HERÓI: FIO CONDUTOR DA NARRATIVA




Na Ășltima terça-feira, Ariano Suassuna falou a uma plateia lotada sobre tradição oral. Ele e GuimarĂŁes Rosa foram nomeados expoentes da reinvenção da oralidade na literatura brasileira pela Mostra Sesc de Artes. Em sua fala, ele deixou bem claro a importĂąncia do personagem. A consistĂȘncia em sua construção Ă© fundamental para a histĂłria. O herĂłi ali descrito foi Riobaldo, o narrador de Grande SertĂŁo: Veredas, obra de GuimarĂŁes Rosa. 

Riobaldo foi estudado e reestudado pelos mais diversos crĂ­ticos literĂĄrios, escritores, professores de literatura. Eu, que nĂŁo me enquadro em nenhuma dessas categorias, tomo a liberdade de fazer minha prĂłpria anĂĄlise. Para mim ele Ă© um Ăłtimo personagem porque Ă© capaz de conduzir pela histĂłria. Ele levou – e leva – diversos leitores com ele pelas paisagens, pelos conflitos, pelas tristezas do sertĂŁo com um jeito e falas caracterĂ­sticos que o revelam por inteiro. A sua simplicidade faz quem acompanha a narrativa se compadecer da sua causa, faz torcer para que ele descubra o que o atormenta na amizade com Diadorim, com aqueles olhos de onda do mar, como ele dizia. O que ele tem Ă© verdade humana. Simples assim.  

Um personagem como esse pode custar a “nascer”. É um exercĂ­cio, um desafio para o autor. Mas quando bem pensado, bem desenhado, bem construĂ­do, ele vem e mostra a que veio. No mundo das histĂłrias, a gente vĂȘ todo tipo de personagem, mas sempre tem um que deixa sua lembrança. Para mim, hĂĄ uma dupla que causa muitas reflexĂ”es a cada conto que leio ou ouço: Sherazade e o inflexĂ­vel Rei Shariar, de As Mil e Uma Noites. Ele era perseguido pelo fantasma de uma traição, enquanto ela estava em busca da redenção. AtravĂ©s das histĂłrias – muitas histĂłrias, hĂĄ que se ressaltar – ela venceu.  

Essa consistĂȘncia do personagem, que causa vontade de caminhar com ele, de torcer, de se compadecer da sua causa e atĂ© de sentir seu amigo Ă© resultado da construção baseada nos arquĂ©tipos, os personagens maiores que a vida. Eles fazem parte do inconsciente coletivo, se repetem nas mais diversas culturas e servem como fonte de inspiração de forma atemporal.  O arquĂ©tipo do amante te leva de volta Ă  sua primeira paixĂŁo, o do guerreiro te pĂ”e frente a frente com teu maior medo e te ajuda a encarĂĄ-lo. Esses padrĂ”es nos ajudam a construir novas histĂłrias e ao beber dessa fonte Ă© que construĂ­mos nossa prĂłpria histĂłria.

Diante de toda tecnologia e conteĂșdo com que somos soterrados, sobra informação e falta tempo para absorver, digerir, internalizar e atĂ© mesmo botar pra fora. É nesse cenĂĄrio que os arquĂ©tipos entram como valioso trunfo para quem quer criar histĂłrias. É a partir desses personagens maiores que a vida que se criam narrativas crĂ­veis e recheadas de verdade humana. Eles dĂŁo vida Ă s histĂłrias desde os tempos mais remotos, como os herĂłis da mitologia grega Zeus, Eros, Afrodite...                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     


imagem: http://wallsdl.com/wp-content/uploads/2012/06/Greek-God-Zeus.jpg

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