UMA HISTÓRIA CENSURADA

https://www.storytellers.com.br/2012/10/uma-historia-censurada.html
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Um
assunto que está aquecendo o debate entre estudiosos de literatura
infantojuvenil é a tentativa de censura a duas obras de Monteiro Lobato, sob a
acusação de racismo. Gerações e mais gerações – a minha, inclusive – foram alimentadas,
alfabetizadas e introduzidas ao (saudável e louvável) hábito da leitura a
partir das peripécias passadas no Sítio do Picapau Amarelo.
Não me
ocorre à memória ninguém que tenha crescido racista por conta de passar horas e
horas deliciando-se com as travessuras de Pedrinho, Narizinho e a boneca
Emília. Assim como as pessoas não se tornam marginais porque cantam “Atirei o
pau no gato, mas o gato não morreu” quando crianças.
Em vez de
censurar a obra, não seria o caso fazer um estudo com os alunos da época em que
ela foi escrita para entender seu contexto histórico e o porquê dessa ou
daquela expressão?
Em busca
de entender mais sobre a polêmica, encontrei a palavra de dois estudiosos que
destacam pontos importantes. E a censura? Parece bastante questionável.
A
professora Nelly Novaes Coelho, autora de obras de referência na literatura
infantojuvenil – em entrevista à Época – considera o veto uma tolice, uma vez
que entre as funções da literatura está a de explorar a realidade. “A história brasileira tem a escravidão por base. Isso
levou a um preconceito muito fundo e não se pode passar a borracha nisso nem
colocar dentro de um armário e fechá-lo.”
Já João Luís Ceccantini, pesquisador de literatura infantojuvenil e coautor
do livro Monteiro Lobato – Livro a Livro, estuda a forma como as crianças
assimilam a literatura. Em entrevista à Veja concluiu: "Eu tenho
estudado a forma pela qual as crianças absorvem o que leem e minha conclusão é
que elas sabem identificar os excessos dos livros. Elas se apegam ao que é bom,
à essência das histórias – e, no caso de Lobato, essa essência não é
racista."
Realmente
não dá para passar uma borracha no passado. E querer censurar histórias
– que podemos considerar como obras de arte – porque hoje algumas de suas
expressões podem ser interpretadas como estereotipadas ou racistas soa exagerado.
O que Lobato escreveu em 1920 era um retrato da época, o recorte da realidade,
daquela realidade.
E se as histórias de Monteiro Lobato não tivessem sido publicadas sob a acusação de racismo?
E se as próximas gerações não conhecerem essas histórias?
Pois é, Rê, e se essa moda pega... Algo semelhante aconteceu na França, no momento em que o governo francês decidiu retirar o autor Louis-Ferdinand Céline de suas comemorações.
ResponderExcluirVale a leitura do texto do sempre genial Mario Vargas Llosa
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-literatura-nao-e-edificante,681721,0.htm