HERÓI: FIO CONDUTOR DA NARRATIVA

https://www.storytellers.com.br/2012/07/heroi-fio-condutor-da-narrativa.html
Na última terça-feira, Ariano Suassuna falou a uma plateia
lotada sobre tradição oral. Ele e Guimarães Rosa foram nomeados expoentes da
reinvenção da oralidade na literatura brasileira pela Mostra Sesc de Artes. Em
sua fala, ele deixou bem claro a importância do personagem. A consistência em
sua construção é fundamental para a história. O herói ali descrito foi
Riobaldo, o narrador de Grande Sertão:
Veredas, obra de Guimarães Rosa.
Riobaldo foi estudado e reestudado pelos mais diversos críticos
literários, escritores, professores de literatura. Eu, que não me enquadro em
nenhuma dessas categorias, tomo a liberdade de fazer minha própria análise.
Para mim ele é um ótimo personagem porque é capaz de conduzir pela história. Ele
levou – e leva – diversos leitores com ele pelas paisagens, pelos conflitos,
pelas tristezas do sertão com um jeito e falas característicos que o revelam
por inteiro. A sua simplicidade faz quem acompanha a narrativa se compadecer da
sua causa, faz torcer para que ele descubra o que o atormenta na amizade com Diadorim,
com aqueles olhos de onda do mar, como ele dizia. O que ele tem é verdade
humana. Simples assim.
Um personagem como esse pode custar a “nascer”. É um
exercício, um desafio para o autor. Mas quando bem pensado, bem desenhado, bem
construído, ele vem e mostra a que veio. No mundo das histórias, a gente vê
todo tipo de personagem, mas sempre tem um que deixa sua lembrança. Para mim,
há uma dupla que causa muitas reflexões a cada conto que leio ou ouço: Sherazade
e o inflexível Rei Shariar, de As Mil e Uma Noites. Ele era perseguido pelo fantasma de
uma traição, enquanto ela estava em busca da redenção. Através das histórias –
muitas histórias, há que se ressaltar – ela venceu.
Essa consistência do personagem, que causa vontade de caminhar
com ele, de torcer, de se compadecer da sua causa e até de sentir seu amigo é
resultado da construção baseada nos arquétipos, os personagens maiores que a vida.
Eles fazem parte do inconsciente coletivo, se repetem nas mais diversas
culturas e servem como fonte de inspiração de forma atemporal. O arquétipo do amante te leva de volta à sua
primeira paixão, o do guerreiro te põe frente a frente com teu maior medo e te
ajuda a encará-lo. Esses padrões nos ajudam a construir novas histórias e ao
beber dessa fonte é que construímos nossa própria história.
Diante de toda tecnologia e conteúdo com que somos
soterrados, sobra informação e falta tempo para absorver, digerir, internalizar e
até mesmo botar pra fora. É nesse cenário que os arquétipos entram como valioso
trunfo para quem quer criar histórias. É a partir desses personagens maiores
que a vida que se criam narrativas críveis e recheadas de verdade humana. Eles
dão vida às histórias desde os tempos mais remotos, como os
heróis da mitologia grega Zeus, Eros, Afrodite...
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