uma alternativa ao consumo das
redes. [...] Já há algumas décadas o combate entre computador, televisão e
telefone continua e é bem astuto aquele que puder dizer quem ganhará. (JOST,
2011, p. 95)
Sem previsão de vencedor nessa guerra intermidiática,
como apontado por Jost, marcas e empresas tentam bombardear seus consumidores
em todas as possibilidades de contato. Em estudo de hábitos de consumo de mÃdia
realizado nos Estados Unidos, o instituto SJ Insights constatou que o número de
horas a que um americano adulto é exposto a conteúdos mediados por dispositivos
tecnológicos cresceu de 5,2 horas em 1945 para 9,8 horas por dia em 2014.
Entretanto, o que se vê não é uma maior assertividade
em comunicação, mas um exagero que muitas vezes é prejudicial tanto para marcas
quanto para consumidores. O SJ Insights estima que, das 5.000 mensagens
publicitárias a que os cidadãos dos EUA são expostos diariamente, 153 sejam
efetivamente notadas, 86 gerem algum tipo de lembrança e 12 sejam capazes de
despertar alguma motivação. Mas então, como receber a atenção desse consumidor tão
saturado de informação? A resposta talvez esteja em nossa evolução.
Para o Dr. John Medina, em seu livro Brain Rules (em
inglês), existem três tipos de estÃmulos que geram atenção:
• Ameaça de morte: nossa necessidade de sobrevivência;
• Sexo: conteúdo sexual remete a nossa necessidade de reprodução para preservação da espécie;
• Emoções e necessidades: tudo aquilo que nos faz humanos.
• Sexo: conteúdo sexual remete a nossa necessidade de reprodução para preservação da espécie;
• Emoções e necessidades: tudo aquilo que nos faz humanos.
Graças ao processo evolucionista que passamos, temos tendência a prestar atenção em informações passadas em um formato narrativo que contemple esses três estÃmulos. Não é a toa que comerciais e produtos de entretenimento vêm recheados desses elementos. Desde anúncios de venda de carros a séries premiadas como Game of Thrones, por exemplo, o Storytelling se faz necessário para cativar a atenção do público. Uma história bem contada uma vez pode valer mais do que 10 anúncios disparados em sequência.
Sendo assim, em uma cenário de guerra intermidiática o
Storytelling pode vir como um tiro certeiro no público que se deseja atingir,
ao invés de um lançamento de granada como muitos anunciantes fazem. No lugar de
um “Quer pagar quanto?” a praticamente cada intervalo comercial, o anunciante que
contar uma história que passe sua mensagem pode ter resultados muito mais satisfatórios e distribuir melhor seus gastos em comunicação ao mesmo tempo. Sabe aquela velha
história do menos é mais? Então, ela também se aplica aqui. E o consumidor
agradece.
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