Como fazer Storytelling: O CURIOSO CAUSO DA INSEMINAÇÃO POR MOSCA


Até o dia em que ouvi o relato de uma inseminação realizada por uma mosca, jamais poderia imaginar tal coisa. E é bem provável que você também não. Por isso, quero começar esse artigo te contando esse causo.

Estávamos eu e meus colegas de turma, numa noite como outra qualquer, assistindo a uma aula de Psicopatologia, na faculdade. Já se passaram uns 5 anos desse dia para cá. Bom, preciso que guarde essa informação: 5 anos. 

O professor da disciplina era um sujeito célebre, de um vasto conhecimento. Uma verdadeira enciclopédia ambulante, nós dizíamos. Acontece que ele já era idoso e cubano. Calma, meus caros, esse não é um comentário xenofóbico e não há demérito algum na idade avançada e muito menos na nacionalidade do estimado professor. O problema é que, para alguns, havia dificuldade de prestar atenção por conta do portunhol e pelo ritmo desacelerado, natural devido ao avançar da idade.

Lá pelas tantas daquela aula, depois de explicar meia dúzia de conceitos, a nossa enciclopédia anunciou que contaria uma experiência vivida por ele in loco. Nesse momento, uma forte brisa entrou pelas janelas trazendo um novo brilho para o ambiente e fazendo com que magicamente o espírito da sala mudasse. 

Não seria exagero algum descrever esse instante assim, com essas palavras, acredite!

Se você estivesse lá veria que aqueles que estavam com os celulares nas redes sociais, jogando paciência, tetris ou qualquer sorte de outro jogo, escantearam seus aparelhos. Outros que estavam quase cochilando ou mais despojados nas cadeiras receberam no cérebro uma dose de dopamina e então se ajeitaram em seus assentos aguardando ansiosos para ouvir o causo. 

Não tinha mais portunhol ou ritmo desacelerado que atrapalhasse, todos nós queríamos ouvir a história do professor.

Ele então nos contou que há décadas, tinha trabalhado em um manicômio, na Espanha. Lá atendera dezenas de pacientes com as mais variadas psicopatologias. Mas, naquela noite, naquela aula, queria nos contar sobre a Arlete (o professor, óbvio, não nos disse o nome da paciente, portanto, eu a batizo no exato momento em que escrevo esse texto). 

Arlete era uma mulher de meia idade e mantinha um bom convívio com os profissionais de saúde e os outros pacientes. Mas nem sempre fora assim. No início da sua estadia lá no local, tinha um comportamento arredio, um tanto agressivo. Com o passar do tempo, com as medicações, o seu comportamento foi ficando ameno.

O professor nos contou que precisou conquistar a confiança dela para poder entender como era para a paciente a experiência de estar ali. Foi então que ficamos surpresos com o que ouvimos.

Arlete, depois de alguns encontros, depois de acreditar que o professor não era um espião da Rainha Elisabeth, do Reino Unido, resolveu contar o porquê de estar ali naquele manicômio. Porém, antes dessa revelação, ela levantou e, antes de fechar a porta, certificou-se, olhando para um lado e para o outro, de que não havia ninguém por perto para ouvir o que iria dizer. Em seguida, fez o mesmo debruçando-se no parapeito da janela. Por fim, debaixo da mesa constatou que não havia ninguém. Só então, voltou para a cadeira e pôs-se a contar o motivo de estar naquele lugar.

A corte britânica estava prestes a descobrir que ela havia engravidado do rei (referia-se ao príncipe Philip).

No entanto, continuou dizendo, contudo, que nunca havia se deitado com ele. O que tinha acontecido, na verdade, é que Arlete tivera a má sorte de estar no mesmo hotel em que o Philip e a rainha estavam, durante uma temporada de inverno. E a gravidez se deu após uma mosca ter transportado um espermatozoide do pênis do rei até as partes íntimas dela, isso claro, depois de o rei e a rainha terem gozado de uma noite regada a muito vinho e frio, se é que me entende. 

Arlete então justificou os seus picos de comportamentos agressivos pelo fato disso fazer com que ela permanecesse internada e, com isso, não ser descoberta pela corte real, o que colocaria a vida do seu bebê em risco.

Bom, a verdade é que ela não estava grávida e repetia essa história há anos, desde o início de seu internamento pelo fato de sofrer com a Esquizofrenia.

Mas, por que cargas d’água eu contei essa história para você? Não precisa se certificar se você foi redirecionado para um blog de psicologia, psiquiatria ou algo do tipo. Você continua no storrytellers, pode ficar tranquilo.

Pois bem, lembram que eu pedi que você guardasse que faz 5 anos que ouvi essa história? 5 anos e ela e os ensinamentos que surgiram a partir dela permanecem vívidos na minha memória  – eu contei apenas a história, mas intercalada a ela havia explicação de conceito. 

Devo confessar que eu sequer me lembro do que comi anteontem. Mas é curioso que eu me lembre dos aprendizados adquiridos no causo da Arlete. Isso se dá pelo fato de todo o ensinamento estar contido em um enredo envolvente e curioso. A história da paciente era muito boa, do ponto de vista do Story, e a narrativa do professor, envolvente, do ponto de vista do Telling. Encontro perfeito para a instrução de algo, para o ensino.

Contudo, me parece que intuitivamente o professor nos fez experimentar o poder do que eu chamo de “Storytelling de Estudo de Causo”.

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Postar um comentário

  1. Histórias do front de uma faculdade de Humanas, temos.
    Eu, da Letras, tinha uma professora de literatura tão boa, mas tão boa, que eu jamais faltei a uma aula dela. Um dia, escrevo sobre isso! ;)

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  2. Uau, Diego! fiquei grudada na sua história! Quando tiver mais histórias assim, quero lê-las! Sucesso!

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