Realmente Storytelling


Nos Ășltimos dias do ano o Storytelling tem sido alvo de denĂșncias, debates e, inevitavelmente, bastante senso-comum. Os recentes escĂąndalos envolvendo as histĂłrias que contam os sucos Do Bem e a Diletto acenderam a questĂŁo: quais sĂŁo os limites da ficção na publicidade – mais do que isso – no branding, na construção de marcas?


Durante mais de um ano, quando Diletto ainda nĂŁo ocupava as pĂĄginas policiais dos principais portais, me propus a estudar o tema sem atirar pedras ou moralizar o assunto. O resultado, para quem quiser ler, estĂĄ aqui.

De uns dias para cĂĄ, o novo jargĂŁo entre publicitĂĄrios e entusiastas das marcas tem sido algo como “marcas nĂŁo devem contar histĂłrias, marcas devem fazer histĂłrias”. O que faz, sim, muito sentido. Mas para se fazer histĂłrias, primeiro, Ă© preciso saber contĂĄ-las. JĂĄ sabemos contar histĂłrias?

Fato Ă© que, ultimamente, como espectadores ou como consumidores, temos buscado cada vez mais aquilo que nos Ă©, ou ao menos nos parece, mais real e autĂȘntico. Ao mesmo tempo em que queremos que as frutas dos sucos Do Bem sejam mesmo produzidas pelo senhor Francesco, no interior de SĂŁo Paulo, nĂŁo toleramos mais usos e abusos no Photoshop nas capas de revistas e lotamos salas de cinema para ver cinebiografias autorizadas de grandes estrelas.

Qual Ă© a realidade que estamos buscando?

Entre os principais cotados para o Oscar do ano que vem, até agora, temos 3 cinebiografias (A Teoria de Tudo, O Jogo da Imitação e Invencível) e o favorito Boyhood, filme que, para contar a passagem da infùncia para a fase adulta, esperou por 12 anos para que os atores e atrizes envelhecessem naturalmente.


Em “Simulacros e SimulaçÔes”, um livro pra lĂĄ de cabeludo que usei em meu estudo sobre Storytelling e Ficção na construção da Diletto, o autor Jean Baudrillard defende que a realidade, puramente, jĂĄ nĂŁo existe hĂĄ tempos. O que buscamos sĂŁo simulacros de realidade – imagens em FullHD que, tĂŁo bem imitam a realidade, acabam se confundindo e por vezes sendo mais reais que elas.

Assim como na antiga fĂĄbula, onde era bem vista a formiga, que produzia, e condenada a cigarra que sĂł fazia consumir – a realidade nos parece o polo positivo e a ficção o polo negativo. O nobel da literatura, MĂĄrio Vargas Llosa, defende que a ficção Ă© mais verdadeira que a realidade, quando pode moldar uma histĂłria para contar uma verdade que a realidade jamais seria capaz por si sĂł.

Quando o assunto Ă© publicidade e construção de marcas, me parece, mais do que nunca o consumidor prefere a realidade e nada menos que ela. Uma coisa nĂŁo muda: seja realidade, seja ficção, histĂłrias nĂŁo se contam sozinhas. Das telas do cinema aos comerciais de tevĂȘ, para uma histĂłria ser legĂ­tima e autĂȘntica sempre serĂŁo precisos Storytellers de verdade.


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