OPINIĂO DE MĂE NĂO CONTA
Este texto foi originalmente publicado em meu blog pessoal, mas hoje eu decidi dividir essa experiĂȘncia com o storytellers por aqui tambĂ©m. Espero que gostem.
HĂĄ dois mundos coexistentes em e em algum momento vocĂȘ deverĂĄ cruzar para o outro lado.
Quando eu comecei a escrever o mundo era mais simples e as palavras eram desenhos no caderno de caligrafia. Depois disso tudo se complicou um pouco, mas era um complicado bom, um complicado legal tipo se apaixonar pela menina mais gata da escola e viver suas próprias aventuras de filme da sessão da tarde pra conseguir, nem que seja, um beijo na testa. Nesse momento da vida a escrita era normal, ainda não era arte só por que eu ainda não sabia muito bem o que era arte. Mas numa noite qualquer de verão na cidade da garoa eu descobri o que era arte enquanto escrevia sobre meu coração quebrado por que e menina mais gata da escola tava beijando o loirinho que jogava futebol e ouvia axé. Quando vira arte tudo se complica, ou não, afinal não existe certo nem errado na arte, só existe o talvez e o talvez vira poema, parågrafo, diålogo, o talvez não existe por que não é certo, não tem forma e se não tem forma, vale tudo. O talvez é o que abre a porta para o outro o mundo.
No outro mundo tudo Ă© diferente e nĂŁo existe mais nem a possibilidade do simples, aliĂĄs, nĂŁo existem muitas possibilidades nesse outro mundo, tudo por aqui Ă© uma certeza ou uma necessidade. Mas o interessante Ă© o que acontece no meio do caminho entre a certeza e a arte. Esse Ă© o momento em que todo mundo reconhece alguma semelhança entre o que a gente faz e uma coisa que eles chamam de talento. Ă show de elogios. Os amigos se emocionam com suas homenagens em forma de poesias e prosas no natal e no ano novo. Os professores começam e te dar dicas e ideias sobre jornalismo, redação e inconscientemente as coisas mudam de novo e o que vocĂȘ escreve, a sua arte, deixa de ser o foco para que todo mundo veja o artista. Ferrou meu amigo! Todo mundo acha que vocĂȘ tem talento nĂ©? VocĂȘ passou a vida toda escrevendo e ouvindo gente te elogiar, se emocionar e incentivar, mas vocĂȘ nĂŁo foi o Ășnico, na sua famĂlia talvez tenha sido, Ă s vezes atĂ© no seu bairro, mas nĂŁo foi o Ășnico na sua escola, nem na sua cidade e ai, quando vocĂȘ chega lĂĄ, naquela faculdade de jornalismo, publicidade ou atĂ© letras, vocĂȘ percebe que o seu texto, honesto e de coração, nĂŁo Ă© sĂł arte, o seu texto Ă© produto, seja vocĂȘ jornalista, escritor de ficção, roteirista ou tradutor, no fim das contas vocĂȘ vende texto e nĂŁo arte. Arte nĂŁo tem forma, texto sim. Arte Ă© o que vocĂȘ cria, o que vocĂȘ faz, texto Ă© o que vocĂȘ entrega e o que os outros vĂŁo ver.
Sua namorada adorou a mensagem de aniversĂĄrio que vocĂȘ escreveu para ela, mas ela adorou por que Ă© sua namorada, tĂĄ fĂĄcil de emocionar. Teu amigo adorava as sacadas que vocĂȘ tinha na escola, te deu a maior força quando vocĂȘ decidiu escrever stand-up, mas nem todo mundo vai entender a sua piada sobre a professora de fĂsica, nem todo mundo vai conhecer a professora de fĂsica. Aquele parĂĄgrafo de uma linha no meio texto pode ser ignorado na sua rede social, mas teu chefe nĂŁo vai gostar dele. Enfim, a parte mais difĂcil jĂĄ foi, vocĂȘ jĂĄ aprendeu a fazer arte, agora vocĂȘ tem que aprender a escrever, mas nĂŁo se preocupe, assim como na vida o melhor nĂŁo estĂĄ nem no começo, nem no final da viagem, a melhor parte Ă© a jornada.
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