AS LIÇÕES DA TELENOVELA: ÚLTIMO EPISÓDIO

Nossas séries ainda engatinham. Nossos filmes, vezes deslancham, vezes encalham. Nossos livros até andam, em círculos. 

Gostemos ou não, o formato de história que é a cara do Brasil ainda é a telenovela. Complexo de vira-lata à parte – temos muito o que aprender com as novelas brasileiras. Esse é o último de 4 episódios sobre as telenovelas brasileiras.

Se você não encontrou o episódio anterior por aqui, é porque ele foi publicado no site do Blue Bus, como segue neste link.

Se é comum o jargão de que o Brasil é o “país do futebol” também porque somos 200 milhões de técnicos, a recíproca não se confirma em 200 milhões de autores por sermos o “país da telenovela”. Isso porque não nascemos escrevendo novelas, enquanto desde antes de nascer – na barriga de nossas mães – já damos pequenos chutes  que são comemorados como um gol.
Escrever histórias já não é algo simples a partir do ponto que escrever é apenas uma pequena porcentagem de construir a história de fato. Escrever novelas então, nem se fala. 
É preciso ocupar o horário mais nobre do maior canal do Brasil, com uma história que converse com as diferentes classes e que, acima de tudo, seja interessante. Enquanto no futebol são 11 os jogadores em campo, na novela chegam até a 100 personagens no ar. Haja entrosamento para a trama.

A NOVELA AINDA É PROTAGONISTA
Nós podemos desdenhar, negar, assistir escondido, preferir as séries da HBO ou até criticar a falta de renovação, mas o gênero da telenovela ainda veste a camisa 10 quando se fala de grandes histórias no Brasil.
Ao mesmo tempo em que ter de falar com todo o perfil de público engessa um pouco de sua criatividade, o modelo da televenovela ainda tem a força de atingir uma grande massa em meio a uma realidade com cada vez mais segmentação.

O PODER DE UMA BOA NOVELA
O modelo de telenovela começou no Brasil em 1951 na antiga TV Tupi. De lá para cá foram centenas de novelas que reforçam o poder de uma história bem contada.
Em 1972 foi ao ar a novela “Bandeira 2”, contando sobre a rivalidade entre dois bicheiros do Rio de Janeiro. Preocupada com o personagem Tucão (Paulo Gracindo), a ditadura que, constantemente, matava cidadãos que representassem ameaça à soberania do governo, ordenou que o personagem teria que morrer ao fim da trama.
E assim foi feito. A notícia da morte do bicheiro Tucão pela ditadura militar revoltou e confundiu a população que, na época, levou 3 mil pessoas ao cemitério em que a cena da morte do personagem estava sendo gravada.
Após a censura de outra novela, “Bandidos da Falange”, em 1982, a novela “O Espigão” ganharia uma versão compacta para substituí-la. A história que trata da especulação imobiliária carioca foi vista com maus olhos pelas construtoras e a pressão, desta vez na esfera privada, conseguiu censurar sua veiculação.

É PRECISO OLHAR COM OUTROS OLHOS
Para fechar e chamar a vinheta do último episódio dessa sequência de posts, a conclusão que fica é que é preciso olhar com outros olhos para as telenovelas brasileiras. 
Pela ótica do storytelling, há muito o que aprender com a complexidade da trama; pela ótica do product placement, há que se evoluir muito além do “merchã” para a inserção inteligente de produtos na história; e, principalmente, pela ótica da recepção, temos muito o que aprender sobre como se comunicar com o consumidor brasileiro que, entre seus produtos favoritos, está a telenovela.



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