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Os Fundamentos do Storytelling: origens, princípios e evolução ao longo da última década




Começando pelo conceito: o que é Storytelling?

Se eu tivesse que escolher apenas uma informação de todo o curso, seria essa aqui: Story é uma coisa, Telling é outra.

Para entender melhor, vamos à tradução de StoryTelling. Story significa história. É a parte abstrata do conteúdo. Cada pessoa carrega em si uma versão diferente da história. Isto porque as histórias só existem dentro de nossas mentes, e são feitas de memórias e de imaginação. Story é a morada da criatividade. Assim como o fogo da fogueira, ninguém pode manipular, já que sequer consegue tocar.

Já o termo Telling se refere ao ato de narrar e, mais especificamente, às narrativas. A diferença é que essa é a parte tangível do conteúdo. São os livros, as películas, os DVDs, os cartuchos... Telling é a morada da expressão. Assim como a madeira da fogueira, a função da narrativa é permitir que o fogo apareça.

Assim temos que a definição de storytelling é, literalmente, narrar histórias.

"Na prática, storytelling é a forma mais primitiva e, ainda hoje, a mais sofisticada de transmitir uma mensagem."

Castores sabem represar um rio e transformar o ambiente a seu favor. Alguns macacos sabem fazer ferramentas de pesca. Os humanos são a única espécie que conta histórias. Storytelling é o que nos diferencia dos outros animais.

Começamos a contar histórias nas cavernas, ao redor de fogueiras, e foi justamente por isso que chegamos até onde estamos hoje: no topo da cadeia alimentar.



Por que Storytelling é um conceito novo?

Ora, porque apesar de nós, seres-humanos, contarmos histórias há milhares de anos, nossas empresas estão aprendendo essa arte há pouco tempo. O Google Trends não me deixa mentir:



No Brasil, o interesse tem sido crescente. De novo o Google Trends:



Apesar do tema ser recente dentro das grandes corporações, entre as 3 grandes tendências de marketing para 2013, adivinha quem aparece? Pois é, a nossa amiga Narração de Histórias.



Quando esse tipo de coisa acontece, aparece um monte de gente para falar do assunto. E aí vão dizer que storytelling é uma técnica de comunicação ou, pior, uma ferramenta de marketing. Só digo uma coisa:



"Usar Storytelling como ferramenta, é igual a
usar uma Ferrari para transportar tijolos." 



O pensamento do Storytelling vai muito além de uma simples aplicação pontual. Claro que você pode contar uma anedota para abrir uma apresentação, OK, mas convenhamos que isso não seria o suficiente para fazer do Storytelling a grande tendência do momento, não é mesmo?


Por que o mundo corporativo está tão interessado em Storytelling?

A primeira coisa é que uma história boa e bem contada nos faz descruzar os braços, sentar na ponta da poltrona e impedir que os olhos pisquem. A gente quer absorver cada detalhe da narrativa. No mundo corporativo, isso é chamado de:

"Otimização do share de olhos e ouvidos"

Isso significa que quando a gente mergulha numa história, a gente mergulha de cabeça. A gente larga tudo e segura o livro com as duas mãos e até desliga o celular no cinema. Quem mais tem esse poder de cativar nossa atenção? 

Mais do que uma audiência de leitores, ouvintes ou gamers, quando nos conectamos a uma história, estamos atentos. 

Estar atento se traduz em motivação. Ter atentos garante engajamento. Trocando em miúdos, contar histórias serve tanto para o público interno, como externo.

No ano em que escrevi a primeira monografia brasileira sobre Storytelling, li um artigo da Harvard Business Review que falava que todas as áreas de uma empresa podem se beneficiar com Storytelling: um vendedor pode contar uma história em que o produto é o herói, um gerente de produtos pode incentivar a equipe com uma história que mostre que sacrifícios pontuais geram o sucesso no longo termo, um CEO pode usar uma história emotiva sobre a missão da empresa para atrair investidores e parceiros e inspirar os colaboradores.

Mas e do lado de fora das corporações? Por exemplo, como que uma agência de publicidade pode se beneficiar com Storytelling?

Se Storytelling fosse estudado no campo das ciências exatas, seria representado assim: S > T. A história é sempre maior do que a narrativa. Nesse índice, quanto maior for o S em proporção ao T, melhor será o T. Mas como não é estudado em exatas, vou explicar assim:

"O segredo está nos detalhes, meu caro Watson"

Antes de perguntar se anúncio X é Storytelling, procure ver se existe uma história maior por trás. Qualquer filme você vai conhecer tudo sobre o protagonista: onde ele mora, o que ele quer da vida, de quem ele gosta, quem não gosta dele... Agora tente achar um anúncio sequer em que o protagonista tenha nome. Pois é.

Antes que alguém diga que anúncios são curtos e que por isso são rasos, esse é só mais um argumento a favor do Storytelling: a história pode começar no anúncio e continuar em outras plataformas. É como se o anúncio fosse o trailer para um filme bacana na internet, e o filme bacana na internet vendesse o a marca de uma forma mais bacana ainda. Mas isso é só um exemplo, tem várias formas de valorizar a propaganda e outras formas de comunicação através de Storytelling.

Falando nisso, o que o jornalismo pode aprender com Storytelling?

Na verdade, o jornalismo pode "reaprender" com o Storytelling. Afinal, as equipes dos primeiros jornais eram compostos por equipes de escritores e poetas. Na década de 60 nos Estados Unidos, o jornalismo se confundiu com a literatura no estilo chamado de New Journalism. Era uma luta contra o objetivismo das reportagens diretas e ditas "imparciais".

Se na era do jornalismo impresso a reportagem objetiva levou vantagem pela economia de espaço na página, na era da internet ele perde espaço para outras linguagens mais interessantes. Assim que nos dias de hoje:
"Enquanto você tiver atenção do seu leitor, 
você tem todo o tempo do Mundo."

O jornalista aprende a começar uma matéria com o lead que responda as perguntas "o quê?", "quem?", "quando?", "onde?" e "por quê?". Já o Storytelling ensina que é mais interessante segurar as respostas. Tudo tem a hora certa na arte da narrativa. Pressa é uma palavra que não existe no vocabulário do Storyteller.


Como será o Storytelling no futuro?

Todas atividades humanas serão revestidas por Storytelling. Desde os projetos corporativos, até as escolas, tudo deve se tornar plataforma para narrativa. Não vai ter sequer um powerpoint que não conte uma história.

Se realmente vai ser assim, eu não posso afirmar. Diferente de muitos personagens de histórias clássicas, eu não tenho uma bola de cristal. Mas não seria interessante?

10 anos depois (spoiler: eu estava errado sobre quase tudo)

"Todas atividades humanas serão revestidas por storytelling."

Escrevi isso em 2013. Achei que estava sendo visionário.

Estava sendo conservador.

Não só todas as atividades foram revestidas por storytelling. Elas foram transformadas, hackeadas e reimaginadas por narrativas.

E o mais surpreendente?

Nem sempre para melhor.


A profecia que se cumpriu (com plot twist)

O que eu acertei:

"Não vai ter sequer um PowerPoint que não conte uma história"

Verdade. Hoje é impossível apresentar 10 slides sem uma narrativa.

Mas aqui está o plot twist:

PowerPoint virou o vilão da história.

Canva, Pitch, Notion... a nova geração não quer slides. Quer experiências narrativas.

Vi CEOs apresentando estratégias em Minecraft.
Startups fazendo pitch através de podcasts.
Relatórios trimestrais virando mini-documentários.

A narrativa não revestiu as apresentações. Ela as explodiu e reconstruiu.


O que eu errei (feio):

Achei que storytelling continuaria sendo "a forma mais sofisticada de transmitir mensagem".

Errado.

Storytelling virou a única forma aceita de transmitir mensagem.

E isso criou um problema que ninguém previu:


O paradoxo da saturação narrativa

2013: "Precisamos de mais histórias!"

2024: "Chega de historinhas, me dê os dados!"

Vivemos a fadiga do storytelling. Desse aí, com s minísculo. Cansamos do “storytellinho”.

Quando tudo é historinha, mas nada é enredo de verdade.

Exemplos do colapso:

  • LinkedIn: Cada post começa com "Deixa eu contar uma história..."

  • Reuniões: 15 minutos de metáfora para 2 minutos de conteúdo

  • E-mails: "Era uma vez um KPI que..."

O resultado?

Executivos implorando por bulletpoints.
Investidores pedindo "pule para os números".
Audiências desenvolvendo anticorpos contra narrativas forçadas.

Transformaram Storytelling em storytellinho. Até eu peguei bode.


O que realmente mudou em 10 anos

1. Story vs. Telling: a inversão fatal

Em 2013, expliquei que Story (história) e Telling (narrativa) eram diferentes.

Story = fogo intangível
Telling = madeira que permite o fogo

Hoje?

As empresas dominaram o Telling.
Mas perderam o Story.

Temos madeira perfeita, técnicas impecáveis, consultores especializados...

Mas cadê o fogo?


2. IA: o elefante na sala que ninguém previu

ChatGPT escreve histórias em segundos.
MidJourney cria narrativas visuais instantâneas.
Synthesia gera vídeos com storytelling automatizado.

A pergunta de 1 trilhão de dólares:

Se IA pode contar histórias, o que resta para nós?

A resposta de 10 trilhões:

Viver histórias que valem a pena ser contadas.


As mutações do storytelling corporativo

Micro-storytelling

A atenção média caiu de 12 para a necessidade de ser caputrada em 0,3 segundo.

Nova realidade:

  • Stories de 15 segundos > Apresentações de 15 minutos

  • Um tweet bem contado > White paper de 30 páginas

  • Meme certeiro > Campanha milionária

No entanto, se essa narrativa estiver solta e não fizer parte de um enredo maior, é como uma ponte que leva nada a lugar nenhum. Por trás de cada micro-storytelling deve haver um enredo tão épico quanto estratégico.

Data storytelling

O pêndulo balançou.

2013: "Números são chatos, conte histórias!"
2024: "Histórias são vazias, mostre os dados!"

A síntese:

Narrativas baseadas em evidências.
Dashboards que contam jornadas.
KPIs com arco dramático.

Só que é o seguinte: não adianta achar que colar a planilha no slide vai resolver. Pelo contrário.

O segredo aqui é saber selecionar os números como quem faz um casting de elenco… até porque o lance é fazer com que os números contem histórias.

Exemplo real: Spotify Wrapped. Seus dados viram sua história musical anual.


O lado sombrio que ninguém fala

Storytelling weaponizado

Fake news são histórias bem contadas.
Golpes financeiros têm narrativas impecáveis.
Ditaduras modernas dominam o storytelling.

A lição dolorosa:

A mesma técnica que inspira pode manipular.

A comoditização da autenticidade

"Seja autêntico" virou fórmula.
"Mostre vulnerabilidade" virou tática.
"Conte sua verdade" virou produto.

Quando autenticidade vira estratégia, deixa de ser autêntica.

Ainda assim, autenticidade de verdade e vulnerabilidade genuína continuam sendo raridade. 


O que aprendi sendo pioneiro por 19 anos

Timing é tudo (e eu errei o meu)

Lancei o primeiro estudo em 2007.
Mercado brasileiro: "Story o quê?"

Insisti por 6 anos até estourar.

Lição: Estar certo cedo demais é quase igual estar errado.

O paradoxo do especialista

Quanto mais expert em storytelling você se torna...
Menos suas próprias histórias conectam.

Você sabe demais.
Pensa demais.
Analisa demais.

Às vezes, ignorância é criatividade.

Ainda assim, é possível resgatar o poder das histórias. Só é mais difícil.


As previsões que faço para 2034 (que vou errar de novo)

1. Storytelling quântico

Histórias que mudam baseadas em quem está ouvindo.
IA analisando microexpressões e adaptando narrativa em tempo real.
Cada pessoa recebendo versão única da mesma história.

2. Blockchain narrativo

Histórias corporativas verificáveis.
"Proof of Story" substituindo "proof of work".
Transparência radical através de narrativas imutáveis.

3. Neuro-storytelling

Interfaces cérebro-computador permitindo "download" de histórias.
Experiências narrativas direto no córtex.
Matrix, mas para branded content.

Prevejo que vou errar 75% disso. E tudo bem.


A única verdade imutável sobre storytelling

Dez anos atrás, escrevi:

"Storytelling é o que nos diferencia dos outros animais"

Isso continua verdade.

Mas descobri algo mais profundo:

Não é que contamos histórias porque somos humanos.
Somos humanos porque contamos histórias.

E enquanto formos humanos – com IA, sem IA, no metaverso ou em Marte – continuaremos precisando de histórias.

Não como ferramenta.
Não como estratégia.
Mas como essência.


Um pedido pessoal para os próximos 10 anos

Para você que está lendo:

Pare de tentar "fazer storytelling".

Comece a viver histórias que merecem ser contadas.

Pare de perguntar "como conto melhor?"
Pergunte "o que vale a pena contar?"

Pare de buscar a técnica perfeita.
Busque a verdade imperfeita.

Porque daqui a 10 anos, quando eu escrever outro update, quero estar errado sobre coisas mais interessantes.


O futuro do Storytelling começa com sua próxima história

E qual vai ser?

Compartilhe sua previsão para 2034 →

Vamos errar juntos. Mas pelo menos errar tentando algo novo.

Afinal, as melhores histórias sempre foram sobre isso.


Fernando Palacios continua não tendo bola de cristal, mas agora tem 15 anos de erros documentados para aprender. Este artigo celebra uma década do post original "Fundamentos do Storytelling" e prova que prever o futuro é menos importante que moldá-lo.

Storyteller ou Dinossauro?

Storyteller ou Dinossauro?

Por Stefano Giorgi





  Todos os dias são dias comuns, até que alguma coisa de interessante acontece. E eu sempre procuro essa coisa interessante, mas, algumas vezes, é a coisa interessante que me acha. E foi isso que aconteceu em uma noite chuvosa de quinta-feira na ESPM-SP.
  Chuva já é uma coisa que me desanima. Não sei o por que, mas eu acredito que meu humor varia de acordo com o céu. Se o céu está claro e azul eu estou de bom humor, se está cinzento e chuvoso eu estou de mau humor. Cada dia que passa essa ideia deixa de ser uma superstição na minha cabeça e vira mais e mais uma verdade. E, talvez por isso, eu já estivesse desanimado naquela noite chuvosa na ESPM. Ou talvez fosse por ter assistido uma primeira aula que foi um porre. Seja qual for o motivo, o fato é que eu estava desanimado e a coisa parecia que iria piorar.
  Já estava sentado na sala da segunda aula, esperando que ela começasse logo, para que também terminasse logo. A única alegria que eu pensava que teria naquela noite seria a de chegar em casa e assistir “Gabriela” na televisão.
  Quando descobri que iria ter uma palestra na aula, quase levantei e fui embora. Não sei o que me segurou. Acho que foi a chuva ou o fato de faltar muito tempo para “Gabriela” começar. Nada contra a palestra em si, já que eu não fazia a menor ideia do que se tratava. Mas é que depois de tantas palestras inúteis que eu vi na minha vida fiquei traumatizado e agora só assisto as que penso que realmente me agregarão conhecimentos úteis.
  Os outros alunos começaram a chegar e, depois de a sala estar com um número expressivo de pessoas, a professora se levantou de sua cadeira, fechou a porta e apresentou o palestrante:
  - Pessoal – disse ela -, esse aqui é Fernando Palacios e ele veio aqui hoje para falar com vocês sobre Storytelling.
  Quando eu ouvi a palavra “storytelling” eu me arrependi profundamente de não ter ido embora quando tive a oportunidade, mas era tarde demais.
  Na minha cabeça “storytelling” era uma coisa inútil e se baseava em um vagabundo qualquer que teve uma história de vida interessante e a contava para inspirar os outros e ganhar dinheiro, coisa que eu poderia fazer melhor do que ninguém. Afinal, a minha coleção de histórias pessoais é um verdadeiro tesouro. Eu amo contar histórias, mas acredito que para poder contar boas histórias se deve viver boas histórias. Por isso já me meti em muita confusão. Teve a vez que convenci o meu melhor amigo de que ele estava com uma doença terminal. Teve a vez que eu fui caçado como um animal no Canadá, após passar a virada do ano em uma Rave em um celeiro no meio do nada. Teve também a vez que eu fui participar de uma orgia em uma pracinha e acabei me envolvendo no meio de uma briga de gangues. E tiveram muitas outras vezes que me renderam excelentes histórias e que eu sempre contei para todo mundo que estivesse interessado a custo 0. E talvez por isso eu tivesse um preconceito com essa coisa de “storytelling”. Mal sabia eu que minha mente preconceituosa me enganava. Mas isso eu só descobriria no final da palestra.
  Logo depois que a professora falou, o tal Fernando Palacios se levantou e com um controle remoto abriu a apresentação dos slides da sua palestra em um telão de frente para os alunos. O primeiro slide da apresentação continha uma imagem do filme Aladin e, após Fernando ter cumprimentado a sala, ele começou a fazer perguntas e falar sobre o filme. Fernando pegou uma lâmpada que ele disse ter comprado no Grã-Bazar de Istambul e perguntou:
  - E vocês, se estivessem no lugar dele, qual seriam seus desejos?
  Meu ânimo subitamente voltou. Existem temas que não tem fim e que levantam a moral de qualquer pessoal para abrir suas ideias. Temas como “O que você faria se ganhasse na loteria?”, “Como seria ter uma máquina no tempo?” e, em especial naquele momento, “Qual seriam seus desejos para o gênio da lâmpada?”. Então, como ia dizendo, meu ânimo voltou de súbito. A resposta para aquela pergunta eu já tinha na ponta da língua. Enquanto todo mundo pediria uma coisa chata e genérica como dinheiro, sucesso, felicidade, uma mulher gostosa e perfeita, uma Ferrari, a paz mundial e por aí vai, eu pediria uma coisa única, que sempre quis ter e que só conseguiria com o auxílio de um gênio da lâmpada:
  - Um dinossauro de estimação – eu respondi gerando surpresa e riso na sala de aula.
  - Um dinossauro de estimação? – Fernando me perguntou com um sorriso no rosto. – Essa eu nunca tinha ouvido antes. Mas quem sabe, no final dessa palestra, você não vai desejar virar um storyteller? Eu até te dou a chance de esfregar a lâmpada de Istambul para o gênio vir te atender.
  Eu dei risada e fiz um sinal de “talvez” com a cabeça. Mas dificilmente eu desistiria do meu dinossauro de estimação para virar um storyteller.
  E então Fernando continuou a palestra. Como meu ânimo havia mudado e minha atenção estava cativada, eu ouvi e me impressionei com tudo o que ele falou. E então percebi que storytelling não era o que eu imaginava. Não era uma coisa inútil que se baseava em um vagabundo qualquer que teve uma história de vida interessante e a contava para inspirar os outros e ganhar dinheiro. Na verdade era algo sério, complexo, inovador e extremamente interessante. Em um mundo onde é cada vez mais difícil capturar a atenção do consumidor, como Fernando Palacios fez com a minha, o storytelling oferece uma saída dinâmica e que é uma tendência cada vez maior para o futuro: o de ligar marcas, produtos e serviços a histórias. Histórias que não dizem “comprem”, mas entretêm consumidores e os fazem compreender os valores e ideais de marcas de um jeito totalmente diferente e não agressivo. De um jeito gostoso e simpático ligado ao emocional, que pode ser usado em diferentes plataformas de comunicação. E tudo isso não é fácil de fazer e muito menos para qualquer um.
  Quando Fernando terminou de falar eu aplaudi, e aplaudi muito. Sua palestra me animou de um jeito que nenhuma outra conseguiu me animar. E também serviu para me livrar dos meus traumas em relação a palestras e meus preconceitos errados sobre “storytelling”. Na verdade, depois que a apresentação acabou eu tive certeza de que aquilo seria uma coisa que poderia fazer pelo resto da minha vida. Eu amo escrever, amo criar, amo ter ideias, amo contar histórias e tenho o jeito para a coisa. Então, por que não virar um “storyteller”?
  Finalmente a professora fez a chamada e a classe estava dispensada. Eu estava livre para voltar para a minha casa e assistir “Gabriela”. Mas ainda havia uma coisa que eu precisava fazer: precisava esfregar a lâmpada.
  Mas agora qual era o meu desejo: virar um “storyteller” ou ter um dinossauro de estimação? A dúvida aumentava na minha cabeça conforme eu caminhava em direção à lâmpada. Storyteller ou Dinossauro? Storyteller ou Dinossauro? Storyteller ou Dinossauro? Dinossauro. É, realmente eu ainda queria mais um dinossauro de estimação.
  Foi então que eu peguei a lâmpada do Grã-Bazar de Istambul na minha mão e mentalizei o meu desejo. Mentalizei com força, como se realmente fosse possível um gênio sair de lá de dentro. Percebi então que a lâmpada brilhava e então a esfreguei. O coração batia forte. Por um instante pude ver uma fumaça sair do bico.
  E então... nada. Óbvio que nada iria acontecer, afinal eu estava em uma sala de aula na ESPM e não em um filme fantástico da Disney. Mas como o gênio não apareceu, eu não podia ter um dinossauro. Por isso, Fernando Palacios obteve sucesso e eu mudei meu desejo. Meu desejo agora é de virar um “storyteller”.

A JORNADA COMEÇA AGORA

"


Dois alunos do curso de Inovação em Storytelling já estão se preparando para o extensivo. 


Nada melhor para esquentar os motores do que escrever uma história. Li a primeira versão e dei um feedback, que o Professor Bruno Scartozzoni identificou que merecia se tornar um post.


Olhando assim, é verdade. Esse texto pode ser útil pra todos aqueles que acabaram de começar a contar uma história.


PAM-PARARAMMM!


Graças ao trabalho apresentado vocês acabam de desbloquear a badge "I GOTTA A STORY, BABY!"


A badge dá acesso ao conteúdo inicial do curso STORYTELLING EXTREME - NARRATIVAS AVANÇADAS!

Parabéns! :)

O Curso avançado começa assim:

Talvez a maior perda para o escritor nos tempos digitais tenha sido o aperfeiçoamento esportivo. 
Sim, é verdade. O escritor perdeu o esporte.
Para ser mais específico, o escritor perdeu o basquete. 

Veja qualquer filme antigo e, quanto tiver escritor, pode ter certeza, junto com ele vai aparecer o cesto de lixo lotado de bolas de papel.

Vamos ver o que o velho Hemingway pensa disso... Interceptamos uma confidência dele para o Fitzgerald!

“I write one page of masterpiece to ninety one pages of shit,” 

Pois é, meus caros, mas não se animem... essa proporção 1 página genial pra cada 91 escritas é apenas para os profissionais com pelo menos 3 livros publicados. 

O que eu quero dizer com isso?
Preparem os lápis!

Qualquer coisa em criação sofre de um mal: a síndrome da primeira ideia.

É a primeira solução que aparece. Ela resolve o problema e até por isso se torna muito tentadora.

O problema é que quase sempre essa ideia é básica, desprovida de grandes atrativos.


Ela faz o que faz o Jornal Nacional: informa. Mas ela não faz o que faz Hollywood.
Eis que vem o twist: existe uma solução genial para essa síndrome.

Um antídoto, que também é uma espécie de prêmio para os criativos mais persistentes.

Trata-se de...

voltar a ser criança e brincar com as coisas.

Isso mesmo.

Divertir-se.

Acionar o MODO CURIOSO ON.


Você já tem o seu protagonista. Ótimo!

Ela chama Lia. Legal.

Mas e aí?
Lia? Quem é Lia?
O que ela faz da vida?
Por que ela faz isso?
Quem é o melhor amigo dela?
Será que eu seria amigo dela?
O que ela despertaria em mim? Atração? Repulsa? Medo?
Enquanto a resposta for 'indiferença', a personagem ainda está presa na síndrome da primeira ideia.
Eis a parte matemática do Storytelling, meio que uma "regra de três": enquanto não houver algo interessante sobre o protagonista, ele e tudo na história dele serão boring.
Tem que brincar com o personagem. 
E assim embarcar numa viagem com a Lia.
Porque o lance da narrativa não é falar sobre o personagem em si, mas sobre o que há de interessante nele.

E essa viagem acabar indo para outras viagens.
Quem são essas entidades?
Será que o caminho é mesmo trabalhar com entidades?
Como o Neil Gaiman faz para narrar entidades e ainda assim fazer com que sejam mais que arquétipos: menos deuses e mais humanos.

O que acontece na mitologia grega? 
É fato que cada Deus tem uma 'função' - do vinho, da guerra - mas no frigir dos ovos, nenhum deles é funcional.
Hey! Só por vingança, um deus serve o filho de outro no jantar.

Um processo parecido com a ganhadora do Pulitzer de Ficção em 2011:

E o aconteceria com a Lia se, devido a uma conjunção cósmica do destino, fosse levada a participar da reunião de briefing da Coca-Cola para a W+K?
Ou então numa conversa entre George Lucas e Steven Spielberg.... em que eles estivessem discutindo como criar o Indiana Jones. Já pensou?

Ela tem que estar em lugares que vocês queiram estar. Ou então, por que eu vou querer estar?

Storytelling é um feitiço. O storyteller é um mago. O que ele faz? Transporta as pessoas para um outro estado emocional: o dele.

A narrativa é a última parte. Tem que ter boas laranjas para fazer um suco. 
Comecem plantando as laranjeiras.