Como não se frustrar com as mortes em Game of Thrones



O texto foi publicado originalmente pelo portal Série Maníacos

Com o fim da quinta temporada do seriado de maior sucesso da atualidade, choveram lágrimas na internet e nos rostos de milhões de fãs por todo o mundo. Aliás, se você não chorou porque ainda não assistiu ao episódio, melhor não ler esse texto: ele! contém! spoilers!

Storytelling é a disciplina que estuda o funcionamento das histórias, que apesar de ser uma atividade milenar, possui mecanismos que são tão imutáveis quanto as leis da física. Todo aluno de um bom curso sobre o tema aprende algumas premissas fundamentais. Vou simplificar três das mais importantes, caso ainda não tenha tido a oportunidade de se aprofundar no assunto.

A ficção é uma obra composta por invenções e mentiras com objetivo de expressar a verdade. Para isso, os autores recorrem ao poder da verdade humana, aquela verdade inegável, que faz com que a gente se coloque no lugar de um personagem e pense "se eu estivesse no lugar dele... acho que faria a mesma coisa."

Os autores trabalham a verdade humana para gerar a empatia na audiência, que pensa: "eu sou diferente dele, não concordo com a sua atitude, mas acho que o que ele está fazendo a única coisa que ele pode fazer, na posição em que ele está."

Para aumentar a torcida, autores recorrem ao princípio do Destino. São promessas grandiosas ligadas ao futuro de seus personagens. A audiência fica imaginando como vai ser quando o personagem for coroado, punido, vitorioso ou vingado.

Para facilitar, muitos autores agrupam esses princípios de uma só vez. Nesses casos, o protagonista é 'o escolhido' para realizar um grande feito, é guiado por iniciativas nobres e aprende a lição ao longo da sua jornada, garantindo uma experiência mais segura para a audiência.

Não é o caso do autor George R. R. Martin. Para ele a audiência é exatamente isso: espectadora. Ele não escreve para agradar o seu leitor e a expectativa da audiência não influencia nos caminhos do seu enredo.

Mais do que pregar uma moral para a audiência, George R.R. Martin deixa que a própria história ensine a moral aos personagens. Tudo o que a audiência pode fazer é escolher com mais cautela
por quem torcer. Para facilitar a escolha e poupar lágrimas ao final das próximas temporadas, compilei algumas dicas

A primeira lição é: não importa se o personagem é 'do bem' ou 'do mal'; se ele é guiado por princípios nobres ou egoístas. A saga é pautada por muitos acontecimentos reais da época medieval, entre eles a Guerra das Rosas e o Casamento Negro. Diferente dos contos de fadas, no mundo real nem sempre vence o bem.

A segunda lição: pouco importa se você considera justo ou injusto um personagem ser recompensado. No universo de G.R.R.M. a meritocracia não tem a ver com motivação ou propósito, e sim com aprendizado e adaptação.

Se o personagem não aprende a sua lição, ele paga caro, muitas vezes com a própria vida. Vamos ver algumas lições que não foram compreendidas a tempo:
Ned Stark, "na guerra dos tronos, ou você vence ou você morre"
Tyrion Lannister, "quem fala o que quer, vive o que não quer"
Robb Stark, "faça guerra, não faça amor"
Joffrey Baratheon, "quem faz o que quer, vive o que não quer"
Jon Snow, "não adianta querer salvar o mundo, se você não consegue resolver os problemas dos seus próprios irmãos"

De todos os exemplos acima, o único que ganhou uma segunda chance foi o Tyrion, mas muito mais por sorte do que por merecimento. Se ele não aprender logo a sua lição, do próximo julgamento ele não escapa.

Por outro lado, quem aprende, acaba sendo premiado, como no caso de Sam. Ele prestou atenção aos indícios e previu qual seria o seu destino se não aprendesse a lição e tomasse uma atitude. Agora ele está a caminho de realizar seu destino de se tornar um grande maester e, quem sabe, até de se realizar o seu sonho de se tornar um mago.

A última lição: para que algumas promessas grandiosas sejam cumpridas, outras vão por água abaixo. Foi isso que Shireen aprendeu com Stannis, que por sua vez aprendeu com Brienne, que chegou para cumprir o seu destino.

Então, se você não quer sofrer nas mãos do George Martin, ao invés de torcer para o 'good guy', mais humano e merecedor de um final feliz, aposte suas  fichas emocionais naquele que estiver mais atento ao que se passa ao seu redor e que esteja se esforçando para antecipar os possíveis desfechos negativos. Se você tiver dificuldades em fazer essa análise, bom, aí só tem duas soluções: compre um estoque de lenços de papéis ou estude Storytelling antes de ler o próximo livro ou assistir à próxima temporada da saga. 

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