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O que Sense8 poderia aprender com 50 Tons de Cinza?

Como é que uma série tão amada pelos fãs pode ser cancelada?

Essa questão envolve muitos aspectos da nossa cultura e dos modelos de negócio de streaming de narrativa. Mas a principal área desse processo todo é a nossa boa e velha publicidade. A comunicação determinada pelo sistema capitalista.

Desde o surgimento dos modelos de streaming temos (os publicitários) lidado com a questão da monetização, ou seja, muitos de nós se encontram quase sem querer em conversas com a indagação sobre a sustentabilidade financeira do modelo. A Netflix tem um fonte de renda direta e constante: as assinaturas. Acredito que antes de iniciarem suas produções próprias essa fonte fosse o suficiente para garantir seu lucro e seu funcionamento, mas tenho as minhas dúvidas sobre o quanto esses valores são capazes de manter mega-produções como a série Sense8. Gravada em diversos países, recheada de edições complexas, dependente de um elenco razoavelmente grande e de uma equipe maior ainda uma série dessas custa muito dinheiro para ser gravada. Muito mesmo!

É necessário, então, para que se consiga manter as produções, encontrar uma nova forma de financiamento. Na verdade o esquema da Netflix parecia infalível no papel: Quanto mais séries só eu estiver exibindo e quanto melhores forem essas séries, mais assinaturas eu vou conseguir. Sense8, assim como todas as outras produções originais da empresa era, nada mais, nada menos, do que um de seus produtos, uma forma de conseguir mais clientes. Mas será que o valor pago pelos novos clientes, conquistados por suas produções originais, cobrem os custos necessários para manter essas produções? Acho que os últimos anúncios de cancelamento de The Get Down e Sense8, responderam essa pergunta com um categórico não.

Como, então, conseguir dinheiro?

Uma das possíveis respostas para manter suas séries vivas e seus clientes satisfeitos poderia estar escondida, ou melhor, escancarada, nas páginas de um dos mais polêmicos livros dos últimos anos: 50 Tons de Cinza.

Passei o dia me lembrando de Sense8, revirando todas as cenas que minha falha memória era capaz de buscar, e percebi que não me veio nenhuma marca a mente. Nenhum produto, nenhum licenciamento. Nada! Tenho quase certeza que vi uma marca de carro em um dos episódios da segunda temporada, e talvez tenha esbarrado em mais um ou outro produto. Mas nenhum deles me veio a mente. Agora pergunte para qualquer leitor de 50 Tons sobre as marcas do livro e irá escutar, muito provavelmente Apple e, talvez, Audi. A obra não hesitou em expor marcas. São, na verdade, 23 marcas expostas apenas no primeiro livro, distribuídas em centenas de aparições por toda a história. Um aspecto da obra muito criticado pelo mercado literário e pouco admirado pelo mercado publicitário, mas que lhe garantiu sucesso de vendas. Não só dos livros, mas de muitas outras coisas!

O hotel Heathman, um dos espaços centrais da narrativa, criou um pacote de viagens inspiradas em 50 Tons de Cinza, envolvendo jantares especiais e um passeio de helicóptero para recriar uma das cenas do livro. Suas reservas ganharam proporções estratosféricas! O Hotel, eu garanto, se solicitado pela autora, teria ajudado-a na publicação (se é que não o fez!)

A utilização correta das estratégias de Product Placement pela autora E. L. James poderia ser um exemplo de modelo de negócios interessante para a produção de séries de custos altos como as recém canceladas pela Netflix. O ser humano é treinado para gostar do que conhece e temer o que não conhece, por isso marcas se esforçam tanto para conquistar um espaço na memória das pessoas, o valor publicitário de uma série com milhões de fãs espalhados por todo o mundo é quase (sempre damos um jeito de precificar as coisas) incalculável. Do ponto de vista criativo a utilização de marcas na obra pode encontrar resistência, mas com as técnicas certas e o cuidado necessário, não é preciso comprometer a criatividade em prol da publicidade, pelo contrário, uma boa inserção de marca é parte integrante da trama e tem sua função narrativa como todos os outros elementos da obra.


Talvez, com um pouco menos de preconceito e um pouco mais de publicidade, os fãs de Sense8 não precisariam estar tão decepcionados com uma de suas lovemarks favoritas.

Cinco filmes para assistir na noite do Dia das Bruxas



Essa é uma daquelas datas que todo Storyteller adora, antigamente as pessoas se reuniam em torno de fogueiras para elevarem seus espíritos e se conectarem com os espíritos que assombram suas famílias.  Bem, está certo que acender uma fogueira nos dias de hoje pode causar um transtorno para quem mora em apartamentos, mas preparei uma lista para ajudar você com um ritual moderno, regado a base de refrigerantes, cervejas e pizza: Assistir filmes de terror no Haloween.

Muita gente já falou de filmes clássicos em listas por ai, então vou focar em alguns títulos mais recentes. Vamos lá!


Carrie - A Estranha (2013)

Um bom remake que atualizou a narrativa do clássico inspirado na obra de Stephen King. Carrie retrata um grande desastre ocorrido na cidade americana de Chamberlain, destaque para a Chloë Grace Moretz que faz a protagonista.





Livrai-nos do mal 

Pra quem gosta de histórias sobre possessão e forças demoníacas, este sucesso de bilheteria trás alguns ingredientes que vão garantir sua diversão, quero dizer... seus sustos.  O filme tenta fugir do clichê desse subgênero e leva as forças malignas para os centros urbanos.





Ouija - O Jogo dos Espíritos

Do produtor Michael Bay (transformers), um dos primeiros filmes da Hasbro, Ouija recebeu muitas críticas e teve grandes problemas, que levou a equipe a refilmar muitas partes.  Mesmo assim ainda foi um sucesso de bilheteria.  Dá pra entender o por que: a história fala de um tabuleiro que habita o imaginário do mundo todo, uma ferramenta de comunicação com os mortos.  Para nossa alegria, isso nunca dá certo para os personagens. Buwahahahaha






A Entidade

Você muda com sua família para uma casa bem antiga, encontra rolos de fitas em um porão antigo, eles revelam imagens estranhas de pessoas mortas e símbolos que podem ser de rituais macabros, o que faz?  No mínimo levaria as fitas para queimar em uma encruzilhada e benzeria a casa inteira, pra depois jogar sal nas janelas no melhor estilo dos irmãos Winchester.  É, não seria uma boa história, por sorte de quem está assistindo o protagonista de Sinister (A Entidade) faz tudo ao contrário e o resultado você pode ver hoje a noite - preferencialmente, acompanhado!





Lost Time 

Nenhuma lista de terror estará boa o suficiente para mim, que escrevo Scifi, sem uma boa história de abdução.  Uma mulher com Câncer terminal é curada após uma abdução, porém sua irmã desaparece.  Dá pra imaginar no que isso resultou, em uma busca misteriosa que vai jogar nossa protagonista em uma trama no estilo X-Files!





E vocês, tem algum filme especial que gostariam de assistir na noite de hoje? Podem comentar, mas lembrem-se: as bruxas estarão livres para se divertirem. ;)


[Quiz] Você sabe o que é Storytelling?



O que você realmente sabe sobre contar histórias empresariais? Descubra no teste exclusivo que preparamos aqui no post.  **O teste não funciona em todas as plataformas mobile, para uma experiência melhor use um computador. 





A história que os RPGistas contaram no World RPG Fest 2015



No último final de semana a Storytellers marcou presença no World RPG Fest, evento dedicado a quem curte Role Playing Game com convidado internacional palestrando sobre seus games.  Nossa palestra foi sobre RPG & Transmídia e fez muita gente ficar interessada sobre essa visão de mesclar entretenimento e negócios.

Durante o evento algumas editoras se destacaram pela produção e outras pela empolgação que tem com o seu público, mas é interessante perceber que quando estão no mesmo ambiente todas se comunicam da mesma maneira.  A produção indie de RPG se destacou por apresentar um movimento rumo ao narrativismo - quando a mecânica valoriza mais a contação de histórias.  Porém teve RPG de tudo quanto é tipo lá no evento... e eu não poderia sair do evento sem conhecer um novo escritor, vejam alguns tuítes.






PAPAI NOEL NÃO EXISTE

Aos 12 anos, o garoto já tinha passado pela maioria das mudanças do final da infância. Mas uma delas se recusava a ir embora junto de seus sapatos e roupas que já não serviam mais em seu corpo: ele não queria deixar de acreditar no Papai Noel. 



A história do bom velhinho que todo ano distribui presentes para os bons meninos e meninas pelo mundo era uma mentira para todos os outros garotos, mas não para ele, a quem a história era a alegoria perfeita para aquilo que pregavam os valores do Natal.

Afinal, a história de Santa Claus era uma mentira, como acreditavam os amigos, ou ficção?

O garoto mal sabia, mas a fronteira entre o final da mentira e o começo da ficção continuaria na sua vida por muito tempo e se revelaria uma verdadeira Faixa de Gaza. Como um Storyteller, 2014 fora um ano repleto de discussões sobre o assunto, e sua opinião continuara a mesma desde a infância: ele nunca deixara de acreditar no Papai Noel.

Enquanto alguns acreditam na vilania do Storytelling, após os casos de Do Bem e Diletto, ele continuou a acreditar, desde sua monografia, que esse era um percurso natural na evolução das histórias que constroem marcas. Ao contrário de condenar, ele continuou a crer que deveríamos estudar e entender esse novo fenômeno.

Aonde olhar e o que estudar nesse novo fenômeno para o Storytelling?

A resposta para esta questão, mais uma vez, estaria lá na sua infância, nos dias 25 de muitos dezembros, onde ele nunca deixou de acreditar no bom velhinho. Isso porque a história do Papai Noel se revela um verdadeiro case de Storytelling. O personagem, como conhecemos hoje, foi inventada pela Coca-Cola em 1931 para uma campanha publicitária e, desde então, tornou-se o símbolo do Natal por todo o mundo.

Se a história do Papai Noel é uma mentira deslavada ou uma ficção genial, essa é uma resposta que nem o garoto, nem os colegas da sua infância podem responder. Mas a magia, a ludicidade e o espírito natalino que se expressam ainda depois de anos na figura do Papai Noel, essa sim é a reflexão que devemos pensar a partir desse novo fenômeno.

Realmente Storytelling


Nos últimos dias do ano o Storytelling tem sido alvo de denúncias, debates e, inevitavelmente, bastante senso-comum. Os recentes escândalos envolvendo as histórias que contam os sucos Do Bem e a Diletto acenderam a questão: quais são os limites da ficção na publicidade – mais do que isso – no branding, na construção de marcas?


Durante mais de um ano, quando Diletto ainda não ocupava as páginas policiais dos principais portais, me propus a estudar o tema sem atirar pedras ou moralizar o assunto. O resultado, para quem quiser ler, está aqui.

De uns dias para cá, o novo jargão entre publicitários e entusiastas das marcas tem sido algo como “marcas não devem contar histórias, marcas devem fazer histórias”. O que faz, sim, muito sentido. Mas para se fazer histórias, primeiro, é preciso saber contá-las. Já sabemos contar histórias?

Fato é que, ultimamente, como espectadores ou como consumidores, temos buscado cada vez mais aquilo que nos é, ou ao menos nos parece, mais real e autêntico. Ao mesmo tempo em que queremos que as frutas dos sucos Do Bem sejam mesmo produzidas pelo senhor Francesco, no interior de São Paulo, não toleramos mais usos e abusos no Photoshop nas capas de revistas e lotamos salas de cinema para ver cinebiografias autorizadas de grandes estrelas.

Qual é a realidade que estamos buscando?

Entre os principais cotados para o Oscar do ano que vem, até agora, temos 3 cinebiografias (A Teoria de Tudo, O Jogo da Imitação e Invencível) e o favorito Boyhood, filme que, para contar a passagem da infância para a fase adulta, esperou por 12 anos para que os atores e atrizes envelhecessem naturalmente.


Em “Simulacros e Simulações”, um livro pra lá de cabeludo que usei em meu estudo sobre Storytelling e Ficção na construção da Diletto, o autor Jean Baudrillard defende que a realidade, puramente, já não existe há tempos. O que buscamos são simulacros de realidade – imagens em FullHD que, tão bem imitam a realidade, acabam se confundindo e por vezes sendo mais reais que elas.

Assim como na antiga fábula, onde era bem vista a formiga, que produzia, e condenada a cigarra que só fazia consumir – a realidade nos parece o polo positivo e a ficção o polo negativo. O nobel da literatura, Mário Vargas Llosa, defende que a ficção é mais verdadeira que a realidade, quando pode moldar uma história para contar uma verdade que a realidade jamais seria capaz por si só.

Quando o assunto é publicidade e construção de marcas, me parece, mais do que nunca o consumidor prefere a realidade e nada menos que ela. Uma coisa não muda: seja realidade, seja ficção, histórias não se contam sozinhas. Das telas do cinema aos comerciais de tevê, para uma história ser legítima e autêntica sempre serão precisos Storytellers de verdade.


Medo do desconhecido



Lovecraft foi um dos autores que revolucionou o gênero do Terror americano, porque ele adicionou com seu estilo elementos de ficção e fantasia a estas histórias que antes ficavam longe destes temas.  O mais surpreendente é que ele fez tudo isso sem escrever um livro, pois é nenhum!

Ele escrevia contos, dos quais o mais famoso é "O Chamado de Cthulhu", que inspirou gerações futuras e podemos ver referências em jogos como Silent Hill, Doom, diretores como Guilhermo Del Toro e escritores como Neil Gaiman



Pra celebrar esta data misteriosa do dia 31 de Outubro, nada melhor que acompanhar um documentário que vai levar você para uma viagem na história e na mente deste autor (que eu, particularmente sou bastante fã).


PÁGINA EM BRANCO

Durante três meses eu escrevi uma história. E não escrevi ela sozinho. Durante três meses eu escrevi uma história com outra pessoa. Uma história leve, divertida e envolvente. Semana passada eu entrei em pânico. Percebi que a história que eu tinha criado estava mais complicada do que eu imaginava. Vi que talvez ela não tivesse um final feliz. Ou que nem mesmo teria um final... que poderia resultar em nada de uma hora para outra me deixando com muitas páginas preenchidas a serem jogadas no lixo. Então tive medo de seguir em frente.

Como Storyteller, resolvi que não queria um final ruim para aquela história. E decidi que não estava pronto para investir em uma coisa que achava quase impossível de dar frutos. Então desisti de tudo. Desisti achando que era o certo a se fazer. Achando que não valeria a pena correr o risco de enfeiar uma história tão divertida como aquela. E que, já que ela provavelmente não daria em nada, deveria desistir de tudo logo ali no começo.

Eu estava errado. Hoje vejo isso. E hoje sofro por isso. Não consigo deixar de pensar no que teria acontecido se eu tivesse continuado a história. Afinal, ela era complicada... mas me envolveu muito mais do que eu esperava!

Infelizmente, de nada vale meu arrependimento. A história não era só minha. E agora eu tenho que levar em conta os sentimentos da pessoa que estava a escrevendo comigo.

Então, depois de três meses, hoje eu estou diante de uma página em branco. E isso me assusta. Afinal, o novo assusta! É difícil começar qualquer coisa do 0. É uma proposta tentadora e sedutora quando estamos fatigados de algo costumeiro, mas é preciso ter muita coragem para começar a escrever qualquer coisa em uma página em branco.

Pegue sua vida como exemplo. Se você pudesse escrever exatamente como ela estaria no dia de amanhã, o que você acha que escreveria? É fácil pensar em coisas como “eu ganharia na loteria” ou “eu comeria a Megan Fox”. O difícil é colocar essas coisas em um contexto que realmente se encaixem. Em algo tangível e sólido.

Vamos usar novamente sua vida como exemplo. Pense em coisas possíveis de acontecer e que você quer que aconteçam. Em seguida escreva em uma folha em branco como você gostaria que sua vida fosse daqui para frente baseado nesses pensamentos. Agora tente viver a vida que você acabou de escrever. Dá medo, não dá?!

O novo assusta porque muitas vezes não sabemos o que queremos. E porque, quando sabemos, é difícil contextualizar nossas ideias. Por isso é tão difícil nos desligarmos de velhas histórias, embora muitas vezes seja necessário. Mesmo assim, para superar o medo de uma página em branco só existe um jeito: pensar no que queremos escrever e começar a escrever de fato! Depois das primeiras palavras, tudo fica mais fácil. Inclusive no caso de que você tenha que apagar tudo e começar de novo. Pelo menos as marcas no papel te servirão como sinais do que você deseja expressar.

















Agora eu estou diante de uma página em branco. Eu já sei o que eu quero. Ou pelo menos acho que sei. Só preciso escrever as primeiras palavras...

É a espera até o próximo dia de escrita que é difícil



O site literatortura fez um belo artigo listando a rotina de vários escritores lendários pelo mundo. Um dos que nos chamam bastante atenção é Hemingway: 

“Quando estou trabalhando em um livro ou história, escrevo toda manhã assim que surge o primeiro feixe de luz. Não há ninguém para te perturbar e faz frio, e você começa a escrever e o trabalho te esquenta. [...] Você escreve até chegar num momento em que ainda está bem inspirado e sabe o que vai acontecer em seguida, e você para e tenta viver até o próximo dia quando você é pego pela escrita novamente. Digamos que você começou às seis da manhã, e irá continuar escrevendo até a tardinha, ou pouco antes disso. Quando você para, você está vazio e, ao mesmo tempo, nunca vazio e sim preenchido. Como se tivesse feito amor com alguém que ame. Nada pode te machucar, nada pode acontecer, nada significa nada até o próximo dia quando você o fizer de novo. É a espera até o próximo dia de escrita que é difícil.”

Esse trecho tem tudo a ver com o que a gente já comentou aqui sobre o autor.  Claro, que podemos observar também que cada autor tem uma relação distinta com seu processo criativo e outros vão enaltecer outros pontos.

A GUERRA CONTRA A REALIDADE

Você pode não acreditar, mas estamos em uma guerra contra a realidade. E nessa guerra, a imaginação é nossa única arma.





A realidade é uma merda. É chata, sem graça e muitas vezes cruel. Tem momentos bons e divertidos, claro, como todo tirano que distorce sua face diante das massas. Mas a natureza da realidade é de aprisionamento e decepção.

As notícias dos jornais falam de misérias. Alguns amigos se afastam, arrebentam-se algumas esperanças. No rastro dos nossos fracassos, chega a angústia endemoniada

Todos os dias nós nos sentamos na frente de máquinas para trabalhar. Trabalhamos pelo menos cinco dias por semana para aproveitar dois, e olhe lá. Trabalhamos vendo o sol pelo lado de dentro de blocos de concreto, desejando estarmos em outro lugar. Comemos e dormimos sabendo que o dia seguinte vai ser a mesma coisa. 

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. (Charles Chaplin, O Grande Ditador)





E quem nos persegue nessa guerra é o tempo, o maior aliado da realidade. O tempo do relógio, o que nos escraviza nas repartições, e o outro: o tempo comum a todos nós, espectadores dos grandes desassossegos da ambição universal que, às vezes, assume a forma de massacres, guerras, explosão de ódios, como espasmos epiléticos da humanidade. O tempo é um calhorda, tanto serve a Deus quanto ao Diabo. Você está rindo, mas eu lhe digo: o tempo é um assassino perigoso. Mata a mocidade, desejos, amizades, depois, na velhice, dá o golpe final no que resta de nós (As Feras Mortas, Maximiano Campos).

O tempo nos persegue e a realidade nos aprisiona. Mas muitas vezes eu consigo escapar. E lhe digo como. Eu abro um livro. Ou vejo um filme. Ou jogo algum jogo de vídeo game. É assim que eu fujo da realidade e começo a minha luta contra ela. Vou para um lugar bem distante, onde o tempo não me persegue, mas me serve. Um lugar onde não me preocupo com as responsabilidades do dia seguinte, com dieta, com meus relacionamentos ou com nada dessas correntes. Um lugar onde imagino a vida que queria ter e o mundo onde eu queria viver. E quando volto de lá, estou preparado para a guerra. Volto pronto para enfrentar a realidade, e não para me render a ela. Volto pronto para transformar tudo ao meu redor.

Enquanto histórias forem criadas, a realidade estará comprometida. Enquanto histórias forem contadas, a realidade estará ameaçada. E enquanto a realidade estiver comprometida e ameaçada, ela poderá ser moldada à nossa vontade. É por isso que eu crio histórias. É por isso que eu conto histórias. E é por isso que eu te peço para fazer a mesma coisa. 

Na guerra contra a realidade, a imaginação é a nossa única arma. E eu te peço para usá-la!


OPORTUNIDADE: PALESTRA ONLINE GRATUITA



Muita gente pergunta de cursos de storytelling online, tá aí uma chance de conhecer uma introdução ao assunto: palestra online pelo Sebrae-MG amanhã.

http://www.sebraemg.com.br/atendimento/conteudo/cursos-e-eventos

FLIP-SE!



Desde 2008 ao menos um membro da Storytellers está presente no evento literário mais importante do Brasil, a FLIP. O que para muita gente é turismo e até festa, para nós é trabalho. Sempre acabamos marcando reuniões com editores e livreiros e, acima de tudo, aproveitamos para nos mantermos informados sobre as novidades no mundo da literatura. Aliás, se estiver por lá, dê um alô.

Aproveitando a viagem, fizemos alguns levantamentos sobre alguns autores e achamos que não custava compartilhar por aqui.

Eliane Brum
Autora brasileira muito premiada e especialista em histórias reais.

Charles Peixoto
Autor brasileiro que ao nascer tinha outro nome e mestre na poesia marginal. 

Elif Batuman
Autora estadounidense que tem se dedicado a estudar grandes épicos.

Vladimir Georgievich Sorokin
Autor russo muito popular na literatura contemporânea e crítico ao regime de Putin.

Joël Dicker
Autor suíço é uma das novas vozes da literatura européia e já vendeu mais de um milhão de livros.

Eleanor Catton
Autora canadense, tão jovem quanto o Joel Dicker e laureada com o Man Booker Prize pelo seu segundo romance, The Luminaries. A mesa traz um clima de Granta VS Geração Sub Zero.

Francesco Dal Co
Historiador italiano especializado em arquitetura.

Paulo Mendes da Rocha
Arquiteto brasileiro consagrado e cheio de histórias para contar.

Michael Pollan
Autor estadounidense que trabalha temas de ativismo.

Charles Henry Ferguson
Documentarista estadunidense interessado em temas de guerra e autoridade em temas de tecnologia.

Etgar Keret,
Escritor israelita e um dos mais populares da nova geração. 

Juan Villoro Ruiz
Autor mexicano que critica as redes sociais e as informações nos meios digitais. 

Jhumpa Lahiri
Escritora nascida na Inglaterra e criada nos Estados Unidos. Passou anos tendo seu trabalho rejeitado e quando finalmente publicou uma coleção de contos, em 1999, vendeu mais de 600 mil cópias e venceu o prêmio Pulitzer no ano seguinte.

Andrew Solomon
Autor estadunidense que fala sobre psicologia e aspectos da depressão. Tem uma palestra interessante no TED.

Jorge Edwards
Autor chileno nascido em 1931 com grande repertório, mas no Brasil ainda pouca notoriedade.

Graciela Mochkofsky,
Escritora argentina que trabalha o interessante conceito de livro-reportagem.

Daniel Alarcón,
Escritor peruano que caiu nas graças da crítica internacional.

Almeida Faria,
Escritor português com grande bagagem.

Mohsin Hamid
Escritor paquistanês que tem inovado na estrutura narrativa e diz que prefere que seus leitores leiam suas obras duas vezes ao invés de apenas metade.

2014 O ANO EM QUE A FICÇÃO SUBIU DE SARRAFO


O ano de 2014 está subindo o sarrafo da ficção. Antes, qualquer ousadia ou coincidência era alvo de críticas na linha de 'isso aí é coisa de novela'. Agora a coisa fica diferente: se alguém disser 'isso aí só acontece em filme', o storyteller mais sagaz só precisa dizer uma ou duas das frases abaixo:

- mais 'irreal' do que o avião que saiu da Malásia em direção à China, sumiu, e seis meses depois ainda não se tem nenhuma pista, nem com toda a tecnologia atual? 


- mais 'inverossímil nos dias' de hoje do que a Rússia invadir e anexar um território vizinho em pleno século XXI?

- mais 'exageradamente inesperado' do que país do futebol perder a semifinal em casa, de 7 a 1?

- mais 'cenário forçado' do que Israel chamar o Brasil de anão político?

- mais 'coincidência que não acontece' do que 3 dos maiores autores da história do país morrerem na mesma semana?

- mais 'fora da realidade' do que um banco internacional dizer que se o atual governo for reeleito, a economia do país irá deteriorar? 

Agora não tem mais desculpas... deixe a imaginação voar e mãos à obra!

O gol da Argentina



Nas últimas semanas só se falou em Copa do Mundo. Quem afinal levaria a tão desejada taça...?! Na disputa final deu Argentina e Alemanha. E sabe como é, brasileiro, o verdadeiro torcedor de futebol, parece que não torce pra Argentina. Uma bobagem. Los hermanos são isso aquilo e mais não sei o quê, mas o fato é que Buenos Aires é um dos destinos preferidos pela brasileirada, los hermanos têm ótimas vinícolas e quando se trata de cinema e filmes bons, estão à frente de muitos países, inclusive do Brasil.

E o quê, quem define que um filme é bom? A crítica, o elenco, o valor investido, a quantidade de prêmios?! Bom, também, e pode ser. Para mim um filme bom é aquele que me faz sentir melhor que quando entrei na sala de cinema. Aquele que me dá vontade de ir ao cinema todos os dias. Aquele que me faz pensar que, o que eu queria mesmo, é um trabalho que pague para eu assistir filmes! Acho até que trabalharia de graça. 

E quem curte mesmo cinema sabe: os filmes argentinos (também) estão dando de goleada (e faz tempo).  Talvez seja o eco do crescimento da América do Sul. Ou melhor, da crise do próprio país, no caso, da Argentina. O fato é que nos últimos anos fomos surpreendidos positivamente com o cinema dos hermanos muito mais que o próprio futebol. Ou não?! E devo dizer, sujeita a críticas e ferroadas, ao contrário, dos recentes filmes franceses que têm me assombrado. Salvo exceções.

Mas voltando ao cinema dos hermanos, verdade que o país ficou anos sem novidades; ali recluso, se recuperando da ditadura, entre crises e meio que vivendo seu próprio show de tango. Durante esse processo criou e produziu filmes inesquecíveis. A  lista não é pequena, e olha que devo ter deixado de mencionar alguns: "Nove Rainhas", "O Filho da Noiva", "O mesmo amor, a mesma chuva", "O Segredo dos Seus Olhos", "Medianeras", "Um Conto Chinês",  "Infância Clandestina", "O Ladrão e A  Bailarina", "Elefante Branco", "Lugares Comuns", "Elsa e Fred", "Plata Quemada", "A História Oficial"... só pra citar alguns e bons filmes. 



Elsa & Fred


Um conto chinês
Tá, tem outros tantos filmes bons mundo afora. Fato. Mas por que será que os filmes argentinos ganharam notoriedade, público e já mereceram dois Oscar de melhor filme estrangeiro?! Boa pergunta. 



Medianeras
Nada de grandes produções, efeitos especiais, orçamentos estratosféricos e figurinos de sonho (não que nós, o público comum, não goste das grandes produções, mas hoje, não nos rendemos apenas a elas). Originalidade, ótimos roteiros, podem ser  a resposta correta. Também há que se considerar a franqueza, a clareza, que o cinema argentino expõe os temas abordados. As tramas e os personagens bem construídos. Gente como a gente. 

Como no futebol, é necessário muito trabalho para se ter  e oferecer um bom filme. Dedicação. Inovação. A Argentina sai da Copa 2014 sem a tão deseja taça. Mas leva a dignidade de um povo de luta, que se reinventou, e mostra que tem boas histórias para contar. No campo e no cinema. 





A HISTÓRIA QUE UNIU BRASILEIROS E ARGENTINOS NA FINAL

Um dia o Brasil é acachapado pela Alemanha. No outro, a Argentina passa pela Holanda e chega a final da Copa, da nossa Copa. O que seria capaz de levar milhares de argentinos a um estádio torcer por um jogador brasileiro?

Mais de 8 mil argentinos se reuniram no Luna Park, Buenos Aires, assistindo aos últimos minutos da história do craque Tufão – da novela Avenida Brasil. O sucesso brasileiro de 2012 terminou no país vizinho na última segunda-feira, dia 7, e comoveu os argentinos com mais de 400 mil menções no Twitter.



Se no campo o país do futebol tomou de goleada, na tevê o país da novela venceu e convenceu os hermanos no país do cinema. Com uma trama divertida e cheia de bons personagens, não só até a Argentina, mas a novela Avenida Brasil chegou a 130 países desde seu lançamento.

Em resumo, uma grande história, como Avenida Brasil, se assemelha a uma grande seleção de futebol. Ao mesmo tempo em que grandes personagens – e grandes jogadores – são indispensáveis, um universo ficcional é indispensável ao elenco, e sem uma boa trama como tática a torcida não irá a delírio.

Ainda assim, para unir brasileiros e argentinos em plena Copa, só uma boa história.

O PODER DE UMA HISTÓRIA


Ontem o mundo presenciou uma espécie de profecia autorrealizável. Os senhores da imagem acima são mineiros que prometeram que o Chile passaria de fase, apesar de ter que desbancar Holanda ou Espanha no futebol.

Para quem não é fã de futebol, cabe a explicação de que o Chile foi sorteado dentro do "grupo da morte", considerado o mais forte de todo o campeonato. Isso porque Espanha e Holanda haviam sido os finalistas na última edição do torneio. Foi então que surgiu a história de vencer a morte novamente.

Cada um dos 33 senhores da imagem, que prometeram o acontecimento heróico de vencer a morte, falaram de experiência própria. Eles foram os mineiros que em 2010 ficaram soterrados durante mais de dois meses na mina San José. Antes da Copa eles voltaram ao local para dizer que é possível vencer a morte e até pegaram um pouco do solo para lembrar os jogadores disso. E os jogadores lembraram. E ontem eles venceram: a Espanha e a Morte.




QUAL É O HIGH-CONCEPT DA SUA VIDA?



Ontem rolou na ESPM o Café+Conversation, que quem conhece a Martha Terenzzo ou já fez um 
curso de Storytelling já tanto ouviu falar. Entre café, quitutes, storytelling, cases do mercado e discussões, chamou atenção a apresentação de grande parte dos presentes.

“Depois que eu fiz o curso, pedi demissão…”
“Eu acabei saindo do meu trabalho depois de conhecer o storytelling…”
“Eu estava cansada de fazer sempre a mesma coisa e o curso me encorajou a me demitir…”
Não é que preguemos a demissão, muito pelo contrário. Mas que as estatísticas, pelo menos da amostragem presente ontem no evento, mostraram que sim, o storytelling encoraja as pessoas a irem atrás daquilo que gostam. Ainda que pouco tenha a ver, diretamente, com essa história de contar histórias.
Por que?
Dentre os vários motivos, entre eles a maioria pessoais, eu gosto de lembrar de um conceito do curso: o High-Concept. High-Concept é um termo que no português significa algo como “Grã-Conceito”, o cerne de uma história.
Entendido isso, qual é o High-Concept da sua vida?
Quais são os verbos, os substantivos que comporiam as duas linhas do mote da história da sua vida? Mais do que isso, eles fazem parte do vocabulário do seu dia-a-dia, do seu ambiente de trabalho, atualmente?
Eis que as boas histórias, aquelas que são as melhores desde os “Grã-Conceitos” e que valem a pena ser lidas (que “dariam um livro”), são aquelas que envolvem as mais verdadeiras emoções. O que você tem feito em progresso do que você, em particular, ama saber ou sabe amar a mais que os outros? O que você tem feito para o bem do High-Concept da sua vida?

Se isso ainda é uma grande incógnita para você, seja bem-vindo, o curso pode ser um bom lugar para começar o seu “Era uma vez”.