O dia que eu encontrei uma “máquina do tempo”...


Devo dizer, logo de cara, que esse não se trata de um texto sobre ficção científica. Aos que curtiriam se assim o fosse, minhas sinceras desculpas! Mas, espere, não vá embora, tenho certeza que você me entenderá, pois acredito que já tenha encontrado também essa máquina.

Recordo-me agora do dia que estive diante dela de modo consciente, foi no início da minha graduação em Psicologia, há uns 8 anos. O interessante é que ninguém vai ao primeiro dia de aula preparado para esse encontro, ainda que ele seja bem previsível.

E lá estava eu, na aula de Introdução à Psicologia, a sala estava com as cadeiras organizadas em formato de U onde vários alunos permaneciam conversando, antes da aula começar – se você já esteve em algum curso de humanas sabe que há uma espécie de campo magnético que de cara facilita a interação entre os alunos. Àquela altura, antes mesmo da aula iniciar, muitos deles já tinham feito o encontro com a máquina do tempo. Eu não!

Costumo ficar quieto, observando, quando sou novo em algum lugar. Atitude que sempre me rendeu comentários do tipo: “Nem parece mais aquele cara sério de quando chegou!”;  “Nos enganou, chegou todo sério!”.

Mas, antes de contar como foi o meu encontro com a máquina do tempo, naquela aula, preciso revelar algo sobre ela. O fato de não ser possível ir para o futuro. Não se decepcione! A meu ver, poder visitar somente o passado não é tão mau assim. Afinal, a construção do futuro em muito depende de como olhamos e contamos o nosso passado.

Naquele dia, de repente silêncio. A professora acabara de entrar na sala. Ela, depois de fazer algum gracejo e se apresentar, nos deu a chave de acesso a máquina do tempo: “Agora vocês. Brevemente, pois são mais de 40, de um a um, diga-nos: QUEM SÃO VOCÊS?”. 

Essa é sempre uma pergunta impactante. Seja feita por nós mesmos ou vinda de terceiros. Estamos a todo momento nos apresentando, dizendo quem (ou o que) somos. Mas quando estamos diante de questionamentos assim é que muitas vezes paramos, entramos na máquina do tempo e escolhemos o capítulo da nossa narrativa do qual julgamos ser aquele que mais deixa claro nosso enredo. 

Depois de perceber a inquietação da turma, ela nos fez o favor de dar dicas do que poderíamos falar, quase que como o Cid Moreira, na chamada do Globo Repórter

“O bicho de psicologia. 'De onde vem?';'Pra onde vai?'; Seus principais hábitos e costumes. Tudo isso e muito mais, logo mais, à noite, no Globo Repórter.” 

Eu estava no meio do U e vi uns falando muito, outros pouco. Depois de algumas vozes estridentes e outras inaudíveis, tinha chegado a minha vez. 

“No meu sangue, corre o dendê da cidade baixa de Salvador, há 32 anos. Embora tenha sempre cultivado certa afeição por observar o cotidiano, só descobri que podia encontrá-lo na literatura, depois dos 18 anos, quando finalmente li o meu primeiro romance. Um encontro tardio, eu diria. O engraçado disso é que desde a mocidade arrisco-me nos versos e prosas. No final das contas, do princípio ao fim, tudo é história. E é nessa ótica que sempre enxerguei o mundo. Porém, antes intuitivamente, agora conscientemente”.

Essas são minhas palavras hoje. O que eu disse, na ocasião, já não me recordo mais. No entanto, foi meu interesse por histórias que me trouxe até aqui. 

Hoje, após apresentar o que eu pensava ser o meu primeiro artigo para o Storytellers, o Fernando me disse algo como: “Excelente, mas antes desse, você precisa escrever outro dizendo quem é você!”.

Pois bem, muito prazer, caro leitor do Storytellers! Sou Diego Teles e inicio aqui uma jornada aonde irei fazer novas experiências para o meu próximo encontro com a máquina do tempo.

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  1. Que texto, senhores!
    Uma das perguntas mais difíceis é essa: "quem é você?"
    Acho que a pergunta mais certa seria: "quem é você, hoje?"
    Somos um misto de experiências diárias, que se entralaçam para formar nosso "eu" completo. :)

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