E então... dinossauros!
https://www.storytellers.com.br/2015/01/e-entao-dinossauros.html
Não importa. Você pode preferir um filme sobre dois
adolescentes com câncer, uma trilogia sobre uma menina arqueira do futuro, ou até
uma trama conceitual sobre amor e sistemas operacionais. Mas isso não muda o
fato de que alguns dos grandes monstros de bilheteria são literalmente monstros.
Um gorila alpinista, um tubarão psicótico, ou um lagarto antissocial são alguns
exemplos desses grandes. Os dinossauros são ainda mais assustadores, pois
parecem ter conquistado o fascínio de quase todas as crianças do mundo (e
alguns adultos também) e, mesmo extintos, estão lá, devorando pessoas e mercados
de entretenimento desde o auge dos anos 90. Talvez tenham perdido sua
imponência desde então, mas parecem lutar ferozmente pelo seu espaço (que não é
pequeno).
Dinossauros, robôs e galáxias
Em junho de 2015, os monstros de Jurassic Park voltarão às
grandes telas com um quarto filme, quebrando o hiato de quase 14 anos desde o
último lançamento. Mas não são só eles. Guerra nas Estrelas e O Exterminador do
Futuro também pretendem chegar com suas sequências e marcar mais passos em
trilogias que se estendem desde 1977 e 1984, respectivamente.
Mas por quê? Por quê essas histórias insistem em voltar? Melhor,
por quê as pessoas ainda gostam de dinossauros, robôs e galáxias? Não
precisamos ser gênios do Storytelling para perceber um padrão nessas narrativas.
Por exemplo, as de dinossauro. Tem sangue. Tem gritos. Tem mortes. Tem T-rex. A
trama em si não importa muito, enquanto houver esses elementos. Então porque
ainda sobrevivem, em um mundo onde a guerra por atenção aniquila centenas de tramas
não tão interessantes?
Calma. Não vamos nos desesperar. O que acontece é que, na
verdade, nesses casos, as tramas importam sim, mas de uma outra forma. Para
entrar no mundo aterrorizante e fascinante dos dinossauros, precisamos de um
guia. Esse guia pode imprevisível e cativante, e a viagem será ainda mais
emocionante. Esse guia pode ser monótono e antipático, e a viagem vai perder um
pouco da graça. Esse é o papel da trama. Mas, em qualquer hipótese, não é a
atração principal. A atração principal sempre serão os Tiranossauros,
Velociraptores e pterodáctilos.
O universo e a narrativa
Os dinossauros, o sangue e as mortes são elementos do
universo de Jurassic Park (assim como os sabres de luz são de Guerra nas
Estrelas e robôs exterminadores são de Exterminador do Futuro). Todo universo é
criado por uma narrativa, e, mais do que isso, todo universo depende de uma narrativa
(os dinossauros só são legais se alguém for perseguido por eles). O que
acontece é que, às vezes, alguns universos tornam-se tão poderosos que se
distanciam de suas narrativas originais e parecem ganhar vida própria. Assim, as
tramas ficam subordinadas aos próprios elementos.
Pode parecer um pouco ingrata essa história de uma narrativa
criar um universo que se torna mais importante do que ela própria. Porém, esse
é um dos maiores poderes das histórias. Enquanto as narrativas são perecíveis,
os universos não, e podem ser fontes infindáveis de novas narrativas: eles as
sustentam e as potencializam. Algo semelhante ocorre com as marcas. Algumas contam
com tão universos tão bem articulados no imaginário de seus consumidores, que
as histórias que contam duram e se reinventam por décadas. O universo é o
objetivo maior, e esse é o poder do Storytelling.
Por isso, não é difícil entender porque os dinossauros e
seus amigos do século passado sobrevivem até nossos tempos. Eles deixaram de
ser simples narrativas e passaram a ter um mundo próprio, alimentado pelo
imaginário de inúmeros fãs que desejam embarcar em tours cada vez mais
emocionantes por essa ilha de entretenimento. E, agora, não há meteoro que
possa destruí-los.