JOGOS MENTAIS

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Junior aprendeu os truques com o avô. Na mesa todos assistem
seus movimentos com a maior atenção que podem providenciar por entre as luzes e
sons das máquinas do cassino. A linha entre a verdade e a mentira é tênue e
todos dividem o interesse em descobrir a verdade. Os olhares rápidos e
atenciosos do rapaz, que aprendeu a lidar com as cartas antes mesmo de se
formar no colegial, fazem parte de seu show. Tudo é ensaiado desde a pequena
dança com os dedos até o discurso leve e engraçado. Muitos outros já haviam
sido enganados por blefes e brincadeiras como aquela. Não era a primeira vez
que ele fazia aquilo. Na verdade, ele era um especialista. Com as cartas
escondidas entre as mangas, bolsos e qualquer outro lugar propício, Junior
ganhava a vida. Não é um jogo, muito menos uma brincadeira, o que o jovem rapaz
faz é uma arte.
A moça de vermelho o olha com ar de desconfiada, como quem
assiste a um charlatão dando seu golpe. O homem de terno italiano não consegue
esconder a surpresa em seus olhos e entre uma dose e outra desvia o olhar para
a saia da garçonete. Tudo ali parece proposital, planejado para que o golpe dê
certo. Inclusive a saia da garçonete. É um mundo de fantasia onde todos perdem
a noção do que é real. As leis da física parecem desaparecer. Não saber se é
dia ou noite causa confusão na cabeça das pessoas e em algum momento elas
acabam por se perder em um tempo próprio. A senhora de vestido florido dá
gargalhadas ao perceber o que tinha acontecido. Parecia até, que ela não estava
presente durante todo o processo.
No fim das contas, Junior responde aos aplausos do público
com um aceno sorridente enquanto cartas voam pelos ares e o melhor mágico do
mundo desaparece por detrás das cortinas.