PORQUE OS CONTADORES DE HISTÓRIAS TÊM BOA MEMÓRIA E APRECIAM BONS VINHOS

https://www.storytellers.com.br/2012/10/porque-os-contadores-de-historias-tem.html
E se não existissem histórias? Esse recurso amplamente utilizado no storytelling pode ter servido de inspiração para a criação desse conto de origem africana. O autor não se sabe ao certo. O conto foi recolhido na tradição oral da África ocidental e está recheado de simbolismo e elementos mágicos. Não estamos falando de um sabre de luz, mas um elemento comum na região: um pássaro. Mas não é qualquer pássaro. Ele tem algo especial. Temos também uma bebida, que carrega forte simbolismo religioso. E no retorno com o elixir ainda ganhamos uma preciosa dica para colocarmos em prática com o storytelling que fazemos hoje.
Por isso sou apaixonada pelas histórias africanas.
Porque os contadores de histórias têm boa memória e apreciam bons vinhos
Os pássaros não podem escrever, eles têm penas demais.
Ora, conta-se na África ocidental que no início dos tempos
não havia histórias e também não havia sabedoria. O mundo era muito triste. Por
isso, o primeiro contador de histórias foi também o primeiro buscador de
histórias que saiu pelo mundo afora acompanhado de um pássaro-escrivão: o
marabu.
O marabu é o único pássaro que sabe qual das penas do seu
traseiro deve ser arrancada para que, com ela, se possa escrever, o que faz
dele um pássaro especial. É por isso que foi escolhido para sair pelo mundo,
pousado no ombro do primeiro buscador e contador de histórias.
Andaram pelo mato afora, pela savana e ao longo dos rios
para escutar os ventos, as pedras, as águas, ás árvores e os animais. E
encontraram muitas pessoas até então desconhecidas que iam lhes contando suas
histórias.
Munido da pena arrancada de seu traseiro e utilizando uma
tinta feita de água, pó de carvão e goma-arábica, o marabu-escrivão anotava
conscienciosamente todas as histórias que escutava. O buscador e contador de
histórias caminhava e pensava:
“Não me será possível recordar todas essas histórias.”
Mas o marabu continuava a ouvi-las e a escrevê-las.
Pois saibam que, uma vez tendo voltado para casa, o primeiro
buscador e contador de histórias obteve a solução para o problema que o
atormentava. Seguindo os conselhos do marabu, encheu de água uma grande cabaça
e nela mergulhou todas as histórias escritas. Durante a noite, naquela cabaça,
que na África é chamada de canari, as palavras escritas com tinta se
dissolveram na água. No dia seguinte, na refeição da manhã, o marabu mandou que
o buscador e contador de histórias bebesse todo o conteúdo do canari como
desjejum.
Assim, todas as histórias bebidas tornaram-se histórias
sabidas.
Se por acaso você precisar beber uma história, escute o meu
conselho: beba tudo. Não deixe nada no fundo do copo, porque isso poderia dar
um branco em sua memória.
Essa é a razão pela qual, em todos os tempos, os contadores
de histórias sempre foram, também, bons bebedores de vinhos.
Conto publicado no livro O Ofício do Contador de Histórias, de Gislayne Avelar Matos e Inno Sorsy