Pontos críticos na Transmidia de Defiance



Defiance é um seriado de ficção científica produzido originalmente pelo canal SyFy que estreou recentemente causando uma enxurrada de notícias em sites de entretenimento e de comunicação. Isso porque os produtores ousaram em criar um dos primeiros produtos de transmidia nativa dos últimos anos.
Transmídia nativa é aquela aonde a expansão do storytelling, através de múltiplas plataformas de mídias é planejada  previamente. 
 Para a indústria do entretenimento, uma narrativa expandida é o melhor que eles podem conseguir. Falar com seu público por vários anos e de várias formas.  Então é muito natural que iniciativas como esta comecem a aparecer em larga escala... aliás a Comcast, que é a maior companhia de TV a cabo, pretende investir além de Defiance 1 Bilhão de Dólares em 6 seriados de com Transmidia Storytelling nativa.  Só Defiance levou 5 anos de planejamento  e 100 milhões de Dólares apenas na fase de desenvolvimento das estratégias. Isso será um prato cheio para que muitas pessoas comecem a olhar para esses assuntos com maior frequência.

O enredo do seriado se passa em torno de uma guerra que se originou com a chegada de várias raças alienígenas que são conhecidas (todas) pelo nome de Votans.  Mesmo com toda sua tecnologia de Terraformação capaz de transformar a biodiversidade da Terra e alterar completamente a geografia do planeta eles, ao buscarem refúgio, não conseguiram perceber que já existia uma raça habitando por aqui. -outh!


Neste cenário, surge um ex-militar humano, Nolan, que caça as naves destruídas que ainda caem do espaço com sua filha adotiva, a votan Irisa. Até que eles se deparam com uma cidade construída sobre a antiga St. Louis. Ela é um tipo de colônia aonde as raças aliens e humanos podem viver em relativa paz. Os conflitos, previsivelmente fazem com que Nolan se torne o guardião do lugar, atualmente é chamado Defiance.

O ponto alto deste projeto é, como anunciado em vários lugares, ter nascido com um MMO (Massive Multiplayer Online) - um jogo online com servidores que suportam milhares de players ao mesmo tempo. A ideia é, que as decisões massivas dentro do game influenciem no desenvolvimento da série.  E existe uma coisa bem interessante que integra o projeto: Algumas keys que liberam equipamentos especiais para os jogadores são espalhadas por emails, social media e (espero) contidas nos episódios transmitidos pelo SyFy.


Mas então se tudo isso está sendo desenvolvido e com tanto investimento em transmídia storytelling o que pode dar errado? 

Pois é, o que poderia? Mas uma busca rápida no Google vai ajudar a perceber uma coisa que em 5 anos os produtores deixaram de lado. Eu acompanhei desde o início as notícias sobre Defiance e desde sempre o motivo principal por ele ter tanto destaque foi a transmídia e não a história.  O esforço na forma foi extravagante, mas no conteúdo nem tanto. Quando assisti o piloto senti como se estivesse mastigando uma embalagem bonita, porém vazia.
Esse é um caminho perigoso para quem pretende produzir transmidia storytelling.  A história sempre deve ser o principal, se ela for realmente boa, naturalmente transbordará para outros meios. 
Até o sexto episódio muita gente tem reclamado que a trama está lenta, não desenvolve e não é suficientemente interessante para engajar. Eu sou fã de ficção e realmente já vi coisas muito melhores.




E o Game... vai? 

Olha, a indústria de MMOs vem sofrendo com um grande dilema, qual modelo de rentabilização adotar. Free to play ou Pay to Play? Alguns grandes projetos como Star Wars Old Republic sofreram terríveis baixas após o período de teste em que começaram a pagar. Por fim tiveram que alterar suas estratégias e começarem a trabalhar com DLC (pacotes para download) pagos, que ofereciam conteúdo exclusivo e assim ganhar grana no servidor gratuito.

Então quando entro no site para tentar acompanhar Defiance também pelo jogo, não existe nem uma versão de teste. Nada do tipo jogue a primeira fase de introdução ao mundo de Defiance. Está tudo pago, assim como Ebooks e HQs, os produtores da série não estão esperando o engajamento, estão investindo agressivamente na rentabilização.  Não estou dizendo que ninguém vai entrar acompanhar a transmídia por esses meios, mas convenhamos que irá reduzir bruscamente as possibilidades de novas pessoas entrando no seu universo.  Eu mesmo não pagarei por algo que não "senti firmeza" com o seriado.
O fato do game ser TPS ( Third-person shooter ou jogo de tiro em primeira pessoa) não ajuda muito na hora de convergir o roteiro da Série.  Mesmo no piloto, se você é um jogador mais experiente, pode ter a sensação de que a maioria das cenas de conflito são como introdução as fases de um jogo de tiro:  "O cara para na floresta apenas com uma arma e alguns monstros super velozes correndo por trás das árvores... Start!"



Eu até me arrisco em dizer que o problema da lentidão no ritmo da trama é porque a todo momento eles tentam usar a série para apresentar ou explicar algo importante da mecânica do jogo.  Porém a imersão que acontece em um jogo de tiro,  na maioria dos casos não é totalmente baseada na narrativa, o que força a série a deixar de lado alguns pontos que podem ser importantes para aprofundar o storytelling, para aprofundar em outra coisa derivada do game.  O que estou dizendo é que tentaram chegar em um meio termo nos roteiros Game/TV para fazer com que as duas coisas andassem juntas e isso pode ter limitado muito alguns pontos da narrativa.

Já no piloto mesmo uma das sete raças tenta invadir a cidade, que perdeu seu campo de força (e nunca pensou em ter um sistema de segurança em caso de emergência) e então todos os moradores, praticamente todos, se armam para enfrenta-los. Aquilo não foi crível, em um MMO você está se ferrando pros NPCs ao teu lado, não se importa com quem eles sejam, mas em uma série todos eles tem nomes, vidas e isso não explicaria a maestria em acertar todos os tiros.

A verdade é que agora os esforços em torno da série, correm na direção de justificar tudo o que foi feito. Talvez seja possível dar um jeito em tudo, já confirmaram uma segunda temporada na TV e vão querer fazer dinheiro e dizer, isso aconteceu, alcançamos um número nunca alcançado. Se vão chegar lá,  isso é outra história.


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