A MULHER-ESQUELETO

Foto de "El wayqui" César Villegas



Fotos de Renata Rossi

Depois de uma semana de imersão completa e absoluta na tradição oral e no universo das histórias - do Brasil e do mundo - volto ao mundo real, à labuta. No Boca do Céu  Encontro Internacional de Contadores de Histórias vi, ouvi e aprendi muito, muito mesmo. Contadores de história franceses, africanos, peruanos, ingleses, americanos, marroquinos e brasileiros compartilharam seus contos, que muitas vezes se misturam às suas próprias histórias de vida.

De olhos e ouvidos bem atentos, prestava atenção e anotava cada detalhe. E como são os pequenos detalhes que fazem a diferença, era preciso estar atenta. Foi aí que algo me capturou. Fui arrebatada por uma história e naquele momento nada mais importava, apenas queria seguir com a personagem, estar ao seu lado, compartilhar sua experiência. É como se o tempo tivesse parado.

"Ela havia feito alguma coisa que seu pai não aprovava, embora ninguém mais se lembrasse do que havia sido. Seu pai, no entanto, a havia arrastado até os penhascos, atirando-a ao mar. Lá, os peixes devoraram sua carne e arrancaram seus olhos. Enquanto jazia no fundo do mar, seu esqueleto rolou muitas vezes com as correntes. 

Até que um dia um pescador veio pescar. Bem, na verdade, em outros tempos muitos costumavam vir a essa baía pescar. Esse pescador, porém, estava afastado da sua colônia e não sabia que os pescadores da região não trabalhavam ali sob a alegação de que a enseada era mal assombrada. O anzol do pescador foi descendo pela água abaixo e se prendeu - logo em quê! - nos ossos da costela da Mulher-Esqueleto."

A crueldade com que começa a história já é de assombrar. Mas um momento de virada, introduzido na história com quatro simples palavras - Até que um dia... - me despertou a esperança de que algo poderia mudar, de que tudo poderia mudar. Foi isso que me capturou.

Esse é o trecho inicial do conto A Mulher-Esqueleto, da psicanalista e poetisa Clarissa Pinkola Estés. Ele foi narrado no Boca do Céu pela atriz e contadora de histórias Kelly Orasi, que usa brilhantemente o teatro de objetos para contar histórias. O que me jogou para dentro da história foram quatro simples palavras. Uma lição aprendida sobre storytelling...

Quem quiser ver um trechinho dessa história, vá direto ao minuto 2:33 do vídeo. 




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